Esportes
Nº 1 do ranking, brasileira chega ao Mundial de Taekwondo como favorita: 'sou a adversária mais estudada'
Aos 22 anos, Maria Clara Pacheco inicia busca pelo título inédito na noite desta quinta-feira, na China, após ter vencido todos os campeonatos que disputou em 2025
Logo em sua estreia como atleta profissional, no Mundial de Taekwondo de 2023, a brasileira Maria Claria Pacheco mostrou a que veio: foi medalha de bronze na categoria 57kg. O ótimo resultado criou muita expectativa sobre seu desempenho na Olimpíada de Paris, na temporada seguinte, mas a esperança de pódio acabou frustrada por um sétimo lugar. A decepção que poderia ter se transformado em grande obstáculo a sua promissora carreira acabou virando trampolim. Foi o ponto de virada que a fez chegar a 2025, um ano depois, como favorita ao Mundial de Wuxi, na China, que começa nesta quinta-feira. Ela inicia sua busca pelo título inédito às 22h de Brasília, com transmissão da World Taekwondo Championships , contra a vencedora de Leonor Correia (Portugal) x Youen Ting So (Hong Kong).
Em entrevista ao GLOBO, Maria Clara conta como mudou sua preparação mental e os métodos de treinos para vencer as oito competições de que participou este ano. A campanha arrasadora a levou a se tornar a primeira brasileira número 1 dos rankings mundial e olímpico da modalidade desde Nathalia Falavignia, em 2008.
Como foi lidar com a frustração das Olimpíadas, e quais mudanças você julga essenciais para conseguir despontar em 2025?
Eu venho me desenvolvendo com resultados há alguns anos, só que tive essa virada de chave agora. Já tive um bronze e prata no Mundial e Jogos Pan-americanos em 2023, o sétimo lugar na Olimpíada, em 2024, mas nunca estive ali no primeiro lugar, o mais alto do pódio. Então tiveram muitas mudanças. De estrutura foi total. Eu troquei a equipe, o meu treinador e, principalmente, tive um preparador físico. Estou treinando com outras pessoas. Comecei a fazer um trabalho tanto fisco quanto o técnico e tático, totalmente diferente, mais adaptado, mais voltado para mim, para as minhas necessidades.
Você é menor que suas adversárias em um esporte que usa bastante a envergadura das pernas. Esta mudança no jogo, também incluía este contexto na sua estratégia?
É meio que um padrão, já que eu sei que eu vou lutar com as meninas maiores do que eu. Nas quartas-de-final e semifinais, é certeza de que vai vir uma menina bem grandona, com mais de 1,80m. Eu tenho 1,69m. Antes eu tinha muita dificuldade. Isso também foi uma coisa que eu consegui me adaptar melhor. Tanto é que, a chinesa que eu lutei na Olimpíada, é muito mais alta do que eu, e consegui pontuar muito pouco daquela vez. Quatro meses depois, eu voltei com ela de novo, em Charlotte, e eu consegui ganhar dela. Por mais de 12 pontos de diferença. E foi ali que vi uma evolução muito grande na estratégia.
São várias competições ao longo do ano, como você conseguiu decidir as melhores escolhas para chegar ao primeiro lugar nos rankings?
É difícil montar esse calendário, mas ele é importante de ser montado logo no começo do ano, para a gente conseguir seguir o trabalho sem uma competição, atrapalhar a outra, porque a gente tem todo o período de preparação e, principalmente, o período de perda de peso que a gente tem que seguir ali pelo menos uma semana, 2 semanas cada.
Você estreou bem no profissional ao chegar entre as melhores no mundial de 2023, mas é um dos poucos títulos que não conseguiu vencer ainda. Está muito ansiosa para esta disputa na China?
Quero muito ser campeã mundial, é algo que eu desejo desde criança, e depois de ganhar o bronze de 2023, é algo que eu quero mais. Se desejo vencer GPs? Quero. Pan-Americano? Quero também. Mas é o mundial que eu mais desejo.
Você admite ser uma pessoa mais tímida, como foi o seu início na modalidade? O que te fez se interessar por rodar o mundo competindo?
Eu me dava bem com o pessoal (do treino) e os meninos, a maior parte deles, era mais velho. Eu apanhava muito, mas gostava, achava que estavam me ensinando, ficando melhor e quando chegava em competições júniors, ficava na minha cabeça: "se estou aguentando os meninos mais velhos, como não vou bater nas meninas da minha idade?", então batia muito nelas. Mas hoje é bom também ter parceiras de treina que estão comigo, e também se tornar uma inspiração para outras meninas.
Sua família sempre te apoiou na modalidade. Sua mãe chegou a se mudar com você, quando decidiu ir para outra cidade em busca de melhores treinos, ajudou no início da carreira pagando diversas competições. Ainda te motiva dentro de casa?
Antes de viajar para Charlotte, minha mãe estava passando mal. Eu sabia que poderia ser campeã, mas estava preocupada com ela. Ainda assim, a perguntei se queria algum presente dos Estados Unidos, e ela me respondeu: "quero só a medalha de ouro". Aí eu ganhei a medalha. E isto se tornou uma coisa nossa: Agora, em toda competição, eu a pergunto o que quer, ela pede o ouro, e eu tenho trazido. O ano inteiro está sendo assim. Por conta das três competições que tenho na China, ela pediu três de uma vez, respondi: "caramba, você está exigente, hein?".
Você já teve dificuldades como ter que vender bingo, sua mãe passou anos dedicando parte a maior parte do salário para te ajudar, como você custeia as viagens e condições do treino hoje?
Eu não preciso mais da ajuda dela mesmo, inclusive, hoje ela não trabalha. Mas minha mãe pretende voltar a trabalhar, com o que ela gosta muito de trabalhar. Ela não aguenta ficar em casa. Agora eu tenho 2 patrocínios, de suplementos, e a minha fisioterapeuta, além do apoio da Marinha do Brasil, que paga o meu salário. Tenho também o Bolsa-Pódio, pelo Ministério do Esporte, mas ainda estou em busca de outras coisas que possam me dar uma segurança financeira maior para continuar no esporte. Porque eu estudo, mas não consigo me dedicar tanto à faculdade como ao Taekwondo, nisso a CBTKD e o COB estão me ajudando bastante também, ao terem me trazido com tudo pago para os treinos no CT Maria Lenk, para ter uma estrutura ideal para uma preparação de nível mundial.
Todo este aparato em seu auxílio, veio junto de muitos títulos. Agora você se tornou a pessoa mais visada, como é sair do ponto de alguém que almeja ser campeã, para a pessoa que está tentando se manter no topo?
Tem um lado bom e o lado ruim. Quando você é favorito, impõe alguma moral. Você tem algum respeito das adversárias, e isso pesa muito no taekwondo, porque tem gente que entra já meio derrotada, já não acredita tanto em si (quando te enfrente). Tem vários adversárias que eu já lutei, que tem muito potencial de ser uma luta muito difícil comigo, mas acaba sendo mais fácil por conta deste medo. O lado ruim, é que, como eu tô ali nos holofotes, ganhando, sou a adversária mais estudada, que as pessoas mais treinam para bater, para ganhar de mim. Mas o que me deixa tranquila é saber que estou trabalhando em cima de falhas que tive nas lutas. Posso ter ganhado todas as competições, mas eu não fui perfeita. Eu perdi algum round, eu tomei algum chute na cara, então a gente sempre tem coisas pra melhorar e acho que isso deixa me deixa mais aliviada de saber que eu estou ganhando já fazendo isso.
Hoje você é a pessoa que está na frente, mas o time Brasil, como um todo, chega com o mesmo favoritismo que você para o torneio de equipes. Como conduziram os treinos e como você pensa que será a tentativa de tricampeonato no mundial?
É uma das seleções mais fortes em que já estive. A gente tem o medalhista olímpico, Edival Pontes, a gente tem a campeã de Jogos Pan-Americanos, Milena Titoneli. O Henrique Marques também, que é atleta olímpico. Ícaro, Rayane... muitas pessoas que já tiveram muitos resultados positivos em outras edições e muitos medalhistas mundiais. Todos eles têm chances de pódio, sem contar os outros talentos que ainda não apareceram. Isso motiva bastante, então eu estou com expectativas altas tanto para o individual quanto por equipes também, porque o Brasil já é bicampeão mundial neste formato. A gente tem 2 títulos de Copa do Mundo já, então eu espero que a gente consiga o terceiro este mês.
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