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Campanha no HU promoveu sensibilização sobre o HTLV, alertando sobre sintomas e importância do diagnóstico precoce

02/12/2022
Campanha no HU promoveu sensibilização sobre o HTLV, alertando sobre sintomas e importância do diagnóstico precoce

Pouco conhecido pela população e por profissionais de saúde, o Vírus Linfotrópico de células T Humano (HTLV) foi tema de uma campanha de sensibilização ao público ocorrida na terça-feira (29), promovida pela equipe de serviço social, residência multiprofissional, estagiários de enfermagem e a unidade de doenças infectocontagiosas do Hospital Dia (HD), serviço do Hospital Universitário Professor Alberto Antunes (HUPAA).

Na ação, foram distribuídos materiais educativos e o repasse de orientações sobre formas de transmissão cujo objetivo, além de fazer com que os usuários busquem diagnóstico e tratamento, é o de tornar pública a informação de que o HU é uma das referências no Estado em relação ao atendimento às pessoas com HTLV. “É uma forma de dar visibilidade à prevenção dentro do hospital para os usuários e profissionais de uma forma geral”, explica a Assistente Social do HD-HU, Ana Márcia Agra.
O HTLV é uma doença silenciosa, com 90% dos portadores assintomáticos, porém transmissores. A maior forma de contágio ocorre na transmissão vertical, que acontece da mãe para a criança, através da amamentação. “É importante que o cuidado venha desde o pré-natal, que a mãe faça o exame de sangue para identificar a presença do vírus”, esclarece Ana Márcia. No caso de haver alguém na família que diagnosticou a doença, é necessária a investigação para identificar se houve a transmissão vertical. O HU dá assistência às mães que tiveram filhos diagnosticados com HTLV, fornecendo a fórmula láctea, via Ministério da Saúde, em virtude da impossibilidade de amamentação.
Em geral, entre os sintomas estão problemas neurológicos, no trato urinário, dificuldades de mobilidade, de movimentação e dores no corpo. O HTLV age no sangue, se espalhando e podendo atingir vários órgãos. A característica das complicações é ter um componente inflamatório em reação ao vírus. No sangue, ele estimula a produção de células de defesa (linfócitos T), ao contrário do HIV, que as diminui. Em alguns indivíduos pré-dispostos, há uma replicação descontrolada, gerando uma espécie de leucemia, diferente das modalidades conhecidas, chamada de leucemia do HTLV, que também possui tratamento. Existem ainda quadros semelhantes à artrite reumatoide, dermatite infectiva (característica de crianças com vírus, tratada com antibióticos graças ao diagnóstico correto). “Outra complicação, mais rara, é uma inflamação ocular, a uveíte, que, se diagnosticada a tempo, pode ser tratada com colírio simples com corticoides, vendido em farmácias”, explica o infectologista do HU e coordenador do grupo de pesquisa em HTLV do Hospital Universitário, com PhD em Medicina Tropical e Saúde Internacional pela Universidade de São Paulo (USP), Arthur Paiva.
As complicações de maior impacto e que aparecem com maior frequência são a mielopatia: pessoas geneticamente pré-dispostas a apresentarem problemas e, quando têm infecção pelo vírus, este reage com muita intensidade, gerando um ambiente inflamatório que termina repercutindo/refletindo na medula óssea, e, com o passar do tempo, gera dificuldades ao caminhar. Aproximadamente 250 pessoas com HTLV são acompanhadas pelo HU. Com Mielopatia, 58 pacientes.
Apesar de não haver medicação para controle do vírus, é o próprio sistema de defesa que controla ao longo da vida. Todas as complicações têm tratamento e prevenção, principalmente se evitada amamentação. Em até 3 ou 5 anos de iniciado o tratamento, os resultados costumam ser mais proveitosos. “O problema é que, como é uma doença que costuma ser negligenciada, com pouca informação, muitas vezes passa despercebida. A suspeita pode ser feita em um exame clínico, uma consulta”, esclarece Arthur Paiva.
O infectologista cita pesquisa feita no Instituto Emílio Ribas, em São Paulo, que mostram que a média entre a apresentação início dos sintomas da mielopatia e a procura, pelo usuário, de um profissional, até o diagnóstico de HTLV e a sorologia, é de 7 anos. O mesmo levantamento foi feito no Hospital Sara Kubitschek, em Brasília, e a média foi de 11 anos. “Muitas vezes já recebemos o paciente na cadeira de rodas, quando esse quadro poderia ter sido evitado com o diagnóstico precoce”, argumenta.
O Brasil é um país chave em termos de prevalência do HTLV. Atualmente, é onde há o maior número absoluto de pessoas convivendo com o vírus. Estima-se que haja entre 1 e 3 milhões, mais do que o HIV (menos de 1 milhão), tuberculose, hanseníase e outras doenças mais conhecidas pelo público. Dentro do país, a maior prevalência é no Nordeste, seguido do Norte. “Ela vai diminuindo à medida que se caminha para o Sul, embora todos os Estados do Brasil apresentem o HTLV”, acrescenta Arthur Paiva.
DIFERENÇAS
O HTLV se difere do vírus da imunodeficiência humana (HIV), causador da aids, por ter um alto percentual de pessoas assintomáticas, mais de 50%, vivendo sem complicações. O próprio sistema imunológico controla o vírus dentro dos indivíduos, porque o HTLV existe desde o homem primitivo, estando historicamente adaptado aos seres humanos.
Outra característica do HTLV é que sua eficiência não é tão alta quanto a do HIV, sífilis ou hepatite B na transmissão por via sexual, por estar dentro do linfócito (células de defesa do organismo).
Apesar de silencioso, o HTLV é preocupante por ser o vírus mais carcinogênico (ou oncogênico, produtor de câncer) dentre todos os que infectam humanos, mais do que o Papilomavírus Humano (HPV). Suas complicações, principalmente a leucemia e mielopatia, representam grande impacto na saúde pública, por ser um desencadeador de patologias em organismos pré-dispostos. Cerca de 1 a 4% podem ter mielopatia, 1% leucemia ou linfoma, através do HTLV. “Não é um percentual pequeno, considerando a quantidade de pessoas do país e que muitas vezes o diagnóstico da mielopatia não é feito precocemente”, alerta Arthur Paiva.
GRUPO DE PESQUISA
Instituído em 2019, o grupo de pesquisa sobre o HTLV Hospital Universitário Professor Alberto Antunes torna o HU um dos poucos centros de pesquisa com um grupo específico sobre o tema. São 10 pesquisadores de diversas áreas, em sua maioria de professores com doutorado. Há docentes da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) e da Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas (UNCISAL). Os pesquisadores produzem publicações e participam de projetos em andamento, alguns em parceria com instituições de outros Estados, como o Instituto de Medicina Tropical de São Paulo.
SERVIÇO
Para agendar uma consulta no Hospital Dia para início do tratamento do HTLV, é necessário que o interessado traga resultados de exame de sangue para doença. Havendo a confirmação, o usuário começa o acompanhamento com a equipe multiprofissional. O horário de funcionamento é das 7h às 19h, de segunda à sexta-feira e a marcação do atendimento também pode ser feita no próprio ambulatório de HTLV do HU.