Nau dos insensatos

16/05/2018
A atual conjuntura política é farta em irresponsabilidades com os destinos do País. Basta ver os delírios que surgem em vários pronunciamentos. O doutor Pérsio Arida, conhecido de todos nós, afirmou em entrevista, com destaque na grande mídia, que “a Constituição não pode engessar a economia”. Ou seja, às favas com a Constituição se os interesses que ele representa não prosperarem. É o espírito do No tempo das diligências(1939) clássico norte-americano de faroeste, de uma terra sem leis, que está vigendo hoje no Brasil. O problema é que o filme retrata os primórdios da consolidação dos Estados Unidos que sedimentou depois uma das constituições mais estáveis do mundo cujas disputas, legais ou ilícitas, são julgadas pela Suprema Corte, a qual aplica seus artigos até os dias atuais. Os EUA não são superiores a ninguém em matéria constitucional, ao contrário. O que existe lá é o concerto onde a carta magna não deve ser atropelada ao sabor das crises conjunturais já que é garantia da continuidade do establishment norte-americano. O seu poder imperial, grupos econômicos, as facções políticas dos partidos Democrata e Republicano, pactuaram que a Constituição é árbitro central das suas disputas. Assim como no sistema financeiro, no complexo industrial-militar etc. Regras vitais ao equilíbrio institucional. Mas o senhor Arida resolveu pegar carona na moda onde aqui a Constituição nada vale. Muito menos os deveres dos cidadãos, garantias individuais, sociais, a estabilidade democrática, agredidas. É óbvio que a economia brasileira precisa modernizar-se, a indústria tornar-se competitiva, alcançar novos patamares em um cenário globalizado, infestado de protecionismos, verdadeira lei das selvas. O doutor Arida arvora-se em porta-voz do Mercado rentista, de grupos contrários aos interesses do País, em leiloar o patrimônio nacional, garantias sociais, as riquezas naturais e a própria democracia. Declara sem subterfúgios que deseja “reformar” a Constituição, já aviltada, para aplicar no Brasil um fundamentalismo econômico liberal que já não é usado nem nos EUA. Se a declaração sai da boca da oposição política ao caos no País seria uma gritaria. Na verdade estamos parecidos mesmo é com o clássico alemão da literatura A nau dos insensatos, de Sebastian Brant (1457-1521). No mínimo.
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