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Conheça Maria Clara Pacheco, atleta que fez do fracasso em Paris-2024 seu trampolim para o título mundial no taekwondo

Paulista de 22 anos reformulou toda sua preparação após derrota na Olimpíada e conquistou os oito torneios que disputou em 2025

Agência O Globo - 25/10/2025
Conheça Maria Clara Pacheco, atleta que fez do fracasso em Paris-2024 seu trampolim para o título mundial no taekwondo
Maria Clara Pacheco - Foto: Reprodução / Instagram

Foi a consagração de um ano vitorioso, que já contabilizava sete títulos em sete competições disputadas. A brasileira Maria Clara Pacheco confirmou o favoritismo e subiu ao lugar mais alto do pódio no Campeonato Mundial de Taekwondo ontem, em Wuxi, na China, ao derrotar a campeã olímpica Yu-Jin Kim, da Coreia do Sul, na final da categoria -57kg. A vitória levou o país de volta ao topo da modalidade exatas duas décadas depois do ouro inédito de Natália Falavigna

— É uma emoção que não consigo explicar, a primeira vez ganhando um título tão importante, que era o meu objetivo de 2025. Estou muito feliz e queria agradecer a todos que estavam na torcida — comemorou a lutadora paulista de 22 anos.

Líder dos rankings mundial e olímpico, Maria Clara chegou ao torneio como principal cabeça de chave em sua categoria. Ao longo da disputa, mostrou por quê: só perdeu um round nos 11 disputados, nas oitavas de final, quando bateu a espanhola Laura Rodríguez Marquina de virada por 2 a 1. Nas outras quatro lutas, entre a noite de quinta-feira e a manhã de ontem, incluindo a semifinal com a então detentora do título, a chinesa Luo Zongshi, venceu por 2 a 0.

— Ela deu um salto de performance incrível — elogiou Falavigna, hoje gestora esportiva do Comitê Olímpico do Brasil (COB), que acompanha o Mundial na China: — Foi um ano muito bom, em que ela ganhou tudo que disputou. Vê-la entregar um nível de performance como o de hoje (ontem), muito acima das demais, é gratificante. Maria é uma atleta excepcional, com potencial imenso.

Derrota virou trampolim

Fenômeno da modalidade, Maria Clara começou a lutar profissionalmente há apenas dois anos. Logo na estreia, no Mundial de 2023, mostrou a que veio: levou o bronze. O ótimo resultado criou muita expectativa sobre seu desempenho na Olimpíada de Paris, no ano seguinte, mas a esperança de pódio acabou frustrada por uma derrota nas quartas de final.

A decepção que poderia ter se transformado em grande obstáculo a sua promissora carreira acabou virando trampolim. Foi o ponto de virada que a fez chegar ao título mundial. Em entrevista ao GLOBO, a lutadora contou que mudou sua preparação mental e os métodos de treinos após o banho de água fria olímpico:

— Fiz muitas mudanças. De estrutura, foi total. Troquei equipe, treinador e, principalmente, preparador físico. Estou treinando com outras pessoas. Comecei a fazer um trabalho tanto físico quanto técnico e tático, totalmente diferente, mais adaptado, mais voltado para mim, para as minhas necessidades.

Altura não é documento

Uma dessas necessidades de Maria Clara era aprender a driblar sua desvantagem na altura — ela mede 1,69m.

— A partir das quartas de final dos torneios, é certeza que vem uma menina bem grandona, com mais de 1,80m. Antes eu tinha muita dificuldade. Isso foi uma coisa a que consegui me adaptar melhor. A chinesa que me derrotou na Olimpíada (Luo Zongshi) é muito mais alta que eu (tem 1,83m), e consegui pontuar muito pouco daquela vez. Quatro meses depois, lutei com ela de novo e consegui ganhar por mais de 12 pontos de diferença. Foi ali que vi uma evolução muito grande na estratégia — afirmou a brasileira, que voltou a vencer Zongshi na semifinal de ontem.

O resultado da reviravolta nos treinamentos veio rápido: o Mundial foi o oitavo torneio disputado este ano e lhe rendeu o oitavo ouro de 2025, com destaque também para os dois Grand Prix (Estados Unidos e China) que a levaram à liderança dos rankings.

Se no início da carreira esportiva Maria Clara dependia dos bingos e rifas que sua mãe organizava para arcar com os custos das viagens e competições, agora dona Vilma tem a opção de descansar, mesmo que não queira muito.

— Não preciso mais da ajuda dela, inclusive hoje ela não trabalha. Mas pretende voltar, não aguenta ficar em casa. Agora tenho dois patrocínios, além do apoio da Marinha do Brasil, que paga meu salário. Tenho também o Bolsa-Pódio, pelo Ministério do Esporte, mas ainda estou em busca de outras coisas que possam me dar uma segurança financeira maior para continuar no esporte. Estudo Ciências Contábeis, mas não consigo me dedicar tanto à faculdade como ao taekwondo — explica a atleta.

Seleção em ação na China

Outro brasileiro em ação na China no primeiro dia do campeonato, Pedro Arthur Alves (categoria +87kg) caiu na segunda luta, derrotado pelo indiano Shiva Singh por 2 a 0. Hoje, a partir das 22h (de Brasília), mais três atletas do país brigam por um lugar no pódio: Thaisa Batista (-73kg), Matheus Gilliard (-54kg) e Ícaro Miguel (-73kg) — este último busca sua segunda medalha, após a prata em 2019, em Manchester.

No total, o Brasil levou 16 representantes ao Mundial, que vai até quinta-feira. No dia 6 de novembro, seis deles — incluindo Maria Clara Pacheco — começam a disputa pelo título por equipes.

Confira cronograma dos brasileiros

De 25/10 para 26/10

Masculino, Até 54kg: Matheus Gilliard Gonçalves (RJ)

Masculino, Até 87kg: Ícaro Miguel Martins Soares (MG)

Feminino, Até 73kg: Thaisa Batista Silva (RJ)

Horários:

22h às 3h - preliminares

4h às 6h - oitavas e quartas

6h30 às 9h - semis e finais

De 26/10 para 27/10

Masculino, Até 80 kg: Henrique Marques Rodrigues Fernandes (RJ)

Feminino, Até 46 kg: Julia Silva Nazário (SC)

Feminino, Acima de 73kg: Raiany Fidelis Pereira (MG)

Horários (de Brasília):

22h às 3h - preliminares

4h às 6h - oitavas e quartas

6h30 às 9h - semis e finais

De 27/10 para 28/10

Masculino, Até 68kg: João Victor Souza Diniz (SC)

Feminino, Até 67kg: Milena Titoneli Guimarães (RJ)

Horários:

22h às 3h - preliminares

4h às 6h - oitavas e quartas

6h30 às 8h30 - semis e finais

De 28/10 para 29/10

Masculino, Até 58kg: Paulo Ricardo Souza de Melo (RJ)

Feminino, Até 62kg: Celydiene Kristina Carneiro (SP)

Horários:

22h às 3h - preliminares

4h às 6h - oitavas e quartas

6h30 às 8h30 - semis e finais

De 29/10 para 30/10:​

Masculino, Até 74kg: Edival Marques Quirino Pontes (PB)

Feminino, Até 53 kg: Nívea Maria Barros da Silva (RN)

Horários:

22h às 2h - preliminares

4h às 5h30 - oitavas e quartas

6h30 às 8h30 - semis e finais