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UE libera apenas 5% de recursos para tecnologias verdes; burocracia trava bilhões
Empresas enfrentam altos custos e excesso de exigências para acessar fundos destinados a projetos de baixo carbono, segundo levantamento do Financial Times.
A União Europeia desembolsou somente 4,7% dos € 7,1 bilhões prometidos para tecnologias verdes desde 2021. Empresas relatam enfrentar até 3.000 horas de burocracia e custos médios de € 85 mil por candidatura, o que limita o acesso aos recursos e provoca atrasos em projetos estratégicos.
De acordo com o Financial Times (FT), dos € 7,1 bilhões (cerca de R$ 43,9 bilhões) concedidos pelo Fundo de Inovação desde 2021, apenas uma pequena fração foi efetivamente paga às empresas. O principal entrave é a burocracia excessiva, que dificulta o acesso ao dinheiro.
O processo de candidatura é longo e oneroso. Segundo a Comissão Europeia, 77% dos candidatos precisaram contratar consultores para lidar com a complexidade, gastando em média € 85 mil (R$ 525.929) por inscrição — valor muito superior ao de outros programas, como o Horizonte Europa.
A taxa de sucesso também é baixa: menos de 20% das candidaturas são aprovadas. Entre os projetos financiados, apenas 6% estão operacionais, enquanto até 20% enfrentam atrasos. Esse cenário reforça críticas de que a burocracia sufoca a competitividade europeia, como destacou Mario Draghi em relatório recente.
O Fundo de Inovação, abastecido pelas receitas do sistema de comércio de emissões da UE, é um dos maiores programas globais de apoio a tecnologias de baixo carbono. Foi lançado como resposta ao pacote de US$ 369 bilhões anunciado nos EUA pela Lei de Redução da Inflação, mas enfrenta dificuldades para cumprir seu papel estratégico.
Empresas relatam custos e esforços desproporcionais. Ainda segundo o FT, Victor van Hoorn, da Cleantech for Europe, afirmou que algumas candidaturas exigiram até 3.000 horas de trabalho. Já a Ecocem mobilizou uma equipe inteira por cinco meses, gastando centenas de milhares de euros, algo inviável para companhias menores.
Além disso, os fundos têm sido direcionados a grandes projetos, como captura de carbono e hidrogênio verde, que são caros e complexos de financiar, gerando atrasos adicionais. A Comissão defende que o processo rigoroso aprimora os projetos, mas reconhece que iniciativas pioneiras exigem mais tempo para se consolidar.
As condições de mercado também dificultam a aplicação dos recursos. A Vianode, que recebeu € 90 milhões (cerca de R$ 556,8 milhões) para produzir grafite sintético, desistiu de instalar sua fábrica na Europa devido à concorrência chinesa e optou pelo Canadá, onde conseguiu contrato com a General Motors.
Especialistas como Leon de Graaf afirmam à mídia que o fundo tem potencial, mas a forma de distribuição é inadequada. A Comissão Europeia estima que € 40 bilhões (aproximadamente R$ 247,4 bilhões) possam ser destinados ao programa até 2030, mas a baixa execução atual representa um enorme custo de oportunidade para a Europa em sua corrida tecnológica verde.
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