Cidades
“A Câmara vai ter um ou dois vereadores indígenas na próxima legislatura”, diz Tanawi Kariri
Liderança prevê avanço político dos Xukuru-Kariri e o surgimento de uma bancada indígena em 2028, com força em regiões estratégicas que hoje são redutos de vereadores tradicionais
A história política de Palmeira dos Índios está prestes a ganhar um novo capítulo — e, desta vez, protagonizado por vozes indígenas.
Durante entrevista à Rádio Francês FM, retransmitida pela Cacique FM, o líder Tanawi Kariri, uma das principais lideranças do povo Xukuru-Kariri, afirmou que a próxima egislatura da Câmara Municipal (2029-2032) contará com um ou dois vereadores indígenas eleitos.
“A Câmara de Vereadores de Palmeira dos Índios vai ganhar um ou dois indígenas nas próximas”, declarou Tanawi.
“Vai ter, sim. Certeza absoluta.”
A declaração marca uma virada simbólica e prática: os indígenas, que há décadas lutam por reconhecimento territorial e social, agora miram o poder político local como espaço de representação direta.
A liderança diz que “sem voz dentro da Câmara, os direitos dos povos tradicionais continuarão sendo decididos por outros”.
Os novos redutos eleitorais indígenas
Embora Tanawi não tenha citado nomes nem bairros, a leitura política é clara.
Os territórios que circundam a cidade de Palmeira dos Índios — e que nos últimos anos concentraram aldeias, famílias indígenas e comunidades em expansão — coincidem com zonas eleitorais dominadas por vereadores com discurso contrário à homologação das terras indígenas.
Essa nova realidade ameaça redesenhar o mapa político local.
1. Serra da Boa Vista — o novo cinturão eleitoral indígena
Na Serra da Boa Vista, região de forte presença de famílias Xukuru-Kariri, há hoje um vereador atuante e abertamente contrário à homologação das terras: Lúcio Carlos Medeiros.
É justamente nessa região que o movimento indígena consolida seu primeiro eixo de influência política. A expansão de comunidades e a mobilização por direitos sociais e ambientais transformam a Boa Vista em potencial reduto eleitoral de um dos futuros candidatos indígenas.
Analistas locais avaliam que, se o crescimento comunitário continuar no ritmo atual, o eleitorado indígena da serra poderá garantir um mandato direto na Câmara.
2. Cafurna, Mata da Cafurna e Alto do Cruzeiro — o segundo eixo político
Outro núcleo estratégico é o que abrange a Aldeia Mata da Cafurna, o bairro da Cafurna e o Alto do Cruzeiro, zona densamente habitada por famílias indígenas e descendentes diretos do povo Xukuru-Kariri.
Essa região é, historicamente, o reduto eleitoral do presidente da Câmara, Madson Monteiro, e do vereador Kall Melo. O primeiro avalizou o Fórum de Luta contra a demarcação indígena e trabalha nos bastidores contra a homologação. Já o segundo edil, não se manifestou acerca do problema.
Com o crescimento da presença indígena e o fortalecimento do discurso comunitário, esses dois vereadores enfrentarão concorrência forte e direta.
Segundo a avaliação de lideranças, a base Xukuru-Kariri deve lançar candidaturas locais nessas áreas, desafiando a hegemonia de grupos políticos que até então mantinham domínio sobre o voto da periferia urbana e rural.
“Ocupar o espaço político é um direito”
A entrada de representantes indígenas no Legislativo não é ameaça é democracia em curso.
Tanawi também afirmou que não tem interesse pessoal em disputar a prefeitura, mas reconhece que o momento é de fortalecimento da participação política indígena.
“Estou muito bem no movimento indígena, trabalhando e obtendo resultados. Mas agora chegou a hora de termos representação direta na Câmara.”
Análise política: a força periférica que avança sobre o centro
A ascensão indígena em Palmeira dos Índios ocorre num contexto em que os Xukuru-Kariri se tornaram geograficamente presentes em torno de toda a cidade, formando um cinturão populacional que vai das serras ao entorno urbano.
É um movimento de territorialização e de pertencimento que se traduz, agora, em expressão eleitoral.
A tendência é que, até 2028, as bases eleitorais indígenas de Serra da Boa Vista e Cafurna desafiem diretamente as lideranças políticas mais tradicionais do município — Lúcio Carlos Medeiros, Madson Monteiro e Kall Melo — alterando o equilíbrio interno da Câmara.
Na prática, o avanço Xukuru-Kariri no campo político encerra um ciclo de representação unilateral sobre o tema da demarcação e inaugura uma nova etapa: a presença da própria comunidade na tomada de decisões municipais.
O que antes era uma luta por reconhecimento territorial agora se expande para o campo da representação institucional.
Palmeira dos Índios poderá, pela primeira vez, ver vereadores indígenas eleitos ocupando assento no plenário, discutindo leis e defendendo suas próprias pautas.
Se confirmada, essa mudança transformará a Câmara Municipal — e o debate político da cidade — num reflexo direto da diversidade social e cultural do município sertanejo.
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