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Identificação, diversidade e significado marcam abertura da Bienal 2025

A abertura aconteceu na sexta-feira (31) e foi marcada por falas fortes e pelo cortejo/desfile do Afoxé Odô Ya

03/11/2025
Identificação, diversidade e significado marcam abertura da Bienal 2025

O canto para Exu deu o pontapé da 11ª Bienal Internacional do Livro de Alagoas. Abrindo os caminhos para o início do evento, a saudação ao orixá da comunicação entre os seres humanos e os orixás marcou, na noite da sexta-feira (31), a abertura do maior evento literário, cultural, artístico e social do estado. Com o tema Brasil e África ligados culturalmente nos seus ritos e raízes, a iniciativa promovida pela Universidade Federal de Alagoas (Ufal) é a única no país com entrada gratuita.

Com a presença de lideranças religiosas de matriz africana, a Bienal celebra o início de uma jornada literária pautada pela quebra de preconceitos e a edição 2025 homenageia os países africanos de língua oficial portuguesa: Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique e São Tomé e Príncipe. 

O curador da Bienal e diretor da Editora da Universidade Federal de Alagoas (Edufal), Eraldo Ferraz, agradeceu aos parceiros que ajudaram a fazer mais uma Bienal e a todos os que estão trabalhando no evento. “Eu sou carnavalesco e a Bienal, para mim, é como uma escola de samba com várias alas. Cada ala tem um propósito e um grupo de colaboradores. Nesta noite, colocamos a escola de samba na avenida, com várias atividades, mesas-redondas, palestras, rodas de conversa, entrega do Prêmio Graciliano Ramos, título honorífico, oficinas, minicursos, encontros, seminários e, naturalmente, lançamentos de livros de autores alagoanos, estandes de venda e muito mais”, disse ele.

O deputado federal Paulo Fernando dos Santos, o Paulão, que viabilizou uma emenda para a realização desta edição da Bienal, ressaltou o simbolismo de celebrar o tema África em um evento literário de caráter internacional. “É um evento para pessoas de todas as idades, mas, principalmente, para os jovens, que terão a oportunidade de aprender com quem tem mais experiência. Contamos com a presença de Mãe Neide, Mãe Miriam e Pai Célio, mostrando que a cultura popular e a ancestralidade estão dialogando com a academia. Essa simbiose é fundamental para um processo histórico de reparação”, afirmou.

Celebração

O vice-governador de Alagoas, Ronaldo Lessa, destacou que o evento cresce e se fortalece a cada edição. “A glória do evento está na universidade e em todos que sabem e procuram cada vez mais buscar a esperança de poder se identificar. A Bienal é o momento em que o alagoano se coloca de todas as formas. Não é só pelo livro — está aqui a dança, a música e a arte. É a Bienal que faz a gente se encontrar, que faz a gente ser gente, ter honra do nosso passado e reconhecer nossos ancestrais. É necessário olhar para trás para que possamos fazer inclusão social", salientou.

O reitor Tonholo afirmou que esta Bienal é diferente e veio dar voz para todos: aos 400 pesquisadores de Alagoas que vão publicar livros durante o evento, aos estudantes de iniciação científica, acadêmicos e alunos do ensino fundamental e médio. “Essa Bienal também dá voz àqueles que não puderam se expressar 40 ou 50 anos atrás, na época da ditadura militar. Mais do que isso, é nessa Bienal que pedimos perdão à gente alagoana por termos nos calado naqueles momentos difíceis. Essa Bienal traz a voz da África, a voz daqueles que tiveram o orgulho quebrado lá atrás e que continuam sendo quebrados a cada dia no lombo de cada preto e de cada preta deste estado. É a Bienal da música, do livro, da arte, da cidadania, daqueles que vêm para ler, aprender, estudar, ter cultura e educação transformadora. Cidadania, liberdade e educação — educação transforma, e é isso que estamos fazendo na Bienal”, festejou.

Identificação, diversidade e significado marcam abertura

Os atabaques e as vozes cantaram alto, e as várias cores do público se misturaram ao branco do povo de axé que, junto com o Afoxé Odô Ya, cantaram para Exú, senhor da comunicação e da abertura de caminhos, em um grande cortejo para abrir de fato a 11ª Bienal Internacional do Livro de Alagoas.

Os populares se apertaram pelos corredores e escadas do Centro de Convenções, no bairro do Jaraguá, para prestigiar o cortejo de abertura e alguns deles literalmente entraram e seguiram por todo o caminho, fazendo um abre alas nesta que é uma das mais emblemáticas edições da Bienal. Quem não seguiu o cortejo não perdeu a oportunidade de fazer seu registro, pois o que também se viu foi um festival de celulares registrando cada passo do povo de axé.

Foi um desfile onde a diversidade esteve presente em sua essência, como conta a trancista e dreadmaker Analu, que adorou a abertura, “É muito importante uma abertura como essa, eu acho que é bem representativo, tá entendendo? Ver corpos iguais a gente mostrando o seu rolê e muito axé, tá sendo chique”, contou. 

Expositores também acompanharam atentos ao desfile que literalmente passou em suas portas. “A sensação que deu é que através da dança acessamos a liberdade, a alegria e que isso nos energiza. É como se lavasse tudo de ruim, todas as mazelas e tirasse todas as nossas preocupações e as coisas que nos fazem mal fossem varridas, fossem embora para além do cortejo. Para essa bienal, o sentimento que me traz é esse: força, energia, renovação e é de fato uma abertura de caminhos” destacou Lais de Oliveira, bibliotecária e funcionária do Arquivo Público do Estado de Alagoas.

Foi um encontro de gerações. De idosos a crianças de colo, dos experientes em bienais aos que vieram pela primeira vez, como a estudante Raissa Gomes que nunca tinha visto uma abertura de bienal. Ela contou que foi uma sensação maravilhosa quando começaram a tocar, sem contar que achou lindas as roupas, as músicas e a Bienal como um todo.

A jornalista e Iyawo do terreiro Axé Pratagy, Thauane Rodrigues contou o quão simbólica foi a abertura, e do orgulho por ter feito parte do cortejo. “Não tinha como ser de outra forma, foi muito simbólico, muito significativo. Abri a Bienal cantando para Exú em um espaço que fala sobre a educação, cantando para Exú que é o senhor da comunicação e o quanto é importante a gente levar as falas do povo de terreiro, do povo de Candomblé para fora, para o mundo, principalmente para dentro desses espaços educacionais, é muito importante” explicou Thauane.