Finanças

Morte de Odete Roitman acende alerta: como organizar o patrimônio e garantir a segurança financeira da família

Testamentos, doações, seguros de vida e planos de previdência fazem com que vontade de quem parte seja respeitada. Assim, reduz-se a possibilidade de disputa entre herdeiros

Agência O Globo - 16/10/2025
Morte de Odete Roitman acende alerta: como organizar o patrimônio e garantir a segurança financeira da família

Enquanto o mistério sobre a morte de Odete Roitman em "Vale tudo" continua no ar, cresce no mundo real o interesse por uma questão que a vilã sempre teve sob controle: o destino do próprio patrimônio. Para além da ficção, organizar a sucessão e garantir a segurança financeira da família tem se tornado uma preocupação cada vez mais presente entre os brasileiros.

Segundo o advogado Bruno Batista, sócio das áreas Cível e Societária do escritório Innocenti Advogados, pensar no futuro dos bens não deve ser algo reservado ao fim da vida, mas um gesto de cuidado em vida.

— Planejar é um ato de gestão e de cuidado intergeracional — explica ele, acrescentado: — Evita decisões impulsivas no luto, reduz o risco de brigas entre herdeiros e garante que a vontade de quem parte seja respeitada.

Embora o tema ainda pareça distante para muitos, o planejamento sucessório não é exclusividade de grandes fortunas. Bruno destaca que, independentemente da classe social, a falta de organização pode sair caro:

— Os custos do inventário e a tributação podem consumir uma parte considerável do patrimônio, especialmente quando há imóveis ou ativos sem liquidez. Ter um plano sucessório ajuda a preservar o que foi construído e a tornar a partilha mais eficiente.

Testamentos e doações

A tabeliã Fernanda Leitão, do 15º Ofício de Notas do Rio, explica que testamentos e doações com cláusulas protetivas estão entre as ferramentas mais procuradas.

— O testamento é uma maneira segura de deixar registrada a vontade do titular sobre a partilha dos bens, evitando disputas entre herdeiros — afirma a tabeliã: — Já a doação com reserva de usufruto permite transferir o patrimônio aos filhos ainda em vida, mantendo o direito de uso e renda dos bens.

Esses mecanismos podem incluir cláusulas de incomunicabilidade (para impedir que o bem se comunique com o cônjuge), impenhorabilidade (para evitar que seja usado no pagamento de dívidas) e inalienabilidade (que impede a venda sem autorização). Fernanda diz que a procura por esses instrumentos cresceu após a pandemia, com famílias mais atentas à importância do planejamento antecipado.

— O ideal é iniciar esse processo desde o começo da vida patrimonial, especialmente antes do casamento ou da constituição de uma empresa — recomenda: — Quanto antes for feito, melhor.

Seguros e planos de previdência

Nos últimos anos, o uso de seguros de vida e planos de previdência privada também tem crescido como formas de complementar esse planejamento. Uma pesquisa da FenaPrevi mostra que 39% dos brasileiros já têm algum tipo de previdência ou seguro de vida.

Para Luciana Bastos, diretora de Produtos de Vida da Icatu Seguros, esses instrumentos são formas práticas e eficientes de eliminar incertezas sobre o futuro financeiro da família.

— Essas ferramentas trazem previsibilidade para um momento de incerteza — afirma a especialista: — Diferente do inventário, que pode ser demorado e burocrático, o seguro de vida é simples: basta indicar o beneficiário.

Segundo ela, o seguro de vida e a previdência se complementam, mas funcionam de maneiras diferentes.

— O seguro de vida é uma alavanca: se você contratou hoje e morrer amanhã, o beneficiário recebe o valor integral rapidamente. Já a previdência é um acúmulo gradual, feito ao longo da vida. Ambas ajudam na sucessão, porque não passam por inventário nem têm tributação como herança.

Produto acessível

Luciana ressalta que o produto é acessível e deixou de ser exclusivo de grandes fortunas:

— Assim como a Odete, é comum pensar em valores altos. Mas hoje há opções digitais e personalizadas, que cabem no orçamento. O importante é pensar no seguro como um cuidado com quem fica.

Mas, mesmo com regras mais simples, erros na contratação ainda são comuns. Segundo Lucimara Santos, gerente comercial nacional de Vida da Porto Seguro, é preciso atenção às coberturas e aos beneficiários.

— Um dos erros mais frequentes é contratar só a cobertura por morte acidental, sem incluir causas naturais — explica Lucimara: — Também é essencial deixar claro desde o início quem deve receber o valor.

Ela lembra ainda que, por ser um compromisso de longo prazo, é fundamental verificar a solidez da empresa contratada.

— O seguro de vida é algo que pode durar 10, 20 anos. É importante ter confiança de que a instituição vai honrar o compromisso, porque, quando chegar o momento, você não estará mais aqui para cobrar — afirma.

Ela acrescenta que o seguro também evoluiu com o tempo.

— Hoje existe o seguro em vida, com coberturas que podem ser acionadas pelo próprio titular em casos de doenças graves. É uma forma de ampliar a proteção e garantir segurança financeira ainda em vida.