Economia

Câmara aprova projeto de desoneração da folha de pagamento de setores intensivos em mão de obra

Projeto mantém medida integralmente em 2024 e prevê reoneração a partir de 2025

Agência O Globo - GLOBO 12/09/2024
Câmara aprova projeto de desoneração da folha de pagamento de setores intensivos em mão de obra
Câmara aprova projeto de desoneração da folha de pagamento de setores intensivos em mão de obra - Foto: Reprodução/internet

A Câmara aprovou nesta terça-feira o texto-base do projeto de lei que trata da desoneração na folha de pagamento de empresas de 17 setores intensivos em mão de obra e prefeituras de até 156 mil habitantes. A proposta mantém a desoneração em 2024 e prevê uma reoneração gradual a partir de 2025. O texto, resultado de um acordo construído entre o governo federal e o Congresso, define medidas de compensação fiscal.

Antes da conclusão da votação, ainda será necessário analisar destaques (propostas de alteração no texto). O projeto foi aprovado por 253 votos a favor, 67 contra e 4 abstenções.

A desoneração da folha das emprsas substitui a contribuição previdenciária patronal de 20% de setores que são grandes empregadores por alíquotas de 1% a 4,5% sobre a receita bruta. Essa troca diminui custos com contratações para 17 setores, como têxtil, calçados, construção civil, call center, comunicação, fabricação de veículos, tecnologia e transportes.

O projeto aprovado prevê uma reoneração gradual das empresas. Em 2024 a desoneração se mantém da forma como é feita hoje. Mas a contribuição sobre a folha de pagamento passaria a crescer a partir do ano que vem: será de 5% em 2025, de 10% em 2026, de 15% em 2025 e chegaria em 20% em 2028.

O autor do projeto é o senador Efraim Filho (União-PB), que assumiu a tarefa após o governo desistir de acabar com a desoneração por meio de uma medida provisória (MP).

Preocupação do BC

O projeto aprovado no Senado e em discussão na Câmara permite ao governo recolher R$ 8,5 bilhões em “valores esquecidos” no sistema bancário. O BC distribuiu nota técnica a deputados sugerindo alterações nesse ponto.

Na nota técnica, o BC defende que o recolhimento dos saldos “esquecidos” em bancos e de depósitos judiciais em processos encerrados não sejam considerados receitas do governo, como prevê o projeto.

O BC é responsável por apurar o cumprimento da meta fiscal e usa uma metodologia diferente do Tesouro Nacional.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, discutiu esse ponto com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Segundo o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), chegaram a um acordo que atende ao BC.

— As ponderações que foram feita pelo Banco Central nós apresentamos ao ministro Haddad, ele já contornou — disse Guimarães.

O ajuste feito mantém o uso das contas esquecidas e os depósitos judiciais como parte da compensação, diz que eles serão apropriados pelo Tesouro Nacional como receita orçamentária e considerados para fins de verificação do cumprimento da meta de resultado das contas públicas. Antes, dizia que esse recurso seria usado "para todos os fins das estatísticas fiscais", o que incomodou o BC.

A deputada Any Ortiz (Cidadania-RS), que era relatora do texto, fez diversas críticas ao modo como o governo conduziu o processo da desoneração. Ela pediu para deixar a relatoria e recomendou ao líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), que assumisse o posto. O pedido dela foi acatado e o petista assumiu a condução do texto.

Compensações

Na lista de compensações, está a repatriação de recursos depositados no exterior por brasileiros, mediante pagamento de Imposto de Renda. Nesse caso, não seria necessário trazer recursos para o Brasil, mas apenas regularizá-los.

Também permite a atualização do valor de bens, especialmente de imóveis, e cobrar um Imposto de Renda reduzido sobre o ganho de capital. Hoje, o IR sobre ganho de capital sobre imóveis é cobrado na venda. A ideia é permitir antecipar a atualização de capital com uma alíquota reduzida ao se pagar IR.

Outra saída é criar uma espécie de Refis apenas sobre multas aplicadas por agências reguladoras e que ainda não entraram na dívida ativa. Também faz parte do projeto usar recursos depositados em contas judiciais e que os detentores desse direito não sacaram o dinheiro.

A lista inclui ainda a economia prevista com cortes de despesas de benefício pagos de forma irregular ou alvo de fraudes. E a taxação de compras abaixo de U$ 50, esta última já sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Acordo com o STF

Governo e Congresso fecharam um acordo para a compensação do impacto fiscal e uma reoneração gradual da folha após o ministro Cristiano Zanin, do Supremo Tribunal Federal (STF), suspender a medida.

Em junho, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), devolveu parte de uma MP do governo que limitava créditos de PIS/Cofins de empresas como forma de compensação. O governo esperava cerca de R$ 29 bilhões com a medida neste ano. A partir daí, foi reaberta a negociação para encontrar outras fontes de recursos.