Geral
Ibovespa fecha em queda com cautela fiscal e política, contrariando Nova York
Baixa liquidez e incertezas fiscais e políticas pressionam o índice, que recua 0,21% enquanto bolsas americanas sobem.
O Ibovespa encerrou o pregão desta segunda-feira, 22, em queda de 0,21%, aos 158.141,65 pontos. O dia foi marcado por baixa liquidez e reavaliação de risco por parte dos investidores, que mantiveram postura cautelosa diante do noticiário fiscal e político, da reação da curva de juros e da expressiva alta do dólar. O movimento da bolsa brasileira ocorreu na contramão do mercado de Nova York, que operou em alta ao longo do dia.
Segundo Pedro Cutolo, estrategista da ONE Wealth Management, o desempenho do mercado acionário refletiu a digestão de uma série de fatores, entre eles o desconforto com o cenário fiscal e as mudanças nas expectativas para a trajetória da Selic, após a divulgação do relatório Focus.
Conforme divulgado pelo Banco Central, a mediana das expectativas para a Selic ao final de 2026 subiu de 12,13% para 12,25%. Já para o IPCA de 2025, a mediana caiu de 4,36% para 4,33%, e para 2026, recuou de 4,10% para 4,06%.
No campo setorial, a valorização das commodities deu algum suporte ao índice, mas não foi suficiente para compensar a fraqueza de setores mais sensíveis aos juros. As ações da Vale avançaram quase 3%, acompanhando a alta do minério de ferro, enquanto os papéis da Petrobras subiram em linha com a valorização de cerca de 2% do petróleo no mercado internacional.
De acordo com Gabriel Mollo, analista da Daycoval Corretora, o movimento da bolsa reflete um processo de "reavaliação de risco" pelo mercado. "Os papéis ligados às commodities seguiram em alta. Entretanto, não foi suficiente para levar o Ibovespa ao campo positivo. Bancos, setor de construção civil e varejo negociaram em baixa e travaram a alta do mercado. Isso ocorre porque o noticiário fiscal e político ainda está muito complicado. O mercado está passando por um processo de reavaliação de risco", afirmou.
Rubens Cittadin, especialista de renda variável da Manchester Investimentos, observa que o pregão também foi marcado por realização de lucros nos últimos dias do ano. Para ele, mesmo com o bom desempenho de empresas ligadas a commodities, o movimento não se espalhou para o restante do mercado, devido ao aumento da sensibilidade aos juros e ao ambiente de cautela.
O câmbio também teve papel relevante na dinâmica do mercado. Segundo operadores, a forte alta do dólar foi impulsionada por fluxo de fim de ano, com reforço nas remessas de lucros por multinacionais e saídas ligadas ao pagamento de dividendos por empresas com grande participação de investidores estrangeiros, como a Petrobras.
Alison Correia, analista de investimentos e cofundador da Dom Investimentos, avalia que dezembro tem sido atípico neste ano. Segundo ele, o mercado segue atento às incertezas no cenário eleitoral, após declarações sobre a possível candidatura de Flávio Bolsonaro em 2026, além das expectativas em torno da política monetária dos Estados Unidos. Ainda assim, Correia destaca que o relatório Focus, ao indicar nova queda nas projeções de inflação, reforça a possibilidade de início de cortes de juros no Brasil em janeiro, cenário que pode favorecer a Bolsa mais adiante.
Para Luiz Roberto Monteiro, operador da mesa institucional da Renascença, investidores também monitoram possíveis desdobramentos políticos, como a expectativa em torno da entrevista do ex-presidente Jair Bolsonaro ao Metrópoles, prevista para esta terça-feira.
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