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Crise entre Congresso e Planalto ameaça Orçamento, PEC da Segurança e indicação ao STF

Ausência de líderes do Legislativo em evento de Lula escancara desgaste na relação e coloca em risco pautas centrais do governo, como o Orçamento de 2026, a PEC da Segurança Pública e a indicação de Jorge Messias ao STF.

Sputinik Brasil 27/11/2025
Crise entre Congresso e Planalto ameaça Orçamento, PEC da Segurança e indicação ao STF
Foto: © Foto / Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

A crise entre Congresso e Planalto ganhou novos contornos após a ausência dos presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos), e do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil), na cerimônia de sanção da isenção do Imposto de Renda. O gesto simbolizou a escalada do desgaste entre os Poderes e expôs riscos de derrotas estratégicas para o governo Lula, como o Orçamento de 2026, a PEC da Segurança Pública e a indicação de Jorge Messias ao Supremo Tribunal Federal (STF).

Nos bastidores, cresce a expectativa de novas derrotas do Executivo em votações de vetos presidenciais, em meio a disputas por cargos, emendas e controle da pauta legislativa. Segundo a Folha de S.Paulo, o clima de embate reduziu até mesmo o impacto da prisão de Jair Bolsonaro no Congresso, com reação discreta da direita e discussões sobre anistia restritas a conversas informais.

Motta e Alcolumbre, que já foram aliados próximos do governo, se distanciaram após a indicação de Messias ao STF em detrimento de Rodrigo Pacheco (PSD-MG), o que gerou forte insatisfação. Alcolumbre passou a articular contra Messias e aprovou no Senado um projeto de aposentadoria especial para agentes comunitários de saúde, com impacto bilionário nas contas públicas, em sinal de recado ao Planalto. Apesar disso, governistas minimizam o gesto e apostam que Lula buscará diálogo para evitar um rompimento definitivo, já que ambos perderiam com a ruptura.

Na Câmara, Hugo Motta rompeu publicamente com o líder do PT, Lindbergh Farias, após críticas à escolha de Guilherme Derrite (Progressistas-SP) como relator do projeto antifacção. Embora tenha declarado que o rompimento era apenas com o líder, Motta sinalizou insatisfação com o governo, citando acordos não cumpridos, demora na execução de emendas e falta de nomeações para aliados.

Aliados de Motta acusam o governo de estimular ataques à Câmara e criticam ministros como Gleisi Hoffmann, Fernando Haddad e Sidônio Palmeira. O presidente da Casa se queixou de declarações consideradas desleais sobre o projeto antifacção e apontou a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom) como responsável por ataques nas redes sociais. Seu grupo defende repensar a relação com Haddad, alegando que atenderam pedidos do ministro sem o devido retorno.

A crise ameaça medidas econômicas cruciais, como o corte de R$ 20 bilhões em subsídios e a tramitação da medida provisória que incentiva data centers. O governo reconhece a tensão, mas afirma que os embates políticos não deveriam comprometer as relações institucionais. Interlocutores de Lula defendem maior esforço de diálogo para distensionar o clima com o Congresso.

Segundo apuração, Motta fortaleceu sua posição ao organizar um bloco de 275 deputados, reunindo oito partidos e garantindo maioria capaz de aprovar urgências sem depender da esquerda ou da direita. O movimento é visto como estratégia para consolidar sua governabilidade e preparar terreno para uma eventual reeleição em 2027, mesmo com dissidências internas.

Enquanto isso, bolsonaristas tentam retomar a pauta da anistia após a prisão de Bolsonaro, mas enfrentam impasses. A reação da direita foi tímida, com poucos discursos e ausência de mobilizações mais incisivas ou apoio popular. O episódio revela perda de força política do grupo, e líderes como Sóstenes Cavalcante (PL) defendem uma atuação menos radical e mais estratégica diante do novo cenário.