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Apagão: o que sabemos até agora sobre o incêndio em subestação no PR que causou corte de energia

Todos os estados do país e o Distrito Federal foram afetados. Governo diz que falha 'foi pontual'

Agência O Globo - 15/10/2025
Apagão: o que sabemos até agora sobre o incêndio em subestação no PR que causou corte de energia

Um incêndio em reator que faz parte de um sistema de transmissão da subestação de Bateias, no município de Campo Largo (PR), nos primeiros minutos de ontem, causou o segundo maior apagão do mandato do presidente Luiz Inácio da Silva. A falha provocou a falta de que A Agência Nacional Nacional de Elétrica () mandou técnicos para investigarem o problema e o (MME) falou em

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Crítica:

O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) explicou em nota que o incêndio ocorreu à 0h32, em um circuito de linha de transmissão operada pela Eletrobras, provocando desligamento parcial da subestação. Com isso, houve a desconexão da interligação entre as regiões Sul e Sudeste/Centro-Oeste.

No total, foram cortados 9,7 gigawatts (GW) de em todo o país, o equivalente a cerca de 12% de tudo que era consumido naquele momento. São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Paraná foram os estados mais atingidos.

Até 2h para normalizar

A subestação funciona numa área da Copel, mas tem mais de um pátio com proprietários diferentes. A empresa disse que o Corpo de Bombeiros do Paraná controlou o incêndio. Já a Eletrobras informou que o incidente será apurado pelo ONS e que trabalha em colaboração com a autoridade para identificar as causas.

A estrutura é um ponto estratégico na conexão do Sistema Interligado Nacional (SIN). Em razão dessa posição, o corte separou o Sul do restante do país. Naquele momento, a região exportava para outras partes e, com a desconexão, o restante do sistema deixou de receber a eletricidade da Região Sul e da Hidrelétrica de Itaipu, causando um desequilíbrio entre a demanda e a oferta de .

Diante desse quadro, foi acionado o Esquema Regional de Alívio de Carga (Erac), um sistema automático de proteção. O Erac funciona como um freio de emergência: ele corta parte da demanda de de forma controlada e temporária, permitindo que o equilíbrio entre geração e consumo seja restabelecido. É uma forma de evitar interrupções de maiores proporções.

Saiba mais:

A recomposição das cargas foi conduzida de forma controlada. Segundo o MME, em menos de uma hora, o fornecimento nas regiões Norte, Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste foi restabelecido, alcançando mais de 90% do sistema. A Região Sul, onde se originou a interrupção, teve normalização total por volta de 2h.

O ministério procurou demonstrar que não ocorreu falta de , mas uma “falha técnica pontual em equipamento da subestação, havendo abundância de geração energética no período”. A conclusão veio após uma reunião de emergência com os órgãos do setor elétrico. Não houve entrevista à imprensa, como é praxe nesses eventos.

‘Não foi falta de ’

Em nota, o ministro disse que “o sistema elétrico respondeu corretamente, dentro dos protocolos previstos, e as interrupções foram rapidamente sanadas”. O ministro foi ao Palácio do Planalto se reunir com o presidente para tratar do tema.

Mais cedo, Silveira disse:

— Não foi falta de , é um problema na infraestrutura que transmite a . Não houve grandes danos ao sistema. Foi falha pontual.

Segundo o ONS, a ocorrência foi um “fato isolado, com ágil resposta do time técnico do Operador, e causada por um problema externo”.

AAlém disso, serão instaurados processos de fiscalização para apurar responsabilidades.

Silveira:

O ONS deve concluir o . O documento fará uma análise detalhada do ocorrido. Uma questão fundamental de se entender é por que um problema considerado simples (já que o incêndio foi localizado) teve consequências generalizadas, não sendo contidas pelos equipamentos.

O especialista em elétrica Julio Cintra avalia que o episódio deixa a leitura de que o governo vem subestimando impactos do problema do setor elétrico, que inclui a falta de manutenção e de investimento para reforçar infraestruturas em caso de problemas:

— A resposta deveria ter sido imediata. Isso causa insegurança e mostra que a comunicação precisa ser coordenada. O apagão revelou a vulnerabilidade do sistema.

O professor de Engenharia Elétrica da Universidade de Brasília e ex-superintendente da , Ivan Camargo ressalta que ocorrências como incêndios em reatores são comuns. Segundo ele, alguma falha maior do que a que foi apontada causou o efeito dominó no sistema elétrico:

— Tivemos um incêndio em um reator, esses incêndios, ou eliminação de reatores em subestações, ocorrem com frequência, e não acontece nada. Dessa vez, aconteceu, com certeza, mais alguma coisa, que a gente ainda não sabe.

Santos Dumont sem luz

A diretora do Instituto Ilumina, Clarice Ferraz, destacou que é preciso melhorar a organização do setor elétrico, reintroduzir o planejamento e investir em instrumentos para aprimorar a fiscalização:

— Tem que haver manutenção adequada e mão de obra especializada e qualificada. Está muito claro que a frequência dos apagões é cada vez maior.

O apagão teve consequências pelo país. Ele . A falta de impactou a operação da estação elevatória Santa Inês, que bombeia água do sistema Cantareira para a estação de tratamento. A Enel informou que a interrupção de só durou 8 minutos, sendo recuperada à 0h40 para os cerca de 1 milhão de clientes afetados.

O Aeroporto Santos Dumont, no Rio, ficou completamente às escuras. Em imagens que circularam nas redes sociais, foi possível ver as luzes do terminal se apagando de forma repentina, deixando o saguão e a pista tomados pela escuridão. O apagão afetou 730 mil clientes considerando as áreas de Light e Enel.

A Enel Ceará calcula que quase 1 milhão de clientes foram afetados. Já no Distrito Federal, a falta de luz chegou a 35% dos clientes.

Colaboraram Mayra Castro, Roberto Malfacini, Filipe Vidon e Nathan Martins*

*Estagiário sob supervisão de Janaina Lage