A blindagem dos blindados e o centenário de Jota

17/09/2025
A blindagem dos blindados e o centenário de Jota

O Brasil amanhece, nesta quarta-feira, com um daqueles movimentos que dizem mais sobre a classe política do que sobre a nação. A Câmara dos Deputados aprovou em primeiro turno a chamada PEC da Blindagem: 353 votos a favor, 134 contra, uma abstenção. Números robustos, quase triunfais, não fosse o conteúdo que carregam.

A proposta não nasceu para o povo. Nasceu para proteger quem legisla, expandindo o foro privilegiado e dificultando investigações contra deputados e senadores. Juristas, associações e entidades da sociedade civil levantaram a voz: trata-se de um risco de impunidade, de uma muralha erguida contra a lei em nome dos que deveriam ser seus guardiões. É a velha estratégia: enquanto o eleitor enfrenta a burocracia da Justiça comum, os parlamentares se colocam atrás de um vidro à prova de processos.

E Alagoas, como votou? Dos nove deputados, seis disseram “sim” à blindagem: Arthur Lira, Delegado Fábio Costa, Isnaldo Bulhões Júnior, Luciano Amaral, Rafael Brito e Marx Beltrão. Dois, pelo menos, escolheram a resistência: Daniel Barbosa e Paulão. Já Alfredo Gaspar preferiu a ausência, que é quase um voto sem voz. Um retrato do Estado no mapa da política nacional: maioria alinhada ao escudo, minoria gritando contra o retrocesso.

A tramitação continua: novo turno na Câmara, votos repetidos. Depois teremos mais dois no Senado. Mas o enredo é previsível: a blindagem dos blindados, aprovada por aqueles que, não raro, legislam em causa própria. O risco é simples: enquanto se fala em proteger a democracia, o que se fortalece é a distância entre o representante e o representado. Afinal, que democracia é essa em que o povo responde, mas os políticos se protegem?

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Mas a democracia também é feita de memória. E é justo, neste dia, abrir espaço para lembrar Jota Duarte, que completa 100 anos. Vereador, prefeito duas vezes de Palmeira dos Índios, cinco vezes deputado, chegou à interinidade do governo de Alagoas

Um aniversário que simboliza uma trajetória política extensa e vitoriosa.

Vladimir Barros

Vladimir Barros

É advogado militante, formado pela Universidade Federal de Alagoas e pós-graduado em Direito Processual e Docência Superior. Jornalista filiado ao Sindjornal/FENAJ, é membro efetivo da Associação Alagoana de Imprensa (AAI) e da Associação Brasileira de Imprensa; Editor do Jornal Tribuna do Sertão. É também membro da Academia Palmeirense de Letras (Palmeira dos Índios) e fundador da Rádio Cacique FM.