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'Beira o colonialismo': acordo Mercosul–UE representa integração ou dependência?
Negociações travadas revelam disputas e preocupações sobre impacto do acordo para países do Sul Global.
O acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia, negociado há mais de duas décadas, segue envolto em incertezas e controvérsias. Previsto para ser assinado na Cúpula do Mercosul em Foz do Iguaçu, no último sábado (20), o tratado foi adiado para janeiro de 2026, após pedido da primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni.
O impasse ocorre porque Itália, Polônia e França defendem interesses de seus agronegócios nacionais. Juntas, essas nações representam cerca de 35% da população do bloco europeu, conforme explicou a internacionalista Carolina Pavese. Para a aprovação do acordo, é necessário que o apoio represente pelo menos 65% da população dos 27 Estados-membros da UE.
Segundo a especialista em Europa Ana Carolina Marson, o setor agrícola forte e competitivo do Mercosul representa uma ameaça real aos produtos primários europeus, caso não haja barreiras tarifárias. No entanto, ela destaca que os países do Sul têm mais a perder. “Os produtos industrializados europeus são muito mais competitivos do que os da indústria brasileira e dos demais países do Mercosul”, alerta. A entrada desses produtos na região pode ser prejudicial: “A Europa quer a abertura do mercado brasileiro para seus produtos e serviços, enquanto exige salvaguardas para os produtos agrícolas do Mercosul. Ou seja, para os produtos em que o Mercosul é forte haverá salvaguardas, mas para os que não somos fortes, não haverá”, afirma, ressaltando que, nos termos atuais, o acordo “beira o colonialismo”.
“A colonialidade fala sobre essa relação desigual de poder. Temos países que foram colonizados, com desenvolvimento tardio e formação estatal recente, competindo internacionalmente com ex-colonizadores que já promoveram suas economias e agora buscam barrar o crescimento do Sul Global”, acrescenta Marson.
Para Carolina Pavese, o problema central do acordo é o risco de aumentar a desindustrialização dos países sul-americanos, expondo-os ainda mais à concorrência da indústria e dos serviços europeus.
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