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"O Sertão é viável": Historiador Edvaldo Nascimento resgata o legado de Delmiro Gouveia e anuncia digitalização do acervo da Tribuna

Redação da Tribuna do Sertão 23/12/2025
'O Sertão é viável': Historiador Edvaldo Nascimento resgata o legado de Delmiro Gouveia e anuncia digitalização do acervo da Tribuna

Em uma conversa que transbordou história e identidade regional, o podcast Vamos Conversar, conduzido pela jornalista Roberta Sampaio no canal Tribuna Mix, recebeu uma das vozes mais autorizadas sobre a memória do sertão alagoano: o professor, historiador e ex-vereador Edvaldo Nascimento.
Nascido em Paulo Afonso e radicado em Delmiro Gouveia, Edvaldo define-se com a poesia de Patativa do Assaré: "Eu vivo dentro do sertão e o sertão dentro de mim". Essa simbiose com a terra guiou uma entrevista que passeou pelo pioneirismo industrial, pelos desafios da política e, em primeira mão, trouxe uma notícia histórica para os leitores deste jornal.

O Pioneiro e a Engenharia Social


O ponto alto da conversa foi o resgate da figura de Delmiro Gouveia, tema da dissertação de mestrado de Edvaldo e de seu livro Educação, que já alcança a quinta edição. Para o historiador, o maior legado de Delmiro não foi apenas a fábrica ou a usina de Angiquinho, mas a prova cabal de que o sertanejo não é o sujeito "inculto e indolente" pintado pela elite intelectual do litoral, mas um trabalhador capaz de sustentar uma indústria de referência mundial.


Nascimento detalhou o que chama de "projeto educativo" de Delmiro. Em 1915, num vilarejo de apenas sete ruas, o coronel instalou um cinema e um ringue de patinação — luxos impensáveis para a época. Contudo, o acesso era condicionado: "O aluno, para ir ao cinema no domingo, tinha que na sexta-feira mostrar que tinha feito todas as suas atividades na escola", explicou o professor.


O rigor se estendia aos pais, operários da Fábrica da Pedra. A negligência com a frequência escolar dos filhos resultava em advertência, multa e, em casos reincidentes, demissão. Era a transição forçada e disciplinar do "mundo rural" para o "mundo industrial", cadenciada pelo apito da fábrica.

Da Iniciativa Privada ao Braço do Estado


Expandindo sua análise para o doutorado, Edvaldo traçou um paralelo entre a iniciativa privada de Delmiro e a chegada da Chesf, 30 anos depois, na margem baiana do São Francisco. Segundo ele, a companhia hidrelétrica representou o "braço do Estado", transformando Paulo Afonso em um laboratório de desenvolvimento nacional e formando, por 50 anos, a elite técnica do setor elétrico brasileiro através de suas escolas de excelência.



Política e Novos Projetos


Com a experiência de quem disputou cinco eleições e exerceu três mandatos como vereador, Edvaldo confessou certa desilusão com a política partidária, afirmando que sua "cota já foi dada". Atualmente diretor da Agência Reguladora de Serviços Públicos do Estado de Alagoas (Arsal), onde coordena as áreas de gás e energia, ele volta seus olhos de pesquisador para episódios ainda obscuros da nossa história.


Entre os novos projetos, o historiador revelou estar trabalhando em um documentário sobre a resistência à ditadura militar em Pariconha, onde trabalhadores rurais e lideranças nacionais perseguidas chegaram a esboçar uma guerrilha nos anos 60.

A Memória da Tribuna Preservada


Para nós, que fazemos a Tribuna do Sertão, o momento mais emocionante da entrevista foi um anúncio exclusivo. Edvaldo Nascimento, leitor assíduo e colecionador dos nossos exemplares impressos, revelou em primeira mão que o acervo histórico da Tribuna do Sertão será integralmente digitalizado.


"A Tribuna do Sertão chegava onde os grandes veículos não conseguiam chegar", relembrou Edvaldo, destacando a importância de preservar a memória da imprensa alagoana para as futuras gerações de pesquisadores.


A entrevista completa está disponível no canal do YouTube da Tribuna Mix, uma aula magna sobre quem somos e, principalmente, sobre a viabilidade e a potência do nosso sertão.