Vida e Saúde

Black Friday: ansiedade nas compras pode desencadear oniomania; entenda o transtorno

Maioria dos casos afeta mulheres, que só percebem o problema diante do endividamento

Agência O Globo - 28/11/2025
Black Friday: ansiedade nas compras pode desencadear oniomania; entenda o transtorno
Black Friday

A expectativa de encontrar boas ofertas na Black Friday costuma gerar ansiedade, especialmente quando o produto desejado é realmente necessário. No entanto, é fundamental manter o controle para não se deixar levar pelo impulso, extrapolar o orçamento e comprometer não apenas as finanças, mas também a saúde mental.

Um estudo realizado durante a última Black Friday pela startup de inteligência artificial Emotions Meter, especializada em analisar sentimentos nas redes sociais, identificou que a ansiedade é uma das principais emoções dos consumidores em relação à data — e essa sensação tende a se intensificar à medida que o evento se aproxima.

O clima de urgência e o marketing de escassez, características marcantes da Black Friday, podem potencializar a oniomania, transtorno caracterizado pela compulsão por compras.

De acordo com Danielle H. Admoni, psiquiatra da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), pessoas com esse perfil costumam adquirir produtos desnecessários, repetidos ou que nunca serão usados, tornando-se vítimas de um ciclo vicioso.

— A pessoa percebe que não deveria ter comprado, sente-se frustrada e acaba querendo comprar mais para compensar essa frustração — explica a médica.

As mulheres representam a maioria dos casos de oniomania. Segundo Admoni, muitas só percebem que perderam o controle quando começam a se endividar, estourar o limite do cartão de crédito e esconder das pessoas com quem convivem os itens adquiridos em excesso. A boa notícia é que a condição tem tratamento.

— Normalmente indicamos a psicoterapia para que a pessoa compreenda os motivos que a levam ao consumo compulsivo. Em alguns casos, quando a oniomania está associada a quadros depressivos, pode ser necessário o uso de medicação — esclarece Admoni.

Uma alternativa para combater o vício em compras é participar de reuniões dos Devedores Anônimos, onde é possível compartilhar experiências com pessoas que enfrentam o mesmo desafio.

Pesquisadores da Universidade Albert Einstein College of Medicine, em Nova York, verificaram que famílias de compradores compulsivos tendem a desenvolver outros transtornos, como distúrbios de humor, alimentares e dependência química.

— Outros estudos científicos mostram uma relação bastante próxima entre a oniomania, o transtorno obsessivo-compulsivo e o transtorno bipolar — afirma Adiel Rios, pesquisador do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Apesar dos riscos, o ato de comprar também pode ter efeitos positivos sobre a saúde mental. Conforme Rios, o prazer de adquirir bens desejados está associado à liberação de neurotransmissores que promovem bem-estar.

— Quando conseguimos comprar algo que queremos, há liberação de neurotransmissores que proporcionam prazer e sensação de bem-estar. Esse sentimento é normal, desde que esteja dentro de um contexto mínimo de realidade — ressalta Rios.

Sinais de oniomania

Descontrole financeiro: comprar além do que se pode pagar, gerando endividamento e mais frustração, o que alimenta o ciclo de novas compras.

Compras às escondidas: esconder as aquisições torna-se um hábito para evitar críticas de familiares ou pessoas próximas.

Peças repetidas, esquecidas ou nunca usadas: adquirir roupas ou sapatos sem experimentar, muitas vezes itens semelhantes aos que já possui, que permanecem com etiquetas e nunca são usados.

Abstinência: irritabilidade, ansiedade extrema e oscilações de humor durante períodos sem consumo. Os sintomas podem se assemelhar aos da dependência química, incluindo perda de autoestima e humor deprimido.

Sensação de culpa após a compra: após o prazer da aquisição, surge o sentimento de culpa e sofrimento, resultando em um ciclo de "prazer-luto", consequência de uma visão distorcida sobre o consumo.