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Entre o otimismo e a cautela: como deve ser visto o breve encontro entre Vieira e Rubio?
Reunião de cinco minutos durante a Cúpula do G7 reaquece expectativas sobre o fim das tarifas dos EUA a produtos brasileiros, mas especialistas alertam para avanços limitados e clima de incerteza.
O breve encontro de cinco minutos entre o chanceler brasileiro Mauro Vieira e o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, realizado nesta quarta-feira (12) durante a Cúpula do G7, em Niágara, Canadá, trouxe um novo fôlego às negociações para o fim das tarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos a produtos brasileiros.
De acordo com o Itamaraty, Vieira apresentou a Rubio um panorama do andamento das discussões técnicas, destacando a proposta oficial encaminhada pelo Brasil no último dia 4. O Ministério das Relações Exteriores informou ainda que ambos concordaram em marcar um novo encontro presencial para aprofundar o debate.
Apesar da brevidade, a reunião sinaliza abertura para possíveis ajustes e avanços rumo a um acordo mais sólido, avalia Ana Caroline Sampaio, economista e coordenadora de Projetos Especiais do Instituto Pereira Passos da Prefeitura do Rio de Janeiro.
"Isso já é uma questão positiva, partindo de uma perspectiva da construção de um novo acordo, que está sendo feito a partir do encontro que aconteceu entre os dois presidentes no último mês."
A economista lembra que, antes da entrada em vigor das tarifas de 50%, os Estados Unidos já haviam isentado cerca de 700 produtos, como fertilizantes, aeronaves e minérios.
Nesse contexto, o documento enviado pelo Itamaraty na semana passada representa um avanço nas tratativas técnicas com os EUA. No entanto, Sampaio pondera que ainda é cedo para prever quando as tarifas serão efetivamente suspensas, já que a proposta brasileira está sob análise dos técnicos norte-americanos.
"É possível, sim, um certo otimismo para que haja uma diminuição ainda maior do tarifaço, partindo do ponto de vista técnico que está se desenhando e até mesmo seu fim por aspectos políticos."
Por outro lado, Denilde Oliveira Holzhacker, professora de Relações Internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), vê no encontro uma sinalização de postergação por parte dos EUA quanto ao avanço das negociações bilaterais com o Brasil.
"Pela brevidade do encontro e por não haver uma pauta de discussão direta, fica a dúvida sobre o real interesse dos americanos em avançar na redução das tarifas."
Holzhacker destaca ainda que a recente declaração do presidente Donald Trump à Fox News — sobre a intenção de reduzir tarifas do café e outros produtos que impactam o custo de vida dos americanos — trata-se de uma decisão unilateral, influenciada pelo cenário eleitoral nos Estados Unidos.
Para a especialista, embora uma mudança de postura do governo americano possa favorecer o Brasil em certa medida, é preciso cautela, já que os pontos mais sensíveis da negociação permanecem sem avanços concretos.
"Acertando nessa posição americana agora, acho que vivemos um momento de muitas especulações e poucas respostas. De todo modo, a sinalização é mais de expectativa do que de resultados práticos no curto prazo", conclui Holzhacker.
Venezuela: tema espinhoso
Um dos temas delicados, segundo Holzhacker, é a situação da Venezuela. O país vizinho entrou no radar do governo Trump, que acusa o regime de envolvimento com o narcotráfico e de utilizar o mar do Caribe como rota de drogas para os EUA.
Na semana passada, o assessor especial da Presidência, Celso Amorim, afirmou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva acredita que qualquer conflito na América do Sul impactaria diretamente o Brasil e que as recentes manobras militares norte-americanas exigem atenção.
"Acredito que a questão venezuelana é um ponto que não foi discutido [na interação entre Vieira e Rubio], mas que pesa. O Rubio tem uma visão contrária à do governo brasileiro", analisa Holzhacker.
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