RJ em Foco
Moradores são surpreendidos por desapropriação de terreno ocupado por supermercados há 50 anos
Prefeitura do Rio planeja vender imóvel à FGV, enquanto Grupo Sendas afirma já ter contrato com nova rede. Medida causa apreensão entre vizinhos.
Um decreto municipal publicado no fim de novembro deu início ao processo de desapropriação de um tradicional terreno em Botafogo, no Rio de Janeiro, acirrando a polêmica entre moradores, prefeitura e proprietários. O imóvel, situado na Rua Barão de Itambi, abriga há mais de 50 anos supermercados e foi declarado de utilidade pública para "fim de renovação urbana" pelo prefeito Eduardo Paes. O plano da prefeitura prevê a venda do local por "hasta pública", em que o governo arbitra o valor e interessados disputam a propriedade.
A decisão surpreendeu os moradores da região, que defendem a permanência da atividade econômica no local. Em entrevista à rádio CBN Rio nesta terça-feira, Paes afirmou que a iniciativa partiu de uma solicitação da Fundação Getulio Vargas (FGV), interessada em construir ali um centro de pesquisa e inteligência artificial.
— Recebi um pleito da FGV. Eles querem fazer um centro de pesquisa, inteligência artificial, o que seria uma grande vantagem para a cidade. Já publiquei o decreto e pedi detalhes do projeto à FGV. Se for mais interessante para o Rio, vamos seguir. O mercado estava desativado, era a informação que eu tinha, e podemos ter outro em qualquer lugar — declarou o prefeito.
Proprietário contesta decisão
O Grupo Sendas, proprietário do imóvel, contesta a versão da prefeitura. Segundo Arthur Sendas Filho, executivo do grupo, até novembro o prédio era alugado ao Grupo Pão de Açúcar, que optou por não renovar o contrato. No entanto, já existe acordo fechado com a rede Mundial, que iniciará adaptações para operar no local a partir de 1º de janeiro. A troca de bandeira foi aprovada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
— A informação não procede. O prédio não está desativado. Já temos contrato com a Mundial, que inicia operações em janeiro. Tentamos três vezes marcar reunião com o prefeito, sem sucesso, e encaminhamos notificação extrajudicial. Vamos recorrer à Justiça, pois entendemos que há desvio de finalidade — afirmou Arthur Sendas Filho.
O empresário ainda destacou que, mesmo com a saída do Pão de Açúcar, o edifício não ficou totalmente inativo, pois uma academia segue em funcionamento em um dos andares. Ele também revelou que, anos atrás, a FGV sondou o interesse do grupo em negociar o terreno, mas não houve acordo.
Procurada, a assessoria do prefeito informou que o tema já foi esclarecido na entrevista à CBN. Em nota, a FGV confirmou o interesse no terreno, afirmando que "a intenção é criar um grande centro de tecnologia e pesquisa em IA que seja referência no Rio e no Brasil".
O mecanismo de desapropriação por hasta pública, previsto no Plano Diretor, já foi utilizado em outras ocasiões, como na compra de um terreno no Caju pelo Flamengo, onde o clube planeja construir seu estádio. O procedimento também tem sido aplicado para negociar imóveis abandonados no Centro da cidade.
Para o vereador Pedro Duarte (sem partido), membro da Comissão de Assuntos Urbanos da Câmara, o caso não justifica o interesse público alegado. — Esse caso não se enquadra em qualquer situação que envolva o interesse público. Além disso, a FGV tem vários andares alugados que poderiam ser aproveitados pela própria entidade — declarou.
Mais lidas
-
1TECNOLOGIA MILITAR
Revista americana destaca caças russos de 4ª geração com empuxo vetorado
-
2CRISE INTERNACIONAL
UE congela ativos russos e ameaça estabilidade financeira global, alerta analista
-
3TENSÃO INTERNACIONAL
Confisco de ativos russos pode acelerar declínio da União Europeia, alerta jornalista britânico
-
4DIREITOS TRABALHISTAS
Segunda parcela do décimo terceiro será antecipada: veja quando cai o pagamento
-
5CIÊNCIA E TERRA
Núcleo interno da Terra pode ter estrutura em camadas semelhante à de uma cebola, aponta estudo