Curiosidades
'Vi, vivi e escrevi': Repórter conta como era a cobertura jornalística de 'Vale tudo' em 1988
Mànya Millen era repórter do Segundo Caderno do GLOBO na época da primeira versão
Meninos e meninas, eu vi. E vivi. E escrevi. A partir do terço final do longínquo 1988, quando a recém-formada que eu era se juntou à equipe de Cultura a tempo de participar dos últimos meses da cobertura da melhor de todas as novelas.
Copacabana Palace se pronuncia
Veja a aposta dela hoje:
O mexeu como nunca com a imprensa, logo transformada em inimiga nº 1 de autores, diretores, produtores e atores da novela por buscar o óbvio: o furo, a informação privilegiada em primeira mão. Seja para revelar um assassino na ficção ou um escândalo político real, não importa. Se mobiliza o público, mobiliza a imprensa.
Quem matou Odete Roitman:
Não é exagero, não é rancor, apesar de ter levado muitos “foras”, alguns talvez merecidamente. Revendo arquivos do GLOBO, encontro a reportagem de 6 de janeiro de 1989, dia de exibição do último capítulo, trazendo um balanço do jogo de detetive empreendido pelos jornalistas nas últimas semanas. Lembrava episódios de irritação do elenco e de autores em torno do assédio gigante “apenas” para desvendar o mistério, assim como listava algumas das múltiplas operações de fuga da incômoda pergunta que não queria calar.
Assim como hoje, pistas foram espalhadas, finais diferentes gravados (“Vale tudo” inaugurou esse estilo inédito de se terminar uma novela). Mas a reportagem trazia também declarações como a de Aguinaldo Silva, um dos três brilhantes autores, reconhecendo que “Vale tudo” de fato “foi a coisa mais importante de 1988”. Nessa altura do campeonato, talvez ele já conseguisse imaginar que, em matéria de novela — e estamos falando de um craque dessa área —, ela manteria esse posto nas décadas seguintes.
Dito isso, lembrar aqueles dias em que todos nós viramos Sherlock Holmes dos trópicos (e, como hoje, também fomos atrás de palpites de outros Sherlocks) é viver um choque de realidade, uma nostalgia quase divertida. Em 2025, redes sociais facilitam a troca de ideias, a busca da temperatura do tema e das teorias mais malucas que podem virar pautas e que, em 1988/1989, só poderiam ser achadas nas ruas, nas conversas de bares e em grupos familiares. E não, meninos e meninas, não estou falando de grupos de WhatsApp. A internet e os celulares só entrariam nas nossas vidas alguns anos depois.
Como encontrar 17 Roitmans no Rio, por exemplo, para repercutir o impacto do sobrenome na vida deles, tema de reportagem do dia 7 de janeiro de 1989? Fácil. Senta o derrière na cadeira com uma lista telefônica (em papel) à sua frente, cate os nomes e depois, diante de um telefone (com teclas ou disco), vá tentando uma linha (explicar tomaria muitas linhas) por minutos ou até uma hora. Deu sinal? É hora de ligar para o primeiro nome. A sorte de conseguir pegar a criatura em casa logo de cara era muito, muito comemorada. Mas o longo processo recomeçaria por outras 16 vezes, ou mais...
Quase quatro décadas depois, é fascinante ver como um remake ainda consegue monopolizar conversas, formar outras teorias malucas da conspiração, inspirar novos Sherlocks. Numa era em que os próprios envolvidos na trama se encarregam de municiar público e imprensa com pitadas diárias de informação, também é divertido constatar que jornalistas não são mais vistos, acho, como capetas sabotadores de conteúdo, e sim curiosos profissionais.
E vamos ao que interessa: quem, de novo, matou Odete Roitman?
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