Rio São Francisco está ameaçado de morte

12/11/2013
Grande na sua história e extensão, o Velho Chico dá sinais de que não suporta mais as agressões que vem recebendo ao longo dos seus 2.830 km de curso d’água. Enfrentando desmatamentos, poluições e a presença de sete usinas hidrelétricas, o Rio São Francisco começa a dar sinais de que está cansado de lutar pela vida.   [caption id="attachment_7194" align="alignright" width="300"]Inácio Loyola avalia que o São Francisco está na UTI Inácio Loyola avalia que o São Francisco está na UTI[/caption] Considerado como um dos maiores estudiosos do Rio São Francisco, o deputado estadual Inácio Loyola (PSDB) avalia que o Velho Chico ainda não está em coma, mas é um paciente na UTI. “Todo rio começa a morrer pela sua foz. Quando o rio não tem água para adentrar ao mar, é o mar que adentra ao rio. Há 50 anos o Rio São Francisco rasgava o mar por 12 a 15 quilômetros. Hoje é o mar que está adentrando no São Francisco. Nós já identificamos peixes naturais do mar em Penedo, e até em Traipu, a mais de 100 quilômetros da foz”.   O presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, Anivaldo Miranda, também avalia como irreversíveis os danos ambientais ao rio. “Quando você diminui a vazão abaixo da mínima de restrição ou vazão ecológica, a flora e a fauna são atingidas duramente, principalmente os peixes. Se a vida do São Francisco já tinha sofrido muito com as construções das barragens, há três ou quatro décadas, agora está sofrendo muito mais, principalmente no Baixo São Francisco. Mas é possível fazer uma recuperação, não de tudo que havia anteriormente, mas algumas medidas podem melhorar a qualidade da vida ambiental do rio”.   Vazão controlada   A presença de sete usinas hidrelétricas em sua calha é apontada com a maior responsável pelos danos ao São Francisco. Elas produzem 10.356 megawatts de energia, mas comprometem cerca de 80% da vazão, afetando o ciclo natural de cheias e vazantes de um rio de pequena declividade. São apenas 7,4 cm por km na maior parte de sua extensão, entre Pirapora (MG) e Juazeiro (BA).   [caption id="attachment_7195" align="alignright" width="151"]Anivaldo Miranda cobra responsabilidades da Chesf Anivaldo Miranda cobra responsabilidades da Chesf[/caption] Inácio Loyola atribui à Chesf a responsabilidade pelos danos ao rio. “Estudos recentes entre os maiores rios do mundo colocam o São Francisco como o rio que mais perdeu água nos últimos 50 anos. 35% do seu volume d’água desapareceu por conta desse trabalho irracional feito pela Chesf nesses anos. Para se ter uma ideia, 90% das espécies de peixe do Rio São Francisco já desapareceram”. Para ele, o futuro do rio está ameaçado e só tem dois caminhos a percorrer: ou se inicia a recuperação imediatamente, ou o rio vai morrer.   Em maio deste ano, a Chesf reduziu a vazão para 1.100 m3/s, abaixo do limite considerado ecológico pela Agência Nacional das Águas (ANA), que é de 1.300 m3/s, deixando o Velho Chico com apenas um terço de suas águas após a barragem de Xingó.   Anivaldo Miranda explica que os problemas provocados pela redução da vazão atingem seriamente o abastecimento de mais de 40 municípios em Alagoas. “A Chesf tem que ser cobrada para enfrentar o problema, já que o governo federal prometeu, em dezembro do ano passado, que não haveria redução da vazão. Em maio, todos foram pegos com as calças na mão. Mas quando se fala em cobrar o preço pela compensação destes danos, o setor elétrico não abre a boca”. Anivaldo Miranda informa, ainda, que os prejuízos atingem também a navegação e a pesca artesanal, que sofreu a perda de 95% da biodiversidade abaixo de Xingó.   [caption id="attachment_7208" align="alignnone" width="378"]Cheia de Pão de Açúcar em 1960 Cheia de Pão de Açúcar em 1960[/caption]
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