Finanças

Caso Banco Master chega ao STF após citação de deputado; PF garante continuidade da apuração

Investigação foi enviada ao Supremo após nome de parlamentar com foro privilegiado aparecer em documento apreendido

Agência O Globo - 15/12/2025
Caso Banco Master chega ao STF após citação de deputado; PF garante continuidade da apuração
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A investigação sobre supostas irregularidades no Banco Master, atribuídas ao banqueiro Daniel Vorcaro, foi encaminhada ao Supremo Tribunal Federal (STF) depois que a Polícia Federal encontrou o nome do deputado federal José Carlos Bacelar Filho (PL-BA) em um documento apreendido. O foro privilegiado do parlamentar exige que o caso seja analisado pelo STF. Segundo o diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, a transferência não prejudicou o andamento do inquérito.

"Não houve nenhum prejuízo na investigação, porque foi um lapso temporal curtíssimo e agora já devidamente autorizado pelo foro competente. As investigações prosseguem, com análise do material apreendido e todas as demais providências necessárias", afirmou Andrei em conversa com jornalistas.

O diretor-geral acrescentou que a PF adota cautela em todas as investigações para evitar nulidades. "Ao menor indício de investigado com prerrogativa de foro, suspendemos as investigações e remetemos ao foro competente. Neste caso, o achado pode indicar essa prerrogativa. A partir de agora, todas as ações relacionadas ao caso devem passar pelo Supremo", completou.

Na última semana, o ministro do STF Dias Toffoli determinou que apenas ele pode autorizar novas medidas no âmbito do inquérito, como buscas, apreensões e quebras de sigilo, além de impor sigilo máximo ao caso. A decisão foi motivada pela citação de ao menos um deputado federal em documento apreendido pela PF.

O documento em questão mencionava o deputado Bacelar e estava relacionado a um "empreendimento imobiliário".

O que diz o deputado

Procurado pela reportagem, Bacelar afirmou que atuou na constituição de um fundo para construir um empreendimento imobiliário em Porto Seguro (BA), e que Vorcaro demonstrou interesse no negócio. Segundo o deputado, documentos chegaram a ser enviados ao banqueiro, mas o negócio não foi concretizado.

"Estive várias vezes com ele sobre esse assunto. Ele é meu amigo e disse que tinha interesse. Mas o negócio não se concretizou, porque ele afirmou que estava tentando salvar o banco e essa era a prioridade no momento", relatou Bacelar.

O documento foi citado pela defesa de um diretor do Banco Master para justificar a transferência do caso da Justiça Federal do Distrito Federal ao STF, pedido acatado pelo ministro Toffoli.

Investigações sobre emendas

Andrei Rodrigues também comentou, nesta segunda-feira, as operações sobre suposto desvio de recursos de emendas parlamentares, que envolvem políticos com foro privilegiado.

"A atividade política não pode ser responsabilizada nem criminalizada, mas aqueles que desviarem recursos serão responsabilizados judicialmente, sem caça às bruxas ou criminalização da política, mas com responsabilidade", afirmou o diretor-geral.

Na última sexta-feira, a PF deflagrou a operação "Transparência", que investiga possíveis irregularidades na distribuição de emendas do chamado "Orçamento Secreto". Uma ex-assessora do ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL) foi alvo de mandados de busca e apreensão, mas Lira não foi alvo da ação.

Segundo Andrei, essas investigações tiveram início a partir de denúncias feitas por parlamentares. Quatro deputados e um senador relataram à PF suspeitas de direcionamento e execução irregular de emendas de relator.

O diretor-geral ressaltou que mantém um "diálogo aberto e franco" com as lideranças do Congresso Nacional, mesmo diante das operações envolvendo emendas.

"Não tenho qualquer preocupação quanto ao diálogo com o mundo político, pois tenho convicção e certeza do trabalho correto da Polícia Federal", declarou, acrescentando considerar "natural" a pressão de integrantes do Parlamento.

"Isso faz parte do jogo e quem não aguentar a pressão não deve entrar", concluiu Andrei.