O senador Fabiano Contarato (PT-ES), presidente da recém-instalada CPI do Crime Organizado no Senado, afirmou nesta quinta-feira, 5, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi "infeliz" ao declarar que o traficante é uma vítima dos usuários.

A declaração de Lula ocorreu ao criticar a política do então presidente norte-americano Donald Trump, que priorizava o combate militar aos cartéis do narcotráfico na América Latina. Na ocasião, Lula sugeriu que há uma relação de dependência entre traficantes e usuários, defendendo que os Estados Unidos enfrentem internamente o consumo de drogas, em vez de promoverem ações militares externas. Posteriormente, o presidente reconheceu que a frase foi "mal colocada".

"Foi infeliz na colocação", afirmou Contarato em entrevista ao jornal O Globo. "Temos que entender que o traficante é o que há de mais pernicioso dentro da sociedade brasileira. O traficante mata. Por isso, defendo mais rigor, inclusive no aumento das penas para o tráfico de entorpecentes."

À frente da CPI, o senador ressaltou que o foco dos trabalhos será seguir o "fluxo do dinheiro" das facções e milícias, além de investigar a conduta de agentes públicos. "Aquilo ali não é palco para pirotecnia nem discurso eleitoral. A CPI precisa jogar luz sobre a segurança pública, ver quem tem responsabilidade e o que é necessário fazer para reduzir a criminalidade", destacou.

Contarato também reconheceu que a segurança pública é um desafio para a esquerda. "Passou da hora de entender que segurança pública tem que ser tratada com responsabilidade. E essa responsabilidade precisa deixar de ser vista sob um olhar romantizado. Passou da hora de o campo progressista assumir essa pauta, porque ela é apartidária. Essa é uma determinação constitucional, independentemente de partido", declarou.

O senador informou ainda que a comissão aprovou convite para convocar o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), após a operação policial que resultou em 121 mortos nos complexos da Penha e do Alemão.

Sobre a eficácia dessas operações, Contarato, que é delegado de carreira, ponderou: "O que não pode é a sociedade continuar alarmada diante de operações que vitimam dezenas de pessoas. A gente sempre precisa perguntar: a operação foi bem-sucedida? Restituiu a paz social? No caso da mais recente, tivemos 121 mortos, entre eles quatro policiais, e um dos alvos não foi capturado. Então, ela foi um sucesso?", questionou.