Economia

'Ibama não dá licenças políticas', diz Marina após AGU abrir caminho para exploração de petróleo na bacia da foz do Amazonas

Ministra do Meio Ambiente diz que Petrobras já recebeu 2 mil licenças pelo Ibama: 'Se as licenças dadas foram técnicas, as licenças negadas são também técnicas'

Agência O Globo - GLOBO 23/08/2023
'Ibama não dá licenças políticas', diz Marina após AGU abrir caminho para exploração de petróleo na bacia da foz do Amazonas
Marina Silva - Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, disse nesta quarta-feira que o Ibama não dá licenças políticas, mas técnicas, diante das discussões sobre as exploração de petróleo na chamada Margem Equatorial. Na terça-feira, a Advocacia-Geral da União (AGU) publicou um parecer em que concluiu ser possível ao Ibama conceder licenciamento ambiental antes de uma avaliação preliminar da área concedida.

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A ausência de uma Avaliação Ambiental de Área Sedimentar (AAAS) para a bacia da Foz do Amazonas foi um dos argumentos do Ibama para negar a exploração da Petrobras na região, em maio deste ano. O parecer da AGU foi emitido sobre esse caso e abre caminho para a exploração na região.

Segundo o órgão, "seja no plano jurídico, ou no plano fático, no âmbito do licenciamento ambiental não é exigível a AAAS".

— Eu sempre digo: o Ibama não dá licenças políticas. O Ibama dá licenças técnicas. Ele não facilita e nem dificulta. Aí muita gente diz “ah, não existe esse negócio de técnica”. Não. Existem órgãos que se pronunciam tecnicamente — disse a ministra, em audiência no Senado.

Marina comparou o Ibama à Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) em suas decisões.

— Alguém vai ficar teimando com a Anvisa quando ela diz “não, esse remédio é tóxico”? Alguém resolve mandar para uma decisão política, se um remédio é tóxico ou não? Existem alguns órgãos da gestão pública que dão parecer técnico. E em um governo republicano a gente olha para o que a ciência está dizendo. Não faz um PAD (processo administrativo para investigar servidor público), não ameaça a pessoa de ser demitida, não faz assédio contra os servidores.

A estatal pretende perfurar um poço a cerca de 175 km da foz do rio Amazonas — apesar do nome, a Bacia da Foz do Amazonas não está localizada na foz do rio. O processo tramita no órgão ambiental desde 2014, quando a área era operada pela petroleira britânica BP. Essa região é chamada de Margem Equatorial e vai da Foz do Amazonas a Sergipe. O local é visto como a última fronteira de petróleo do Brasil.

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A AAAS é um estudo contratado pelo governo federal para analisar o impacto socioambiental da exploração de petróleo em uma determinada região antes da concessão de áreas em leilão. A ausência desse instrumento foi um dos motivos alegados pelo Ibama para negar a licença. Marina disse nesta terça que o instrumento é uma ferramenta de planejamento e não uma condicionante para a exploração.

— Teve uma posição da AGU de que a Avalição Ambiental para a Área Sedimentar não é condicionante para o processo de licenciamento. Isso foi o que o Supremo disse e o Ibama nunca disse que era. É uma ferramenta de planejamento que ajuda nos processos de licenciamentos.

A ministra afirmou que não é possível fazer conciliação para questões técnicas. O parecer da AGU sugere, porém, que outros pontos da licença sejam levados à Câmara de Mediação e de Conciliação da Administração Pública Federal (CCAF), prevendo a possibilidade de acordo mediado pela AGU.

— Não existe conciliação para questões técnicas. Isso não tenho como dizer diferente. Não posso botar uma rodada de conciliação a Anvisa por decisão política para decidir se aquele remédio é tóxico ou não é tóxico. A mesma coisa são os processos técnicos de licenciamento o Ibama.

Marina disse ainda que a Petrobras pode recorrer das decisões do Ibama — o que a empresa já fez nesse caso. E disse que o órgão já concedeu cerca de 2 mil licenças para a estatal.

— O Ibama já deu duas mil licenças para a Petrobras. Se as licenças dadas foram técnicas, as licenças negadas são também técnicas. Se o Ibama fizesse política não teria dado, pelo menos durante a minha gestão, para exploração de energia de base nuclear. Mas mesmo sendo contra a exploração de energia de base nuclear, no caso do Brasil principalmente, como nunca foi decisão política, algumas licenças foram dadas — disse a ministra.

Exploração na bacia da foz do Amazonas

O Ibama rejeitou o primeiro pedido de exploração apresentado pela Petrobras por entender que a solicitação não continha garantias para atendimentos à fauna em possíveis acidentes com o derramamento de óleo. Outro ponto destacado seriam lacunas quanto a previsão de impactos da atividade em três terras indígenas em Oiapoque.

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Setores do governo, como o Ministério de Minas e Energia, têm insistido na exploração da área. No último dia 25, a Petrobras reapresentou o pedido.

Diante da divergência pública entre órgãos do governo sobre a exploração na região, o próprio presidente Lula passou a buscar um meio-termo entre o Ibama e a Petrobras.