Política

Paes dá posse a irmão de Brazão e confirma aliança com Republicanos e Igreja Universal para 2024

Novo secretário de Ação Comunitária da prefeitura do Rio é da família de investigado no caso Marielle

Agência O Globo - GLOBO 04/10/2023
Paes dá posse a irmão de Brazão e confirma aliança com Republicanos e Igreja Universal para 2024
Eduardo Paes - Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

O prefeito do Rio,  Eduardo Paes (PSD), empossou nesta terça-feira o deputado federal Chiquinho Brazão (União-RJ) como novo secretário municipal de Ação Comunitária. Indicado ao cargo pelo Republicanos, partido do ex-prefeito Marcelo Crivella, Chiquinho é irmão do ex-deputado e conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE) Domingos Brazão, investigado por envolvimento no caso do assassinato da vereadora Marielle Franco em 2018.

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A nomeação ocorre dois dias depois de o colunista do GLOBO Bernardo Mello Franco ter revelado que o caso foi remetido pela Justiça estadual do Rio para o Superior Tribunal de Justiça (STJ), devido a novos indícios de um suposto envolvimento de Brazão, que tem foro privilegiado como conselheiro do TCE.

Ao GLOBO, Paes afirmou que "cobra a Justiça desde 2018 para que a gente descubra quem matou e quem mandou matar Marielle". O prefeito argumentou que Chiquinho "não tem nenhum envolvimento" nas investigações, e disse que Domingos tem "presunção de inocência e direito à defesa".

Paes também minimizou eventuais desgastes com partidos de esquerda, que hoje formam sua base, após a nomeação do irmão de Brazão. Segundo o prefeito, a aliança com o Republicanos surgiu de um pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao presidente estadual do partido, Wagner dos Santos Carneiro, o Waguinho, marido da ex-ministra do Turismo Daniela Carneiro. Há cerca de um mês, Lula incorporou o Republicanos à sua gestão com a nomeação do deputado Silvio Costa Filho (Republicanos-PE) ao Ministério de Portos e Aeroportos.

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-- Estamos seguindo em nível local uma aliança que o presidente Lula acabou de fazer a nível nacional. Waguinho me indicou o deputado Chiquinho Brazão, que é um cara correto. Essa conversa só fluiu a partir da entrada do Republicanos na base do governo Lula — disse Paes.

Eleito pelo União Brasil, Chiquinho Brazão ingressou com pedido de desfiliação juntamente com a bancada de deputados federais do partido no Rio, que inclui a ex-ministra Daniela Carneiro. Embora ainda aguarde o aceite da Justiça Eleitoral, o representante dos Brazão já dá as cartas dentro do Republicanos na capital fluminense desde o primeiro semestre.

O novo secretário afirmou que o ato desta terça-feira faz parte de um acerto para que o Republicanos apoie a reeleição de Paes em 2024. Segundo Chiquinho, o assunto foi tratado com Waguinho e também com o presidente nacional do Republicanos Marcos Pereira. A posse foi acompanhada pelos três vereadores da legenda ligados à Igreja Universal, entidade religiosa com influência desde a fundação do partido: Inaldo Silva, João Mendes de Jesus e Tânia Bastos.

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Uma das maiores resistências à aliança do Republicanos com Paes partiu de Crivella, também ligado à Universal -- ele e o presidente do partido, Marcos Pereira, são bispos licenciados da igreja. O ex-prefeito foi adversário do grupo de Paes nas últimas duas eleições cariocas. Nas últimas semanas, Paes fez acenos de pacificação a aliados do ex-prefeito.

-- Não posso falar pelo Crivella, por quem tenho o maior respeito, mas esta aliança com Paes foi feita através do presidente nacional, Marcos Pereira, e do Waguinho. Sempre haverá alguma insatisfação, mas a maioria do Republicanos vai caminhar com a reeleição do Paes — declarou Chiquinho.

À exceção do próprio Domingos, a cerimônia de posse de Chiquinho reuniu os integrantes do clã Brazão com atuação política, incluindo seu irmão Pedro, deputado estadual, e a irmã Lucia, presidente do diretório municipal do Republicanos. Kaio Brazão, filho de Domingos, foi saudado por Paes e chamado de "futuro vereador" no evento. Ele deve ser candidato pelo Republicanos na capital.

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Na posse, Chiquinho agradeceu a presença da antecessora na pasta, Marlí Peçanha, atual subprefeita de Jacarepaguá, e disse que a partir desta quarta-feira iniciará um "raio-X da secretaria" para definir seus focos de gestão.

Reações na esquerda

A aliança de Paes com a família Brazão despertou ressalvas entre partidos de esquerda, tanto entre os que formam a base aliada quanto na oposição ao prefeito. O presidente municipal do PT, Tiago Santana, afirmou que a nomeação traz uma "luz amarela" na aliança de Paes, mas ponderou que a ampliação da base partidária do atual prefeito segue a lógica de "aliança ampla" do governo federal.

-- Traz um questionamento? Traz. Mas não inviabiliza a aliança com o PT. Entendemos que toda investigação pressupõe direito à defesa, e o prefeito faz um governo de coalizão política. Seguiremos acompanhando as investigações, sabendo que nem o PT, e certamente nem Paes vão admitir qualquer vinculação comprovada ao caso Marielle — afirmou Santana.

O PT, com três secretarias municipais, é o maior aliado na esquerda de Paes, que também costurou aliança com PDT e PSB, incluindo cargos na prefeitura.

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Hoje filiado ao PT, o atual presidente da Embratur, Marcelo Freixo, um dos principais aliados de Marielle quando ambos integraram o PSOL, evitou se alongar sobre a aliança entre Paes e a família Brazão, e afirmou que a "responsabilidade é de quem nomeia".

Opositor de Paes e pré-candidato do PSOL à prefeitura do Rio, o deputado Tarcísio Motta, antigo correligionário de Marielle, criticou a nomeação do novo secretário de Ação Comunitária.

-- Isso demonstra que o atual prefeito tem priorizado fazer alianças com grupos que são apontados como responsáveis por muitas mazelas que tomam conta da nossa cidade atualmente - afirmou Motta.