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'OTAN islâmica' é possível e traria estabilidade para o Oriente Médio?

Sputinik Brasil 12/11/2025
'OTAN islâmica' é possível e traria estabilidade para o Oriente Médio?
Foto: © Sputnik / Valeriy Melnikov

A pauta de uma aliança militar entre países islâmicos volta a ser discutida no Oriente Médio e no seu entorno. Com agendas e desafios específicos, a "OTAN islâmica" seria uma prioridade para os países da região?

Uma organização de cooperação e defesa é um passo a frente que o Conselho de Cooperação do Golfo pode dar na proteção da região, segundo Vinicius Modolo Teixeira, professor de geopolítica da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat).

Especialistas ouvidos pelo Mundioka, podcast da Sputnik Brasil, disseram que as ameaças recentes, sobretudo na península Arábica, motivaram a volta da especulação de uma aliança nesse sentido.

"Israel agiu de maneira bastante intensa nos últimos dois anos, fazendo ataques sem precedentes naquela região", relembra Teixeira.

Um desses ataques foi em Doha, capital do Catar, na suposta tentativa de eliminar membros do Hamas que estavam em reuniões na região. A ofensiva, entretanto, não teve nenhuma proteção dos Estados Unidos ou qualquer reação contrária a esse ataque.

Embora a intensão de uma aliança islâmica semelhante à Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) esteja em questão, nem todos os países islâmicos entrariam no bloco, segundo os analistas.

Os países que compõem o Conselho de Cooperação do Golfo, exceto Iraque e Irã, fariam parte do acordo. "Irã, por ser persa e ter divergências também, tanto políticas, culturais e religiosas, com esses grupos da península, e o Iraque, também, por se afastar ali dessa condição, por conta da maioria xiita", explica Teixeira.

A princípio, segundo ele, participariam Bahrein, Kuwait, Omã, Catar, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos. Os especialistas acreditam que outros países, como Síria, Turquia e até o Paquistão poderiam integrar a aliança, mas dependeria de acordos entre as partes.

Apesar da proposta se aproximar de uma "Liga Árabe 2.0", conforme nomeia Paulo Henrique Montini, doutorando do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), ela não traria estabilidade para a região.

Isso porque os países têm dificuldade para entrar em consenso e disputam a hegemonia numa mesma região.

"Os Emirados Árabes Unidos e a Arábia Saudita competem pela hegemonia no Golfo Árabe, por exemplo. E esses dois competem com o Irã, [que tem] influência no Líbano e no Iraque, que compete com a Turquia pela influência na Síria", afirma Rafael da Silva Firme, mestrando em estudos estratégicos internacionais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Firme acrescenta que entende que os países da região acenderam um sinal de alerta após o ataque em Doha e a postura inoperante dos norte-americanos, parceiros dos países do Golfo Árabe.

"A partir desse momento, os estados do Golfo Árabe pensaram o seguinte: 'A gente já paga muito pela nossa segurança, gasta muito com os equipamentos norte-americanos, seus radares, suas aeronaves, e, no entanto, a gente está sendo atacado por Israel, que é um parceiro americano. Então, a gente tem que rever aqui a nossa estratégia'".

"Eu entendo a ideia do conceito de OTAN, nesse caso, para o Oriente Médio, mas eu acho que é um pouco distante, muito em razão, um, da disputa entre esses países, dois, por outras prioridades".

Além disso, Montini recorda que a pretensão não é inteiramente nova e a Liga Árabe chegou a propor um sistema de defesa unificado, mas "que não conseguiu resistir à Guerra dos Seis Dias". "Ou seja, até que ponto esses países estão dispostos a entrar numa guerra por um bem comum?", questiona.

O pesquisador da UFRGS afirma, ainda, que as contradições na região seriam um percalço para o avanço da proposta e que os países têm outras prioridades, o que adiaria a criação efetiva de uma "OTAN islâmica".

"A gente tem, por exemplo, o Saudivision agora, que é a ideia de diversificar a economia saudita. Outros países, como os Emirados Árabes Unidos, estão tentando diversificar a economia, saindo um pouco da esfera do petróleo. Vejo que, nesse primeiro momento, há uma prioridade econômica, antes ainda da militar ali na região, por mais que seja uma região em constante conflagração", finaliza.