Em novo depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF), o tenente-coronel Mauro Cid afirmou que o ex-presidente Jair Bolsonaro mandou alterar a chamada “minuta do golpe” com o objetivo de retirar nomes de autoridades que seriam presas em caso de ruptura institucional — entre elas, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL). “Ele [Bolsonaro] enxugou a lista. Livrou a cara de muita gente. Só Alexandre de Moraes continuava como alvo de prisão”, disse Cid ao ministro Alexandre de Moraes, relator do inquérito.

O documento, elaborado inicialmente pelo ex-assessor Filipe Martins, previa a prisão de ministros do Supremo Tribunal Federal, do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, e de outras figuras do Judiciário e do Congresso. Com as alterações pedidas por Bolsonaro, a nova versão passou a citar apenas Moraes como alvo de detenção, enquanto os demais seriam beneficiados com habeas corpus preventivo.

Segundo Cid, as mudanças foram feitas diretamente por Filipe Martins, na frente de Bolsonaro, que acompanhou o processo de reescrita. “O presidente leu, pediu as mudanças, e o Filipe mexeu no texto na hora”, relatou o ex-ajudante de ordens. Após a “limpeza” no documento, a nova versão da minuta foi apresentada a generais das Forças Armadas, como tentativa de angariar apoio ao plano.

A informação reforça o envolvimento direto de Jair Bolsonaro na elaboração do documento antidemocrático e demonstra como o então presidente tentou proteger aliados próximos, como Arthur Lira, de qualquer consequência em um eventual golpe de Estado. Ainda de acordo com Cid, a estratégia era garantir apoio político e institucional antes de uma ação de ruptura.

A fala de Cid compõe parte do material investigativo da operação Tempus Veritatis, que apura a organização de uma tentativa de golpe por parte de membros do governo Bolsonaro e aliados civis e militares.