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República Democrática do Congo e Ruanda firmam acordos de paz em Washington com mediação dos EUA

Cerimônia, realizada no Instituto de Paz Donald J. Trump, marca novo capítulo nas relações entre os países africanos e amplia cooperação econômica com os Estados Unidos.

Sputinik Brasil 04/12/2025
República Democrática do Congo e Ruanda firmam acordos de paz em Washington com mediação dos EUA
Líderes do Congo e Ruanda assinam acordos de paz em Washington sob mediação dos Estados Unidos. - Foto: © AP Photo / Evan Vucci

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, recebeu nesta quinta-feira (4) os líderes da República Democrática do Congo, Felix Tshisekedi, e de Ruanda, Paul Kagame, para a assinatura de acordos de paz.

A cerimônia foi realizada no Instituto de Paz Donald J. Trump, em Washington, renomeado na última quarta-feira (3). O prédio pertence ao Instituto da Paz dos Estados Unidos e o evento ocorreu quase nove meses após o Departamento de Eficiência Governamental assumir o controle da organização sem fins lucrativos, praticamente levando-a ao fechamento, conforme informações da Reuters.

Na abertura do evento, Trump anunciou que os Estados Unidos firmarão acordos bilaterais com a República Democrática do Congo e Ruanda, o que abrirá oportunidades para Washington acessar minerais críticos e gerar benefícios econômicos para todos os envolvidos.

"É um grande dia para a África, um grande dia para o mundo. Estamos tendo sucesso onde tantos outros falharam", declarou Trump à imprensa.

A República Democrática do Congo enfrenta há décadas conflitos armados envolvendo mais de 100 grupos, sendo o M23, apoiado por Ruanda, o mais poderoso. No início deste ano, o M23 tomou Goma e Bukavu, cidades estratégicas do país, em uma escalada do conflito.

Os esforços de paz entre Congo e Ruanda foram mediados ao longo do ano pelo Catar e pelos Estados Unidos. Os dois países vizinhos frequentemente se acusam de apoiar grupos armados rivais no leste congolês, região rica em minerais e importante polo de ajuda humanitária.

O conflito no Congo tem raízes no pós-genocídio de Ruanda, em 1994, quando milícias hutus mataram entre 500 mil e 1 milhão de tutsis, hutus moderados, twas e povos indígenas. Após a reação das forças tutsis, cerca de 2 milhões de hutus cruzaram para a República Democrática do Congo, temendo represálias. Desde então, as tensões entre hutus e tutsis têm sido recorrentes na região.

Uma região estratégica e rica em minerais

O acesso aos minerais críticos da República Democrática do Congo, essenciais para a indústria eletrônica, tem papel central nos conflitos. O país é o maior produtor mundial de cobalto, fundamental para baterias de íon-lítio usadas em veículos elétricos, smartphones e outros dispositivos.

Além disso, o Congo é um dos principais fornecedores de coltan, mineral utilizado na fabricação de tântalo, componente vital em aviões de caça, laptops e dispositivos eletrônicos. Em 2023, o país respondeu por cerca de 40% da produção mundial de coltan, segundo o Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS). Austrália, Canadá e Brasil também figuram entre os grandes produtores.

Os minerais estratégicos despertam o interesse dos Estados Unidos, que buscam alternativas à dependência da China na aquisição de elementos de terras raras. Atualmente, a China responde por quase 70% da mineração global e controla cerca de 90% do processamento desses elementos.

No entanto, pouca da riqueza mineral chega à população congolesa: cerca de 60% dos 100 milhões de habitantes vivem abaixo da linha da pobreza, enquanto a disputa por recursos naturais contribui para a instabilidade do país.