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Atriz e cineasta Vitória Vasconcellos retorna ao Brasil com produções inéditas

09/01/2023
Atriz e cineasta Vitória Vasconcellos retorna ao Brasil com produções inéditas

A atriz e cineasta Vitória Vasconcellos retornou ao Brasil com “Solum”, filme que escreveu, dirigiu e protagonizou durante a pandemia, nos Estados Unidos. A produção foi um dos destaques do CINE PE – Festival Audiovisual, se tornando o maior vencedor da categoria, com quatro prêmios, entre eles “melhor roteiro”, “melhor edição”, “melhor fotografia”, e o mais emocionante, o de “melhor curta pernambucano no juro popular”.

– Ser escolhida pelo público é algo muito especial, porque mostra que nosso trabalho teve um significado e fez a diferença na vida das pessoas. A pandemia foi um período de solidão autoimposta, que me fez pensar em como dependemos da conexão humana para sermos nós mesmos. Que talvez a essência da existência em si, é a coletividade. Eu queria traduzir esse período de frustação fazendo um filme subjetivo, que dialogasse com as consequências desse isolamento na alma de uma pessoa introvertida que não domina a linguagem da sociedade. Alguém que quer fazer parte, mas não consegue sair da margem, ser “normal” – explica.

A trama acompanha uma garota solitária com tendências peculiares que descobre um corpo numa floresta, criando uma fantasia que pode preencher sua vida vazia, mas também levar à sua própria ruína. De gênero fantástico, a produção usa referências do cinema fantasioso de Guilhermo Del Touro.

– Eu considero que nosso filme é uma espécie de homenagem a ele, que me mostrou um jeito de entender a crueldade do mundo por meio da magia do cinema. Buscamos utilizar de um simbolismo e uma audácia visual, semelhante ao que vemos em obras como “O Labirinto do Fauno” e “A Forma da Água” – acrescenta.

Assim como suas obras, a vida da pernambucana é digna de um roteiro. Saiu do país ainda cedo, com o sonho de fazer cinema e decidiu pela University of Southern California (USC), reconhecida como a melhor do mundo na área, formando nomes como George Lucas e John Carpenter. Entretanto, um acontecimento inesperado quase colocou tudo a perder: em 2018, quando gravava um de seus primeiros projetos, foi atropelada por um carro no set de filmagens.

– Foi um momento de incerteza no qual tive que reaprender a andar. O curta que fiz nesse período foi o renascimento do meu amor pelo cinema, pela vida, e a confirmação de que é por meio da arte que eu posso contribuir para o mundo. “Pathei Mathos” fala da experiência de estresse pós traumático, e foi exibido em mais de 30 festivais ao redor do mundo, sendo selecionado para o mercado do Festival de Cannes. O filme está disponível gratuitamente na FilmShortage, plataforma exclusiva para curta-metragens – conta.

Em 2021, foi uma das cineastas emergentes selecionadas para o laboratório de desenvolvimento do Festival Internacional de Cinema de Toronto (TIFF), um dos mais importantes do mundo. Durante o processo, realizou seu terceiro filme, “Bleed, don’t die” (“Sangra, não morre”), e foi agraciada com o prêmio TIFF Canadá Goose Share Her Journey.

– É um curta distópico focado em duas irmãs que tentam consertar seu relacionamento conflituoso no dia em que um apocalipse vai destruir o mundo. Terminamos de gravar recentemente, e estamos planejando os próximos passos, inscrevendo-o em festivais. A expectativa é estrear nos próximos meses – detalha.

Fora das câmeras, Vitória escreveu, dirigiu e protagonizou o monólogo teatral “Clarice e o significado de tudo”, que retrata os três dias de coma da escritora Clarice Lispector, após um incêndio em sua casa. O espetáculo foi realizado em Los Angeles (EUA), e adquirido pela Portela Produções do Brasil. Atualmente, a atriz trabalha em uma adaptação para os teatros nacionais, que será produzida em parceria com Adriano Portela.

– A peça foi feita como um projeto de conclusão de curso no Conservatório Stella Adler. A proposta era escolher um artista que tem influenciado minha jornada e a resposta foi imediata: Clarice. Passei a infância lendo os seus contos e sempre senti uma conexão muito forte com sua busca pela essência das coisas. De certa forma, é pela lente da sua obra que aprendi a ver o mundo. A nova versão deverá ter uma hora de duração, e estrear em recife em 2023.