O Haiti está de volta a uma Copa do Mundo após 51 anos de ausência. A classificação foi conquistada com a vitória por 2 a 0 sobre a Nicarágua nesta terça-feira, em um cenário marcado por um detalhe inusitado e simbólico: o técnico francês Sébastien Migne, à frente da equipe há 18 meses, nunca conseguiu pisar no país.

Migne, de 52 anos, não pôde entrar no Haiti devido à escalada da violência que assola a ilha desde o terremoto de 2010, intensificada nos últimos anos. Atualmente, gangues armadas controlam grande parte de Porto Príncipe, o que obriga a seleção a disputar seus jogos "em casa" em Curaçao, a cerca de 800 km de distância.

— É impossível porque é muito perigoso — relatou Migne à BBC Sports. — Normalmente moro nos países onde trabalho, mas não posso aqui. Não há mais voos internacionais aterrissando lá.

Sem condições de acompanhar o futebol local de perto, o treinador precisou montar o elenco com base em informações repassadas por dirigentes haitianos por telefone. “Eles me deram informações e eu gerenciei a equipe remotamente”, explicou.

Um vídeo que mostra o momento em que os jogadores descobrem a classificação viralizou nas redes sociais.

Veja o momento:

Com o agravamento da crise, o grupo passou a ser formado apenas por jogadores que atuam fora do país. Entre os convocados está o meio-campista Jean-Ricner Bellegarde, do Wolves. A federação ainda tenta convencer o atacante Wilson Isidor, do Sunderland — nascido na França e filho de haitianos — a defender as cores do Haiti.

A vaga coloca o Haiti novamente no Mundial, que será disputado neste verão nos Estados Unidos, México e Canadá. A única participação haitiana havia ocorrido em 1974, quando a seleção foi eliminada na fase de grupos após derrotas para Itália, Polônia e Argentina.

Além do Haiti, Panamá e Curaçao também garantiram classificação pela Concacaf. Os panamenhos venceram El Salvador por 3 a 0, enquanto Curaçao conquistou sua inédita vaga ao empatar com a Jamaica.