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‘Operações-ensaio’: Bope fez preparativos em comunidades antes de megaoperação no Alemão e Penha
Em depoimento à Promotoria, o tenente-coronel Marcelo Corbage revelou que, durante 75 dias, foram realizadas ações para avaliar o grau de periculosidade da Operação Contenção
O Batalhão de Operações Especiais (Bope) realizou, por mais de dois meses, uma série de ações preparatórias para a megaoperação nos complexos do Alemão e da Penha, na Zona Norte do Rio. Conhecidas como ‘operações-ensaio’, essas incursões tinham como objetivo avaliar o grau de periculosidade, a capacidade de resistência e o comportamento dos criminosos do Comando Vermelho (CV) em áreas conflagradas. As ações ocorreram em diversas comunidades do subúrbio carioca, como Cidade de Deus e Complexo do Lins.
A informação foi apresentada pelo tenente-coronel Marcelo Corbage, comandante do Bope, em depoimento à Promotoria que investiga a ação policial no confronto que resultou em 121 mortes — incluindo quatro policiais — no dia 28 de outubro.
De acordo com Corbage, ao longo de 75 dias foram realizadas operações como “treinamento para o cenário da Operação Contenção”. Essas operações ocorreram nas comunidades da Cidade de Deus e Gardênia Azul, no Complexo do Lins, na comunidade Dois Irmãos, além do próprio Complexo do Alemão e de favelas próximas à Vila Cruzeiro, como Juramentinho, Trem, Ipase, Fé e Terra Prometida — todas sob domínio da facção criminosa.
Após essa série de ações, uma delas resultando em um policial gravemente ferido, ficou decidido que a entrada da corporação no Complexo do Alemão deveria ser feita com força de infantaria, ou seja, com o maior número possível de agentes distribuídos por diversos pontos do território.
Corbage também negou que policiais do Bope tenham se posicionado previamente na Serra da Misericórdia para montar uma emboscada conhecida como “tróia”. Segundo ele, os traficantes já estavam entrincheirados em bunkers espalhados pela região, o que exigiu o fracionamento dos grupos criminosos, mantendo-os restritos às suas localidades.
Durante os resgates dos agentes atingidos, dois policiais do Bope morreram e outros sete ficaram feridos. Ainda conforme Corbage, as equipes do batalhão eram as únicas que contavam com paramédicos.
Ele destacou que a agressividade dos criminosos foi fora do comum. Normalmente, há um primeiro confronto seguido por tentativas de fuga, mas, desta vez, os criminosos resistiram e sustentaram o embate de forma inédita.
Indagado sobre possíveis falhas na condução da operação, o comandante afirmou que “não se trata de erro, mas sim de uma estratégia inédita adotada pelos traficantes, que se retiraram da região edificada e se posicionaram previamente na Vacaria”. Essa movimentação foi identificada por imagens de drones da Polícia Civil.
Corbage relatou ainda que os criminosos demonstraram domínio de técnicas militares incomuns para traficantes.
Na progressão do Bope pela área, foi utilizado gás lacrimogêneo para tentar retirar os criminosos das trincheiras e reduzir a letalidade, na expectativa de que o uso do gás pudesse levar à rendição dos traficantes. A estratégia permitiu que o Bope alcançasse rapidamente o topo da Serra da Misericórdia.
O Bope chegou à região do Alemão por volta das 5h e acessou o alto da serra pelas ruas Augusto Souza, Ministro Moreira de Abreu e pela comunidade da Pedra do Sapo. No trajeto, 17 criminosos foram presos. Segundo Corbage, outros 32 corpos encontrados na área não foram mortos em um único confronto, mas estavam espalhados em diferentes pontos.
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