Finanças

Tarifaço e sanções dominam agenda entre Brasil e EUA, mas Venezuela pode entrar em pauta

Ministros dos dois países continuarão negociações por determinação de Lula e Trump

Agência O Globo - 31/10/2025
Tarifaço e sanções dominam agenda entre Brasil e EUA, mas Venezuela pode entrar em pauta

O fim do tarifaço e das sanções econômicas contra cidadãos brasileiros são prioridades na próxima reunião de alto nível entre Brasil e Estados Unidos, em Washington. No entanto, auxiliares do presidente Luiz Inácio Lula da Silva avaliam que a situação da Venezuela deverá ser incluída na pauta. Mesmo não sendo o foco principal, o tema é considerado inevitável diante das recentes movimentações militares americanas na região e do interesse do governo brasileiro em evitar qualquer escalada de tensões na América do Sul.

Na reunião entre Lula e o presidente Donald Trump, realizada na semana passada, na Malásia, a crise venezuelana foi tema relevante. Lula defendeu a manutenção da América do Sul como zona de paz e reiterou o compromisso do Brasil com uma saída político-diplomática. O presidente brasileiro colocou-se à disposição como mediador e reforçou que o país já possui posição clara sobre a questão.

Ainda sem data e horário definidos, uma missão composta pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, o chanceler Mauro Vieira e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, viajará aos Estados Unidos para dar prosseguimento às negociações. O objetivo central é eliminar a sobretaxa de 40% imposta pela Casa Branca — que se soma aos 10% aplicados a todos os países — e pôr fim às sanções em vigor, cujo principal alvo é o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes.

Durante a discussão sobre a Venezuela, Trump solicitou ao secretário de Estado, Marco Rubio, que se manifestasse. Segundo relatos, Rubio reiterou a posição tradicional de Washington, acusando o regime de Nicolás Maduro de libertar presos para enviá-los aos Estados Unidos e de facilitar o tráfico de drogas com o objetivo de "matar a população americana". A delegação brasileira reconheceu a legitimidade da preocupação, mas alertou para o risco de desestabilização que uma ação militar poderia provocar.

O governo brasileiro argumenta que não há justificativa para vincular o combate ao crime organizado no Brasil à estratégia americana na Venezuela. Destaca, ainda, a atuação ativa e independente do país nessa área, citando como exemplo o centro de combate ao crime transnacional inaugurado em Manaus, que reúne oito países amazônicos.

Lula teria alertado Trump de que uma intervenção desastrosa na Venezuela poderia impactar diretamente países vizinhos, como Brasil e Colômbia, além de territórios europeus próximos — Aruba, Curaçao e a Guiana Francesa, entre outras ilhas. O temor do governo brasileiro não é de um ataque direto, mas de novas ondas migratórias. O Brasil já recebeu cerca de 700 mil venezuelanos, muitos deles integrados por meio da Operação Acolhida.

Integrantes do governo avaliam que, embora exista a possibilidade de uma intervenção militar americana na Venezuela, a operação teria foco interno, voltado à política doméstica dos Estados Unidos, e não à mudança de regime. Alguns interlocutores não acreditam que, se ocorrer, será uma ação em grande escala, considerando as resistências internas no próprio país. O discurso do combate às drogas, segundo essa análise, serviria para "envelopar" o tema e ampliar o apoio interno.

Lula já havia alertado, em discurso na Assembleia-Geral da ONU, sobre os riscos de uma intervenção desastrosa na Venezuela, com efeitos diretos sobre países vizinhos, como Brasil e Colômbia, e territórios europeus próximos. O temor brasileiro segue sendo o aumento das ondas migratórias, já que o país acolheu cerca de 700 mil venezuelanos, muitos deles integrados pela Operação Acolhida.