Política

Salles e Boulos dão novos passos no xadrez político em SP a um ano da eleição

Ex-ministro do Meio Ambiente retoma articulação por candidatura, enquanto deputado do PSOL formaliza conselho estratégico da campanha

Agência O Globo - GLOBO 04/10/2023

A um ano da eleição municipal, pré-candidaturas à esquerda e à direita ganharam tração em São Paulo com novas movimentações, em público e nos bastidores. Enquanto o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) marcou para esta quinta-feira a primeira reunião de seu recém-formado conselho político, o colega de Câmara Ricardo Salles (PL) voltou a articular o projeto eleitoral — deixado de lado há quatro meses após atritos com o presidente da legenda, Valdemar Costa Neto.

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Boulos deve reunir lideranças de todos os partidos da aliança em um evento no centro de São Paulo. Além de PSOL e PT, que abriu mão de candidatura própria para apoiar o aliago e que deve ficar com a vice da chapa, farão parte do comitê que discutirá as estratégias da pré-campanha dirigentes de PCdoB, PV e Rede Sustentabilidade.

O ex-coordenador nacional do MTST Josué Rocha e o presidente municipal do PT, Láercio Ribeiro, farão parte do grupo, além de nomes como Débora Pereira (MTST), Juliano Medeiros (que deixou a Presidência do PSOL no último domingo), Paula Coradi (a nova presidente da sigla), os deputados estaduais petistas Donato, Simão Pedro e Paulo Fiorilo, entre outros, como revelou o Valor Econômico.

Enquanto a esquerda está unificada em torno de uma candidatura, no campo da direita estão as maiores indefinições. Salles se encontrou com o ex-presidente Jair Bolsonaro em Brasília na semana passada para tratar da candidatura, reunião da qual teria saído com aval para tocar o plano. O ex-ministro do Meio Ambiente abandonou a empreitada meses atrás em meio à indisposição da legenda, que integra a base do prefeito emedebista Ricardo Nunes, em bancar sua candidatura.

O gesto se dá em meio ao insucesso de Bolsonaro e Nunes formalizarem uma aliança convincente. O presidente municipal do PL, vereador Isac Félix, rechaçou a possibilidade de o ex-ministro do Meio Ambiente poder ser candidato pelo partido.

— Pelo PL ele não será candidato. Ele mesmo sabe disso. Não falou comigo, não falou com o Antonio Carlos Rodrigues e nem com o Valdemar (Costa Neto), que inclusive ele fala mal todos os dias — disse Isac. — Se o Salles quer ser candidato, que renuncie ao mandato e se lance. Usar o PL de trampolim, não. O PL está com o Ricardo Nunes — completou.

A retomada de uma candidato é vista com ressalvas mesmo por aliados do deputado federal, que lembram das críticas públicas que Salles tem feito, dia após dia, a Valdemar.

No sábado, por exemplo, compartilhou uma reportagem que citava eventual apoio de Valdemar à indicação de Flávio Dino ao Supremo Tribunal Federal e escreveu: “Está no DNA, não adianta…”. Em outra ocasião, ao comentar a possível aliança entre PT e PL nas eleições municipais, afirmou que o centrão não tem freio ideológico, “apenas circunstancial em torno de espaços, verbas, cargos e emendas”.

Parte dos bolsonaristas acredita que o plano de Salles é conseguir a benção de Bolsonaro para se desfiliar ao PL e disputar a prefeitura por um partido menor.

Outro entrave à candidatura de Salles é o governador Tarcísio de Freitas, que embora não tenha formalizado apoio a Nunes, tem reforçado publicamente a boa relação com o prefeito. No sábado, durante lançamento da campanha de multivacinação do estado, ele chamou Nunes de “presente” que recebeu e disse que é “muito fácil” trabalhar com o chefe do Executivo paulistano.

Ainda que tenha o apoio da cúpula do PL e do governador, Nunes tem enfrentado problemas com o núcleo ideológico por hesitar abraçar publicamente o bolsonarismo, o que, na visão de parte da campanha, poderia criar um teto ao crescimento do prefeito nas pesquisas. Fabio Wajngarten, ex-secretário especial de Comunicação de Bolsonaro e aliado próximo do ex-presidente, chegou a mandar uma indireta para o prefeito nas redes sociais, dizendo que “ninguém se apropriará de votos bolsonaristas e deixará Bolsonaro distante”.

Para minimizar o mal-estar, Nunes tem buscado se aproximar mais do entorno do prefeito. No dia da greve que paralisou trens e metrô em São Paulo contra os planos de privatização do governo estadual, ele recebeu o principal deputado bolsonarista da Alesp — e aliado de Salles —, Gil Diniz (PL), em seu gabinete no Palácio do Anhangabaú. Diniz rasgou elogios a Nunes.

"Hoje, o caos criado por sindicalistas inconsequentes mostrou ao nosso povo o que será de São Paulo se a extrema-esquerda chegar ao poder por aqui. Falei ao Prefeito sobre a minha lealdade ao Presidente Jair Bolsonaro e ao Deputado Eduardo Bolsonaro e me coloquei à disposição para apoiar os bons projetos nessa cidade tão amada por nós!", escreveu o deputado ao publicar uma foto com Nunes.

A greve desta terça-feira voltou a movimentar o xadrez político de São Paulo. Como mostrou O GLOBO, Tarcísio e Ricardo Nunes associaram a paralisação a uma suposta motivação eleitoral do PSOL, lembrando o fato de a presidente do sindicato dos metroviários, Camila Lisboa, ser filiada à legenda.

O líder sem-teto teve de se esquivar da polêmica e se limitou a cobrar do governador mais diálogo com os grevistas. Interlocutores de Boulos admitem que o episódio trouxe desgastes desnecessários à campanha, mas dizem que também expôs a falta de diálogo do governador com os movimentos sociais.