Economia

Ministro de Minas e Energia diz que apagão começou em rede de subsidiária da Eletrobras e defende investigação da PF

Ministro Alexandre Silveira diz que problemas ocorreram em linha de transmissão da Chesf, operacionalizada pela Eletrobras. ONS descarta segundo evento na região Norte

Agência O Globo - GLOBO 16/08/2023
Ministro de Minas e Energia diz que apagão começou em rede de subsidiária da Eletrobras e defende investigação da PF
Ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira - Foto: Reprodução

O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, afirmou nesta quarta-feira que o apagão de terça que afetou 25 estados e o Distrito Federal começou em uma linha da Chesf, subsidiária da Eletrobras na região Nordeste. Essa linha fica entre Quixadá e Fortaleza, no Ceará. Não se sabe, porém, o que causou o problema na rede. O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) não descarta erro humano e avalia também falhas no sistemas.

— O evento zero se deu na linha de Quixadá a Fortaleza. Esse evento foi considerado, a princípio, de pequena magnitude. Ele, isoladamente, não era suficiente para causar um colapso. A partir desse evento, que aconteceu numa linha da Eletrobras, da Chesf, por um erro de programação do sistema. O sistema não se protegeu como deveria ter se protegido — afirmou o ministro, acrescentando que a Chesf já admitiu a falha.

O ministro disse que a Chesf admitiu um erro no sistema que opera a rede. O que não se sabe é se essa falha foi humana, afirmou.

— A Chesf fez contato com o ONS, admitindo um erro no sistema, que não protegeu a rede adequadamente nessa linha de transmissão. Não se pode dizer ainda se foi uma falha humana, no lançamento do projeto de engenharia, ou falha sistêmica. Fato é que essa falha em si não seria capaz de causar um evento dessa magnitude — disse.

No dia anterior, Silveira havia dito que o incidente foi gerado após uma sobrecarga no Ceará, mas evitou confirmar que a linha era do grupo Eletrobras. Na manhã desta quarta, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, há havia apontado para uma falha técnica.

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A Chesf já corrigiu a falha na linha de transmissão, segundo o ministro, que esteve reunido por mais de cinco horas com técnicos e representantes do setor elétrico na sede do ministério em Brasília. Silveira disse que o evento foi considerado, a princípio, de pequena magnitude. E que não seria capaz, sozinho, de causar o apagão.

— Ele isoladamente, como dissemos ontem, não era suficiente para causar o colapso do sistema como um todo. Mas por um erro de programação a linha "abriu" (deixou de receber energia) e levou uma série de falhas — disse.

O ministro afirmou que "mais do que nunca" a Polícia Federal (PF) deve apurar as razões que levaram ao apagão. Ele disse que o Operador Nacional do Sistema ainda não encontrou as causas técnicas que levaram à falha na linha.

— Mais do que nunca é necessária a participação (da PF), já que o ONS não apontou falha técnica que pudesse causar na dimensão que foi — continuou Silveira, que se reuniu mais cedo com o diretor da corporação, Andrei Rodrigues.

O ministro disse que a Chesf admitiu um erro que não protegeu o sistema diante de uma sobrecarga. Mas isso não aparenta ser a causa inicial do apagão, segundo o ONS, destacou o ministro.

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— Todas as possibilidades estão sendo avaliadas. A penalização depende das apurações. Isso depende dos desdobramentos — disse o ministro.

Falha entre linhas de Quixadá e Fortaleza

Luiz Carlos Ciocchi, diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), disse que, neste momento, nenhuma hipótese é descartada.

— ONS é órgão técnico, o RAP (relatório) é uma sequência de reuniões que são realizadas entre o ONS e agentes envolvidos. Faz análise técnica. Fator humano é fator analisado do ponto de vista técnico. Pode ter havido falha humana? Pode, mas hoje não podemos afirmar — disse Ciocchi.

Ciocchi afirmou que o grande desafio na apuração das causas é desvendar por que um evento como esse, na linha de transmissão Quixadá/Fortaleza, que não deveria causar um apagão da magnitude do desta terça, acabou gerando o episódio.

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— Isso ocasionou uma onda muito grande. Foram "N" eventos que aconteceram e foram se propagando. Forma várias linhas na região. Em 600 milissegundos houve a desconexão das linhas que ligam Nordeste, Norte e Sudeste. Esse evento, por si só, não deveria causar tudo isso — disse. — O propósito era identificar o evento zero a partir de onde essa propagação se originou. Diferentemente de outros eventos que já ocorreram, não tivemos raio, queda de torre, de linha ou qualquer evento relacionado à investigação no dia de ontem.

Ciocchi disse que foi descartada a hipótese de um segundo evento na região Norte. Ele afirmou que não é possível fazer associação entre a quantidade de energia eólica no Nordeste e o apagão.

— Energia eólica não é problema, é solução. Esse evento foi a origem e se propagou por todo o país. Ontem existia a hipótese de um segundo evento. Essa hipótese foi descartada.

Ele também confirmou que o ONS reduziu o envio de energia do Nordeste para o Sudeste para aliviar o sistema.

Nota da Eletrobras

Em nota divulgada na noite desta quarta, a Eletrobras afirmou que detectou o problema na linha Quixadá-Fortaleza milissegundos antes do apagão nacional. Na linha do que disseram o ministro e o ONS, a Eletrobras declarou que isso, por si só, não pode ser causa do apagão.

"Ressalta-se que o desligamento da citada linha de transmissão, de forma isolada, não seria suficiente para a abrangência e repercussão sistêmica do ocorrido. As redes de transmissão do Sistema Interligado Nacional (SNI) são planejadas pelo critério de confiabilidade", diz a empresa.