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Economia venezuelana está preparada para resistir às pressões dos EUA, avalia analista

William Serafino aponta avanços estruturais e resiliência venezuelana diante de bloqueios e sanções norte-americanas.

24/12/2025
Economia venezuelana está preparada para resistir às pressões dos EUA, avalia analista
Petroleiros venezuelanos enfrentam bloqueios dos EUA, mas país reforça resiliência econômica, diz analista. - Foto: © AP Photo / Matias Delacroix

A apreensão de petroleiros venezuelanos pelos Estados Unidos representa um ato de pirataria marítima moderna e não é um episódio isolado, mas sim a face visível de uma pilhagem sistemática que tem privado a Venezuela de recursos essenciais. A avaliação é de William Serafino, analista político venezuelano, em entrevista à Sputnik.

Segundo Serafino, a mudança na estratégia de Washington para a apreensão de petroleiros decorre de dois fatores principais. O primeiro é o reconhecimento dos erros da campanha anterior.

"Washington não obteve nenhum benefício tangível após mais de 25 ataques e mais de cem mortes no Caribe e no Pacífico", ressaltou.

O segundo fator, explica o analista, é que essas ações dos EUA não trouxeram ganhos internos e, além disso, geraram divisões entre as elites políticas norte-americanas e na opinião pública, que anteriormente apoiava a política de Washington.

Serafino observa que o bloqueio marítimo e a apreensão de cargas de petróleo bruto configuram uma nova tentativa de sufocar economicamente a Venezuela e criar condições para sua desestabilização interna, em um formato semelhante ao das chamadas "revoluções coloridas".

Nesse contexto, o especialista destaca que, diante dessa pressão, Caracas tem enfrentado a situação com uma postura de relativa força, algo que, há alguns anos, parecia improvável.

De acordo com Serafino, a economia venezuelana está "muito mais bem preparada" para lidar com a crise, graças a avanços estruturais importantes, entre os quais se destacam:

"Recuperar a economia, tirar o país do vermelho e conseguir um processo de adaptação às sanções tem sido uma das principais conquistas políticas", acrescentou.

O analista explica que o objetivo tático de Washington é justamente minar esse processo, pois reconhece que a consolidação política do governo Maduro está diretamente ligada à estabilidade econômica.

Serafino também cita os ativos venezuelanos no exterior bloqueados ou confiscados ilegalmente, incluindo empresas produtivas, reservas cambiais, ouro, títulos da dívida pública e outros, cujo valor total supera US$ 30 bilhões (R$ 165,6 bilhões).

Segundo suas estimativas, esse montante equivale a quatro ou cinco anos de exportações totais de petróleo do país, considerando uma receita anual atual de cerca de US$ 4 bilhões (R$ 22,1 bilhões).

"Estamos falando de recursos suficientes para fortalecer o sistema elétrico, o sistema de distribuição de água e investir em um hospital", sublinhou.

O especialista conclui que esses recursos, confiscados pelas autoridades norte-americanas, pertencem não apenas ao governo, mas a toda a população venezuelana.

Na semana passada, o então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ordenou um "bloqueio total e completo" de petroleiros que entram e saem da Venezuela.

Caracas já denunciou o sequestro de dois petroleiros particulares e o desaparecimento forçado de suas tripulações por forças militares norte-americanas em águas internacionais.

Apesar das ameaças, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, afirmou que o país continuará a vender seu petróleo bruto.

Por Sputnik Brasil