Cidades

Palmeira dos Índios: a cidade entre buracos, falta d’água e obras paradas

20/08/2025
Palmeira dos Índios: a cidade entre buracos, falta d’água e obras paradas

Palmeira dos Índios chega aos 136 anos de emancipação política marcada por uma contradição dolorosa: apesar de ser conhecida como a “Princesa do Sertão” e ter dado ao Brasil nomes ilustres como Graciliano Ramos e Jofre Soares, a cidade convive diariamente com problemas estruturais, políticos e sociais que expõem o quanto ainda está distante da dignidade que sua população merece.

As feridas abertas da infraestrutura


As ruas esburacadas e malcuidadas, a ausência de saneamento em vários bairros e a poeira que invade as casas transformaram a rotina da po-pulação em um verdadeiro martírio. Obras iniciadas com estardalhaço seguem paradas ou inacabadas, deixando para trás entulhos, buracos e lama. A cidade se tornou, em muitos trechos, um canteiro de obras abandonadas — herança de gestões que priorizam anúncios grandiosos, mas entregas mínimas.

Saneamento e água: um direito negado


Em pleno século XXI, parte da zona urbana e povoados da zona rural de Palmeira dos Índios ainda sofrem com a falta de abastecimento de água. Há comunidades que passam meses sem uma gota nas torneiras.

Para agravar, a concessionária que explora o serviço impõe uma taxa mínima abusiva: mesmo sem receber água, os moradores são obrigados a pagar. Um contrato que deveria garantir cidadania se transformou em símbolo de exploração.

A saúde em colapso


O sistema de saúde municipal segue sobrecarregado e frágil. Hospitais sem estrutura, filas intermináveis, falta de medicamentos e exames que nunca chegam são a realidade de quem precisa de atendimento. Moradores relatam viagens cansativas em busca de tratamento em cidades vizinhas, numa prova de que Palmeira não conseguiu estruturar uma rede própria para atender sua população.

Educação e promessas vazias


Enquanto escolas sofrem com precariedade de prédios, falta de material didático e ausência de políticas permanentes de valorização dos professores, discursos oficiais falam em modernização e avanços. A discrepância entre o que se anuncia e o que se vê na prática é uma das marcas mais fortes da administração pública local.

Corrupção e superfaturamento


A cada novo contrato ou licitação, surgem suspeitas de superfaturamento e mau uso do dinheiro público. Obras de praças, reformas de prédios, contratos de serviços básicos: nada escapa do olhar crítico da população, que já se acostumou a ver manchetes de investigações, mas pouco resultado em termos de responsabilização.

A violência da omissão


A soma desses problemas — infraestrutura precária, saúde em frangalhos, falta de água, escolas sucateadas — se traduz em um sentimento de abandono. A população, que deveria ser prioridade, é tratada como mera estatística em discursos políticos. A cada eleição, promessas de mudanças são feitas; a cada gestão, repete-se o ciclo de descaso.
A Princesa do Sertão, hojeSe no passado Graciliano Ramos chamou Palmeira dos Índios de “Princesa nua e suja”, a crítica continua atual. Hoje, a cidade que deveria ser referência cultural e polo de desenvolvimento para o sertão alagoano se debate em meio a problemas antigos e novas formas de negligência.

Chegar aos 136 anos poderia ser motivo de orgulho e celebração. Mas a verdade é que Palmeira dos Índios, em pleno 2025, ainda luta para ter o básico: ruas transitáveis, água limpa, saúde de qualidade e gestores comprometidos. A Princesa do Sertão segue nua, suja e maltratada — não pela seca, como em tempos de Graciliano, mas pela falta de compromisso de quem deveria governar para o povo.