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Perfil: Herdeiro do chavismo, Nicolás Maduro disputa reeleição sob risco de precipitar o fim do ciclo de poder na Venezuela

Após 11 anos de poder, sem o carisma de seu antecessor e desgastado interna e externamente, presidente venezuelano enfrenta pleito mais difícil em 25 anos de chavismo

Agência O Globo - GLOBO 28/07/2024
Perfil: Herdeiro do chavismo, Nicolás Maduro disputa reeleição sob risco de precipitar o fim do ciclo de poder na Venezuela
Maduro - Foto: Reprodução

Quando em 8 de dezembro de 2012, o então presidente da Venezuela, Hugo Chávez, anunciou que “minha opinião firme, plena como a lua cheia, irrevogável, absoluta, total é que, em caso de que sejam convocadas novas eleições vocês escolham Nicolás Maduro como presidente”, sua decisão surpreendeu chavistas e opositores. Hoje, passados 12 anos, está claro que Maduro, de 61 anos, foi o escolhido por duas características centrais: lealdade e absoluta entrega ao projeto de poder do líder bolivariano.

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Nos últimos 11 anos, após ser eleito em abril de 2013 por uma vantagem inferior a 2 pontos percentuais em relação ao segundo colocado, o chefe de Estado tentou viver do legado de Chávez, e não conseguiu construir um projeto próprio. Muito menos exibir resultados positivos para a Venezuela em termos econômicos, sociais e políticos. O país viveu numa permanente montanha-russa, com ondas de protestos e repressão, que custaram a Maduro denúncias de violações dos direitos humanos na ONU, uma investigação no Tribunal Penal Internacional (TPI) e mais de mil sanções internacionais.

O desgaste é grande, num país no qual a educação e saúde públicas estão em estado calamitoso. O chavismo argumenta que as sanções, defendidas por setores da oposição — que também chegaram a pedir uma intervenção estrangeira —, asfixiaram a Venezuela e impediram o presidente de governar. A realidade é que Maduro não conseguiu garantir nem estabilidade política, nem prosperidade econômica, como esperava Chávez, e isso explica porque enfrenta a eleição mais difícil para o chavismo em 25 anos no poder.

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Amigos de infância e ex-companheiros da vida política do presidente que hoje buscará a segunda reeleição admitem que Maduro chegou onde chegou porque “sempre fez o que lhe pediram”. O presidente conquistou a confiança de Chávez e do governo cubano, aliado fundamental da Venezuela chavista, por sempre ter sido “uma pessoa que cumpria ordens sem questionar”.

Quando assumiu, Maduro teve de conquistar a confiança do mundo militar e de amplos setores do chavismo que não concordaram com sua escolha. No caminho fez concessões e selou um pacto com a cúpula das principais forças de seguranças, também consideradas responsáveis pelo recrudescimento da repressão.

Sem formação universitária e com um passado de funcionário do metrô de Caracas, líder sindical — como fora seu pai —, e militante da esquerda, Maduro conheceu Chávez quando o ex-presidente estava preso, após liderar dois levantes militares, no início da década de 1990. Quando o comandante foi indultado e lançou seu partido, Maduro se uniu imediatamente e defendeu a via eleitoral e democrática como caminho para chegar ao poder. Foi deputado, presidente da Assembleia Nacional e chanceler. Foi, também, uma das pessoas que esteve mais perto de Chávez em seus últimos meses de vida.

Hoje, enfrenta o desafio de se tornar o homem que precipitou o fim do ciclo de poder chavista. Se conseguir uma segunda reeleição, deverá enfrentar sua fase mais difícil no poder, de desfecho incerto.