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Série 'It: A Coisa' transforma Derry em microcosmo da América: 'Lidamos com temas relevantes'
Três anos e meio separam o momento em que Andy e sua irmã Barbara Muschietti anunciaram uma série prelúdio de It: A Coisa do momento em que It: Bem-vindos a Derry finalmente ganha o mundo, neste domingo, 26, na HBO Max. O longo trajeto entre a produção e o lançamento passou até mesmo por uma greve de atores e roteiristas, que interrompeu as filmagens em 2023, e outros desafios naturais de qualquer projeto, do desenvolvimento da premissa à escalação do elenco.
Mas quem assistir à série vai se deparar com episódios confiantes e sólidos, que não têm medo do terror que conquistou os fãs do filme e mergulham fundo na mitologia de Stephen King. Ambientada na mesma Derry eternizada nas páginas da obra literária It: A Coisa, a série se passa em 1962, exatos 27 anos antes dos eventos do longa de 2017.
A obra acompanha o despertar anterior de Pennywise, entidade que acorda a cada ciclo de 27 anos para se alimentar do medo dos moradores da cidade, especialmente das crianças, antes de retornar ao sono profundo.
Na trama, o incêndio no Black Spot, clube noturno da comunidade negra, deixa dezenas de mortos em circunstâncias misteriosas e marca para sempre a história da cidade. No mesmo período, Derry se torna palco de uma onda de desaparecimentos de crianças, nunca solucionados.
"Você quer fazer algo que corresponda ao alto padrão que Andy e Barbara estabeleceram e que Stephen King iniciou com seu livro brilhante", confessa o roteirista e showrunner Jason Fuchs sobre os riscos da série, em entrevista com a participação do Estadão. Para ele, o maior desafio era criar algo que honrasse esses materiais originais, mantendo o alto padrão estabelecido anteriormente.
Brad Caleb Kane, co-showrunner, completa: "O maior risco criativo para mim foi mostrar ao público logo de cara que ninguém está seguro", declara, adiantando que tipo de expectativa os fãs devem manter durante os oito episódios da primeira temporada. "E também aprofundar a mitologia de Pennywise. Há um risco ao desmistificar algo que é simplesmente místico."
Pennywise em suas várias formas
A aparição da entidade cósmica metamorfa que aterroriza Derry é um dos pontos principais da temporada, que conta com o retorno de Bill Skarsgård ao personagem que o levou ao estrelato. Mas não espere ver o palhaço dançante logo nos primeiros episódios.
Embora suas origens sejam exploradas com um pouco mais de profundidade, isso não significa que ele estará presente todo o tempo na temporada. Ao menos não como se espera.
"Pennywise está em uma boa parte da série. Leva um tempo para ele aparecer nesta encarnação que conhecemos, mas não demoramos muito para mostrar que trata-se de uma entidade", explica Caleb Kane. Segundo o roteirista, a entidade de It - o mal em si - já está ativa e assombrando os personagens desde cedo, mesmo que isso não fique necessariamente escancarado.
"Temos muitos sustos, mas queríamos construir um mundo. Queríamos construir personagens. Queremos que o público seja conduzido em uma jornada por uma história com personagens que as pessoas querem ver de episódio em episódio", complementa.
Mas Fuchs promete que a espera valerá a pena. "Nós queríamos brincar com as expectativas do público e aumentar essa tensão em torno dele. Andy encontrou uma forma brilhante, visualmente e em tema, de finalmente apresentar nossa versão de Pennywise, nossa versão de Bill como Pennywise no contexto da série. Tivemos a oportunidade de brincar com essa antecipação."
Preparação e o multiverso King
It: Bem-Vindos a Derry está planejada para três temporadas, em progressão temporal regressiva: a segunda será ambientada em 1935 e a terceira em 1908. A inspiração para as histórias está sempre nos interlúdios do livro original de King, de forma a expandir o entendimento do mal que assombra Derry e suas origens.
Em se tratando dessa adaptação, a dupla explica que o principal trabalho foi identificar os elementos não utilizados nos filmes e que ainda poderiam ser expandidos em um seriado. O segundo ano, por exemplo, vai abordar o massacre da gangue Bradley e o terceiro, a explosão na Kitchener Ironworks.
Fuchs já adianta que a primeira temporada fornece pistas do que o público verá adiante, mas reforça que o foco é desenvolver cada uma individualmente.
"Há um plano muito específico para três temporadas sobre o qual conversamos com Andy e Barbara, mas quando você está lidando com oito horas de televisão, você quer executá-las em alto nível e focar nelas, enquanto também estabelece as bases para onde os anos dois e três podem te levar", esclarece.
A única certeza que Fuchs e Kane garantem é que há material o suficiente para que fãs desbravem e encontrem diversas referências a outras obras de Stephen King. Diferentemente dos filmes, que não tiveram tempo de explorar isso, a série - com oito horas de narrativa - pôde mergulhar mais fundo nas ligações entre It e o restante do universo King.
"Estamos muito cientes das conexões entre It e os personagens, histórias e entidades no universo expandido de Stephen King, e vamos acessar lugares muito interessantes da mitologia desse macroverso", adianta Jason Fuchs. "Não quero dar spoilers sobre aonde a série vai, mas nós estamos aproveitando essas oportunidades. Há pequenas pistas até mesmo no episódio piloto que os nerds de Stephen King, como Brad e eu, vão perceber."
Segundo o autor, uma das principais referências é o estabelecimento de uma conexão com A Torre Negra. "Não sei o quanto as pessoas sabem sobre os livros, mas pode ser que elas ouçam um 'thankee sai' aqui e ali." Na série literária, que conta com oito livros, alguns personagens usam um idioma fictício chamado de Língua Superior. O termo "thankee sai" significa "obrigado".
1962, mais atual do que nunca
A trama da primeira temporada de Bem-Vindos a Derry traz um elemento que Fuchs e Kane consideram primordial para que contar essa história faça sentido em 2025.
Segundo eles, ao abordarem uma narrativa que se passa nos Estados Unidos da década de 1960, e que se desenrola após um major da Força Aérea americana, negro, se mudar para a cidade com a família, alguns elementos, como tensões sociais e raciais, criam uma conexão forte com o presente.
"Nós estamos contando uma história de It, que é basicamente sobre uma entidade que se alimenta do medo das crianças para dividir e conquistar", ressalta Kane. "E nós estamos contando essa historia nos Estados Unidos de 1962, então muitas coisas se tornam óbvias."
Ele detalha: "Derry é essencialmente um microcosmo da América. Estamos lidando com temas que são relevantes atualmente, que são a exploração e instrumentalização do medo para dividir, conquistar e controlar. Percebi que, quanto mais fundo formos nesses temas, mais interessante a série é para mim, e espero que também para o público. É claro que precisamos criar sustos e medos muito pessoais e viscerais. Mas a ambientação da série nos permitiu pegar o que é inerente à entidade no livro e tornar esses elementos super-relevantes."
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