Esportes
Rio Open: ‘(minha vida) Não mudou, mas dei muitos passos’, diz o tenista João Fonseca
Grande sensação do Rio Open, jovem carioca de 17 anos vê a carreira dar passos largos no quintal de casa e já lida com a pressão precoce
Sensação do Rio Open, o carioca João Fonseca, de apenas 17 anos, vem sendo “monitorado” no circuito há um par de anos. Não raro se ouvia dos especialistas: “Fiquem de olho nesse menino”. Quem foi à quadra central Guga Kuerten ficou de olhos arregalados com o estilo agressivo e destemido do adolescente, que chegou às quartas de final do torneio e subiu mais de 300 posições do ranking da ATP.
Ele mal terá tempo de assimilar tudo que viveu. Ontem à noite já viajou para Santiago, onde vai disputar o 250 a convite. Mas antes cedeu alguns minutos do seu tempo, que já começa a ficar raro, ao GLOBO.
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Conseguiu dormir depois de tudo que viveu?
Dormi, dormi muito até. Antes a cabeça fica cheia, fiquei pensando um pouco na semana dos sonhos. Em como as coisas mudaram, como o calendário mudou. Uma semana que ganhei dois jogos muito difíceis, a expectativa que vai aumentando, a visibilidade... Mas depois que dormi, foi profundo. Nem me lembro o que sonhei.
Dá para dizer que essa semana mudou a sua vida?
Não mudou, mas eu dei muitos passos. Meu sonho sempre vai ser chegar lá em cima. Mas essa semana eu atingi 200, 300 posições, o que dá muito espaço para o meu sonho final ficar cada vez mais perto. Foi uma semana que eu poderia ter perdido no primeiro jogo, mas venci dois e passei muitas etapas que eu pensava que iria acontecer mais para frente. Estou começando a ter visibilidade no tênis mundial por essa semana.
Inclusive, seus planos mudaram na madrugada...
Quando eu cheguei na (entrevista) coletiva (de sexta-feira), a ideia era ficar no Rio na próxima semana só treinando e me preparar para os Challengers que iam acontecer na América do Sul. Mas com essa oportunidade de receber um convite para jogar Santiago, as coisas mudaram. Não sei se vou jogar os Challengers ainda, não decidimos nada. Vou jogar Santiago e ver o que vamos fazer. Vai ser semana por semana. Se eu continuar como eu fiz nesse torneio, vai mudar o ranking de novo. Não é como o top 100 que sabe exatamente os torneios que vai jogar.
Como foi viver isso tudo no quintal de casa?
Foi o primeiro torneio grande de tênis que eu vi com 7 anos. Sempre vou ter um carinho pelo Rio Open. Já vim aqui como plateia, rebatedor, estive no ano passado, e agora, como jogador, foi melhor ainda. Esse torneio me inspirou muito para começar a jogar tênis, sabe? Eu sempre sonhei vendo ali o Nadal. Sempre vou querer estar aqui, até porque ganhar em casa com a minha família, amigos, a galera gritando seu nome, o estádio tremendo, e eu ali no meio do jogo arrepiado... É um sensação sem palavras para descrever.
Como você se prepara para manter a concentração mesmo com todo esse arrepio?
Eu faço meditação desde pequeno por causa do meu pai. Mas a semana que eu comecei a fazer todos os dias do torneio foi no US Open que ganhei (torneio juvenil). Me deixa um pouco mais relaxado, um pouco no meu mundo. Essa parte mental é essencial para o tênis, é mais mental do que físico. Estar dentro de uma quadra com todos gritando seu nome cai um pouco de pressão... Mas eu quero que as pessoas continuem gritando, quero um dia a mais. E cada vez que eu ganhar, a expectativa vai aumentar sobre mim, é normal. É aonde quero jogar.
Você tem um estilo de jogo muito agressivo. Isso é nato?
Meu técnico fala que eu tenho um dom, que é a coragem em pontos importantes da partida. Vou bem pelo lado mental do jogo. Mas sempre tem o que evoluir. Sempre fui um jogador muito agressivo, e era até demais. Fomos aprimorando. Eu nunca vou deixar de ser agressivo, mas tem momentos que tem que ser mais agressivo do que outros.
Qual seu ponto forte e seu ponto fraco no tênis?
Como jogador, acho que o meu maior ponto forte é essa coragem de jogar agressivo, apesar dos erros, ir lá e fazer o que tem que fazer. O ponto fraco eu diria que é uma coisa que eu estou melhorando muito. É o lado mental de conseguir aguentar fisicamente jogos duradouros e jogos com pressão. Estou trabalhando muito na parte física também. Tenho feito mais treino físico do que quadra para ficar um touro. Preciso acreditar mais no meu corpo para que possa aguentar mais do que realmente penso que aguento.
Foi o que aconteceu nas quartas de final?
Foi uma semana muito tensa mentalmente. Apesar dos placares, os jogos foram duros, tensos, muita gente. O ambiente também é um pouco cansativo, muitas pessoas para tirar fotos... Isso é uma coisa nova para mim, não é algo que acontece no meu dia a dia. Tenho que aprender com essas coisas porque vão acontecer cada vez mais. E eu realmente senti um pouco ali no final.
Esta semana, o Fernando Meligeni disse que você é o melhor brasileiro com essa idade que ele já viu jogar. Isso te dá mais confiança ou pressão?
Eu só instalei novamente meu Instagram ontem (sábado), e vi a postagem do Fino só hoje (ontem) sobre o Arthur Fils, que ele postou recentemente. É muito legal ouvir palavras como essas. Ele foi um ótimo jogador e um atleta muito importante para o tênis brasileiro. Ouvir as pessoas falando que eu sou meio que uma promessa tem um lado que é legal, mas tem um lado que cai um pouco a pressão. Sou novo, tenho muita coisa pela frente. Mas acredito que se manter os pés no chão, fazer minhas rotinas, os resultados vão vir. Esse é o motivo de eu tirar o Instagram.
Você tira o Instagram em todo torneio?
Atualmente, estou fazendo isso porque eu fico um pouco mais focado naquele momento. Não quero saber o que as pessoas falam. Tem pessoas que vão falar que eu sou muito bom quando eu ganho, e que quando eu perco, sou muito ruim. Então essas coisas vão afetando um pouco a cabeça. Foi meu treinador (Guilherme Teixeira) que sugeriu. Não tem como eu ficar sem Instagram o tempo inteiro, mas na semana do torneio, eu tiro. O WhatsApp eu recebo as mensagens, mas só respondo a minha família, a amigos. Ainda não consegui responder todas que recebi, mas tento responder o máximo possível.
Sua relação com as redes sociais tem de ser diferente, você passa boa parte do tempo viajando. Ainda dá para ser um adolescente “normal”?
Acho que levo muito bem a vida “normal” de adolescente. Consigo sair com meus amigos, almoçar, jogar cartas, poker, videogame, sair também com a minha família, ir ao cinema com meu irmão quando estou no Rio. Cada vez vai ficando menos tempo para isso. Mas assim é a vida que eu quero.
E a decisão sobre cursar uma universidade nos Estados Unidos ou correr o circuito profissional. De quem vai ser?
É uma decisão muito difícil, que vai decidir de certa forma a minha vida. Vai ser uma decisão familiar, junto com meu treinador, óbvio. Os patrocinadores vão ficar sabendo logo depois. Não vou decidir agora. Não só porque eu fiz quartas de final do Rio Open que vou decidir amanhã. Mas vou deixar levar um pouco, ver o que vai acontecer, deixar as portas abertas para decidir só em julho.
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