O fornecimento de semicondutores para a indústria automotiva brasileira esteve sob forte pressão recentemente. Cerca de 40% dos chips utilizados no país vêm da Nexperia, subsidiária da chinesa Wingtech, com sede nos Países Baixos. Em outubro, o governo holandês assumiu o controle da Nexperia por motivos de segurança nacional e afastou o CEO Zhang Xuezheng. Como resposta, a matriz chinesa reduziu o envio de matérias-primas, impactando a cadeia global de produção.

Após intensas negociações com Pequim, a Holanda suspendeu a intervenção. No auge da crise, a China assegurou que o fornecimento ao Brasil seria mantido. O episódio, porém, evidencia o papel central dos chips e semicondutores na geopolítica contemporânea.

O presidente do Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada (Ceitec), Augusto César Gadelha, destaca que os Estados Unidos vêm perdendo a liderança no setor. "Os EUA já estiveram à frente dos semicondutores, foram pioneiros no uso dessas tecnologias em aplicações computacionais e em toda a sociedade. Mas houve uma estagnação, e agora buscam retomar a dianteira atraindo recursos humanos", analisa.

Enquanto isso, a China investe no setor desde os anos 1980, considerando os semicondutores como estratégicos para seu desenvolvimento. No mesmo período, o Brasil também começou a dar atenção ao tema, mas não consolidou uma política de Estado. "O Brasil jamais transformou semicondutores em uma prioridade nacional", lamenta Gadelha.

O jornalista Diego Kerber ressalta que a dependência dos microchips não é exclusividade do Brasil e que a preocupação com uma possível guerra por semicondutores é global. "Chegamos a um ponto em que essa tecnologia se tornou tão essencial quanto qualquer outro insumo", afirma.