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Julio Cézar defende ampliação do VLT, mas foi na sua gestão que a ferrovia foi destruída na zona urbana

Trechos da antiga linha férrea em Palmeira dos Índios foram interrompidos e pavimentados durante o mandato do próprio ex-prefeito, inviabilizando a circulação do VLT que agora ele diz querer levar até o município

Redação 20/10/2025
Julio Cézar defende ampliação do VLT, mas foi na sua gestão que a ferrovia foi destruída na zona urbana

O secretário estadual de Relações Federativas e Internacionais, Júlio Cezar, defendeu a ampliação do projeto do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) de Arapiraca, propondo que o sistema seja estendido até os municípios de Igaci e Palmeira dos Índios. Segundo ele, “a linha já está pronta, é só botar o trem pra andar”.

Mas a realidade é bem diferente do discurso — e o contraponto vem justamente dos fatos ocorridos durante sua própria gestão à frente da Prefeitura de Palmeira dos Índios (2017–2024), quando grandes trechos da antiga ferrovia foram destruídos e obstruídos por obras municipais à revelia da concessionária da ferrovia.

O PROJETO ORIGINAL


Atualmente, o Governo do Estado e o Ministério dos Transportes desenvolvem o projeto do VLT de Arapiraca, com 13 quilômetros de extensão, ligando a Estação João Paulo II ao campus da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). O investimento, de R$ 200 milhões, prevê a revitalização de 9 km da antiga linha férrea e a construção de 4 km de novos trilhos, integrando bairros, centros comerciais e polos educacionais da cidade.

Com capacidade para 400 passageiros e velocidade média de 40 km/h, o sistema é apontado como um marco de mobilidade urbana para o Agreste, com previsão de operação a partir de 2026.

O DISCURSO DE EXPANSÃO


De forma enfática, Júlio Cezar afirmou que a ampliação até Palmeira dos Índios seria uma “evolução natural do projeto”. Segundo ele, bastaria “botar o trem pra andar” para que o Agreste voltasse a ter um eixo ferroviário ativo, “a custo menor e com mais conforto para os usuários”.

O ex-prefeito destacou ainda que apelará ao ministro Renan Filho, ao governador Paulo Dantas e ao senador Renan Calheiros para viabilizar o prolongamento da linha até Palmeira.

O CONTRAPONTO: TRILHOS QUE VIRARAM CALÇAMENTO


Entretanto, o discurso do ex-prefeito esbarra em um fato incontestável: foi durante a sua própria gestão que a antiga linha férrea de Palmeira dos Índios foi destruída e interrompida em diversos pontos, sobretudo dentro da zona urbana.

Obras de pavimentação e urbanização realizadas entre 2018 e 2022, especialmente nas ruas paralelas à Avenida Vieira de Brito, bloquearam completamente o antigo leito ferroviário, cobrindo trilhos e estruturas históricas com calçamento e asfalto.

Na prática, a cidade perdeu trechos inteiros da antiga via férrea, que hoje se encontram irreversivelmente integrados ao sistema viário urbano, servindo de ruas e passagens. Em alguns trechos, foram erguidas muretas e canteiros sobre a área antes pertencente à ferrovia, impossibilitando qualquer reativação sem reconstruções completas.

PROMESSA POLÍTICA X REALIDADE TÉCNICA


Para técnicos em infraestrutura, a fala de Júlio Cezar soa como contraditória e politicamente conveniente, já que a linha não existe mais fisicamente em vários pontos e seria necessário refazer praticamente todo o traçado entre Palmeira e Igaci para permitir qualquer circulação de trem.

Moradores lembram que o próprio ex-prefeito, à época, autorizou as obras que “sepultaram” os trilhos, priorizando a urbanização viária. Agora, o mesmo gestor tenta resgatar o tema como bandeira política, falando em “linha pronta” e “evolução natural”, quando o que existe são ruas, calçadas e canteiros sobre o antigo percurso ferroviário.

A proposta de ampliar o VLT até Palmeira dos Índios pode soar moderna e integradora, mas ignora uma contradição gritante: a ferrovia que serviria de base para o projeto foi destruída durante a própria administração de quem hoje promete recuperá-la.

Entre o discurso de futuro e a destruição do passado, o que restou foi um traçado coberto por asfalto e história interrompida — símbolo de uma gestão que pavimentou os trilhos que agora tenta ressuscitar.