Economia

Chevron compra petrolífera Hess por US$ 53 bi e garante acesso a reservas da Guiana na Margem Equatorial

Região, que se estende ao litoral brasileiro, é considerada nova fronteira petrolífera. Petrobras teve licença para explorar poço negada no Amapá

Agência O Globo - GLOBO 23/10/2023
Chevron compra petrolífera Hess por US$ 53 bi e garante acesso a reservas da Guiana na Margem Equatorial

A Chevron concordou em comprar a petrolífera Hess por US$ 53 bilhões, um acordo que visa a impulsionar o crescimento da produção, já que o setor petrolífero dos Estados Unidos aposta em um futuro duradouro para os combustíveis fósseis.

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A aquisição dará à Chevron uma base significativa na Guiana, o país sul-americano que é um dos mais novos produtores de petróleo do mundo. As reservas da Guiana estão na chamada Margem Equatorial, nova fronteira petrolífera que se estende ao litoral brasileiro.

No Brasil, a Margem Equatorial abrange cinco bacias em alto-mar, entre o Amapá e o Rio Grande do Norte, entre elas a Bacia da Foz do Amazonas, no litoral do Amapá, cuja licença para exploração foi negada pelo Ibama à Petrobras em maio deste ano.

A área é considerada sensível, por sua biodiversidade marinha, o que gerou debates sobre a possibilidade de exploração de petróleo na região. No fim de setembro, o Ibama liberou a perfuração de um poço na Bacia Potiguar.

A Hess é uma das empresas que integra um consórcio que produz petróleo no litoral da Guiana. Ela detém 30% da propriedade dos mais de 11 bilhões de barris equivalentes de recursos recuperáveis no país,.

De acordo com comunicado da Chevron, a aquisição da empresa possibilitará um crescimento mais rápido da produção e retornos mais generosos para os investidores.

Guiana como 'prêmio'

- O prêmio aqui é a Guiana - disse Peter McNally, analista do Third Bridge Group, acrescentando que "ele só tem aumentado" desde que o petróleo foi descoberto pela primeira vez no país, há menos de uma década.

Em uma transação que envolve todas as ações, a Chevron pagará US$ 171 por ação da Hess, um prêmio de cerca de 10% em relação ao preço médio de 20 dias, de acordo com um comunicado das empresas na segunda-feira. Os acionistas da Hess receberão 1,025 ação da Chevron para cada ação da Hess, dando à empresa um valor de mercado total de US$ 60 bilhões, incluindo a dívida.

A transação foi aprovada por unanimidade pelas diretorias de ambas as empresas e deve ser concluída no primeiro semestre de 2024, de acordo com o comunicado. Ela está sujeita à aprovação dos acionistas da Hess, dos órgãos reguladores e de outras condições habituais de fechamento.

Esse é o segundo grande negócio no setor petrolífero dos EUA em apenas algumas semanas. A Exxon Mobil anunciou a compra da produtora de óleo de xisto Pioneer Natural Resources por US$ 58 bilhões, reforçando a aposta de que o petróleo e o gás continuarão a ser fundamentais para a matriz energética mundial nas próximas décadas.

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A aquisição solidificará a posição das principais empresas dos EUA no topo da industrial global de petróleo e gás. Embora seus pares europeus tenham reconquistado a preferência dos investidores ao mudar a ênfase da energia de baixo carbono para os combustíveis fósseis desde a invasão da Ucrânia pela Rússia, as avaliações da Exxon e da Chevron continuam muito mais altas.

"Essa combinação posiciona a Chevron para fortalecer nosso desempenho de longo prazo e aprimorar ainda mais nosso portfólio vantajoso, acrescentando ativos de classe mundial", disse o presidente e CEO, Mike Wirth,no comunicado.

Hess, uma longa trajetória

Entre as empresas petrolíferas independentes dos Estados Unidos, a Hess tem uma história longa e célebre em comparação com as empresas iniciantes de xisto que passaram a dominar o cenário nos últimos anos.

Ela foi fundada em 1933 por Leon Hess, de 19 anos, que começou com um único caminhão de entrega de combustível e gradualmente expandiu para uma frota de veículos e um terminal de petróleo em Nova Jersey, de acordo com o site da empresa.

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A Hess comprou seu primeiro caminhão-tanque de petróleo em 1948, construiu uma refinaria de petróleo em 1957 e, em 1960, abriu o primeiro de seus icônicos postos de gasolina verdes e brancos que se tornariam comuns em todo o nordeste dos EUA. Quando Leon Hess se aposentou em 1995, ele havia construído uma multinacional com ativos no Mar do Norte, no Alasca e no Caribe.

Bacia de xisto

Além da Guiana, a compra da Hess também adicionará ao portfólio da Chevron áreas no Golfo do México e em Bakken, uma bacia de xisto dos EUA menor do que a Bacia Permiana, onde a produção já atingiu seu pico.

O acordo aumentará a produção estimada da Chevron em cinco anos e as taxas de crescimento do fluxo de caixa livre e as estenderá para a próxima década, de acordo com o comunicado. Os retornos para os investidores também serão aumentados, com a empresa esperando recomendar um aumento de 8% em seus dividendos do primeiro trimestre em janeiro e mais US$ 2,5 bilhões em recompras de ações após o fechamento do negócio.

A Morgan Stanley é o principal consultor financeiro da Chevron, juntamente com a Evercore. A Goldman Sachs está atuando como principal consultor financeiro da Hess, juntamente com a JP Morgan Securities.