Geral

Amigo? Quatro vezes em que o Brasil foi alvo de interferência e pressão dos EUA

25/12/2025
Amigo? Quatro vezes em que o Brasil foi alvo de interferência e pressão dos EUA
Foto: © Foto / José Cruz / Agência Brasil

A Sputnik Brasil lista o histórico dos EUA de ingerências e tentativas de influenciar o cenário interno brasileiro.

O ano de 2025 foi marcado por uma guinada significativa na política externa dos Estados Unidos, que gerou uma série de ações diretas e pressões sobre o Brasil.

Motivado por divergências geopolíticas, a gestão do presidente estadunidense, Donald Trump, impôs altas tarifas ao Brasil, aplicou sanções da Lei Magnitsky contra membros do Judiciário brasileiro, revogou vistos de autoridades do governo e proferiu uma série de ataques e ameaças em postagens nas redes sociais.

A ação foi considerada o ataque mais direto de Washington ao Brasil nos últimos tempos, mas não foi a primeira vez que Washington interferiu no cenário interno brasileiro. A Sputnik Brasil lista cinco exemplos de interferência direta e indireta norte-americana no Brasil ao longo da história.

Participantes de desfile com retrato de Getúlio Vargas passam pela Avenida Rio Branco, no Rio de Janeiro, 2 de setembro de 1942
Participantes de desfile com retrato de Getúlio Vargas passam pela Avenida Rio Branco, no Rio de Janeiro, 2 de setembro de 1942

Governo Vargas e Segunda Guerra Mundial (1930-1945)

Durante o governo Vargas o avanço da Segunda Guerra Mundial dividiu o mundo em dois polos: as potências do Eixo, compostas por Alemanha, Itália e Japão; e as potências Aliadas, compostas pelos Estados Unidos, Reino Unido, União Soviética e China.

Inicialmente, Vargas adotou a política de equidistância pragmática, mantendo um bom relacionamento com países de ambos os lados, no intuito de obter vantagens econômicas, mesmo com simpatias em alas do governo Vargas e nas Forças Armadas pelos ideais do Eixo.

Porém, Washington pressionou o Brasil a se alinhar aos Aliados por meio de influência política e militar. Uma das táticas usadas foi condicionar o financiamento para a construção da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) ao apoio a seu lado.

Foi nesse período que os Estados Unidos instalaram bases militares no nordeste, sendo a base aérea de Natal, em Parnamirim, a mais estratégica durante a Segunda Guerra por ser o ponto mais próximo do continente com a África. Ela se tornou um ponto logístico essencial para os Aliados e recebeu o apelido de "trampolim da vitória".

Imagem das bandeiras soviética e estadunidense
Imagem das bandeiras soviética e estadunidense

Golpe militar (1964)

No período da Guerra Fria os EUA passaram a ver o Brasil como peça-chave para conter o avanço do comunismo na América Latina. Nesse período houve interferência intensa de Washington no Brasil, apoiando governos, grupos anticomunistas e a imprensa, por vezes com financiamento indireto. A ascensão de João Goulart (1961-1964) à presidência da República foi vista como ameaça por conta das reformas de base que propunha e da aproximação com sindicatos.

A mais famosa e bem documentada interferência norte-americana no Brasil nesse período foi o apoio ao golpe de 1964. Com respaldo da operação Brother Sam, um plano secreto estadunidense para fornecer apoio logístico militar, Goulart foi deposto e foi instaurado um regime militar no país, que obteve o reconhecimento imediato dos EUA.

Durante a ditadura, Washington continuou fornecendo treinamento militar, apoio bélico, financeiro e de inteligência ao Brasil, além de apoiar práticas repressivas contra dissidentes.

A matriz do Fundo Monetário Internacional (FMI), na capital dos EUA, Washington D.C
A matriz do Fundo Monetário Internacional (FMI), na capital dos EUA, Washington D.C

Onda neoliberal (1985-2002)

Com o fim da ditadura e a redemocratização do Brasil, a Casa Branca passou a influenciar o país indiretamente de forma econômica e institucional. Entre os meios usados estão o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI), que fornecia empréstimos que tinham como contrapartidas reformas estruturais no país que interessavam aos EUA.

O período de maior influência ocorreu durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, com pressão por privatizações, abertura de mercados e redução do papel do Estado.

Ex-presidente brasileira Dilma Rousseff participa da cerimônia de posse de Aloizio Mercadante como presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) na sede do BNDES no Rio de Janeiro, Brasil, em 6 de fevereiro de 2023
Ex-presidente brasileira Dilma Rousseff participa da cerimônia de posse de Aloizio Mercadante como presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) na sede do BNDES no Rio de Janeiro, Brasil, em 6 de fevereiro de 2023

Espionagem da NSA contra Dilma Rousseff (2013)

Durante os governos Lula e Dilma Rousseff (2003-2016), o Brasil buscou uma agenda internacional mais independente e calcada em parcerias com países do Sul Global e integração regional sul-americana. Em 2003, uma política externa ativa e altiva, traçada por Celso Amorim, foi instaurada visando promover o Brasil como player global relevante e liderança do Sul Global.

Em 2006, o Brasil fundou junto com Rússia, China e Índia o grupo BRIC, que teve sua primeira cúpula em Ecaterimburgo, na Rússia. A reunião foi considerada o início oficial do grupo, que em 2011 passou a incluir a África do Sul, que se tornou a letra "S" do BRICS.

A movimentação do Brasil despertou tensão nos Estados Unidos, como ficou revelado em 2013 ao vir à tona a espionagem da Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos (NSA) contra o governo Dilma, exposta pelo ex-funcionário da agência Edward Snowden e publicada no Wikileaks, plataforma criada por Julian Assange dedicada a divulgar informações confidenciais vazadas de governos e empresas.

A investigação do caso expôs que o celular de Dilma estava entre os aparelhos de líderes monitorados. Os documentos vazados também mostraram que a Petrobras e ministérios do governo brasileiro foram espionados pela agência de segurança norte-americana.


Por Sputinik Brasil