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Como Lula volta a Brasília após ser recebido 'como parceiro externo de grande relevância' na ASEAN?
O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, encerrou sua passagem pelo Sudeste Asiático após participar da 47ª Cúpula da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN, na sigla em inglês). Na volta à Brasília, o chefe do Planalto traz consigo acordos e memorandos de entendimento firmados.
Na esteira da Cúpula da ASEAN, Lula deu demonstrações que foi ao Sudeste Asiático para estreitar relações. O presidente brasileiro chegou a afirmar a intenção de ampliar os negócios com o bloco, sinalizando uma "mudança de patamar".
O presidente também afirmou, em Kuala Lumpur, que o "Brasil está de braços abertos para receber empresários da Malásia", sendo fiel à política de seu governo para as relações internacionais, buscando ampliar a carteira de parceiros, reforçando a multipolaridade.
Voltar os olhos para o Sudeste Asiático, neste momento, segundo Tales Simões, professor de geografia política na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), é factível. Além da ASEAN ser um dos principais parceiros comerciais do Brasil, neste cenário reestruturação da economia e do comércio mundial, a Ásia é vista como "novo epicentro".
"Um mundo se tornando cada vez mais 'asiocêntrico' em substituição ao anterior domínio econômico e comercial exercido pelo Atlântico Norte, a Europa Ocidental e os Estados Unidos".
O potencial representado pelos países da região e a importância que o Brasil deu à cúpula foi demonstrada, também, pelo número de ministros de Estado e pelos cerca de 100 empresários que compuseram a comitiva presidencial.
"O Sudeste Asiático é uma das regiões mais dinâmicas da economia global, com excelentes perspectivas de crescimento, um PIB agregado de mais de 10 trilhões de dólares", contextualiza Simões. Além disso, a ASEAN é o principal parceiro comercial da China desde 2020.
As novas configurações ditadas a partir do protecionismo e das tarifas impostas pelo presidente norte-americano, Donald Trump, também contribuíram para a aceleração de novas parcerias para países ao redor do globo, segundo o analista.
Segundo ele, "diversificar as parcerias comerciais se tornou um imperativo, principalmente para esse tipo de economia que está muito mais exposta e muito mais inserida nos mercados globais", como o caso de países do Sudeste Asiático que exportam produtos de alto valor agregado.
Com quais novidades Lula retorna à Brasília?
Nos últimos dias, em paralelo à Cúpula da ASEAN, setores automobilísticos no Brasil tem levantado preocupações em relação a possível falta de semicondutores para a montagem de automóveis no país. A potencial crise pode afetar a produção no Brasil, conforme a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).
Em Kuala Lumpur, por sua vez, Lula assinou memorandos de entendimento que inclui a área de semicondutores.
"Essa parceria no setor de semicondutores é importantíssima para o Brasil e ela não é uma novidade entre o Brasil e a Malásia", diz o analista, lembrando que o país já sediou na sua embaixada na capital malaia, um evento chamado Brasil, ASEAN e Semicondutores. "O Brasil não quer ficar para trás nessa chamada 4ª Revolução Industrial ou Revolução Industrial 4.0."
"Não pode ficar relegado só a montagem, a teste. O Brasil quer fabricar também chips de alta tecnologia, que são tão importantes para veículos elétricos, celulares, armamento e equipamentos médicos", ressaltou.
Para Simões, dada a demanda brasileira por semicondutores, "uma potencial transferência de tecnologia, de investimentos para avançar nessa área", pode ser extremamente benéfico ao país.
Outro fator chave que guia a política do atual governo está relacionado à temas como desenvolvimento sustentável. No Sudeste Asiático, o Brasil destacou o potencial de cooperação em áreas como sustentabilidade e alcançou acordos na área.
"O Brasil e os países do Sul Asiático têm uma formação vegetal muito semelhante. Climas tropicais, florestas tropicais muito abundantes, uma grandíssima biodiversidade, portanto, os desafios são muito semelhantes", destacou o professor.
De acordo com Simões, as mudanças climáticas preocupam muito os países da região, que sofrem com desastres naturais de grande impacto. Essas semelhanças, portanto, aproximam os países no debate em relação ao desenvolvimento sustentável.
"Assim como o Brasil, esses países também vêm buscando uma descarbonização das suas economias. Uma transição. Uma transição energética. Uma aposta em hidrelétricas, energia eólica, energia solar, as chamadas energias alternativas", aponta o analista, acrescentando que o setor é promissor no sentido de cooperação entre as partes.
Brasil pode levar o Mercosul a ampliar relações com a ASEAN?
O presidente Lula foi o primeiro presidente brasileiro a participar de uma Cúpula da ASEAN. Embora o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso tenha visitado a Malásia em 1995, foi no governo Lula, em 2008, que as relações com Kuala Lumpur mais se aproximaram, conforme Simões.
A forma como o atual chefe do Planalto foi recebido e o fato de ser o primeiro brasileiro a participar do encontro "tem um significado simbólico e estratégico, e indica os novos rumos que as relações entre o Brasil e o bloco podem ganhar".
Tratado como parceiro de grande relevância, Brasília pode, inclusive, "tentar institucionalizar alguns mecanismos de cooperação com a ASEAN, os fóruns anuais, as comissões, buscar integrar setores tecnológicos, científicos e de inovação", sugere o analista.
Além disso, o acordo de livre comércio que o Brasil firmou com o Cingapura, "pode abrir as portas para aumentar a participação dos produtos mercosulinos na região via Cingapura, como um grande hub. Existem as possibilidades também desses países, uma vez consolidado esse acordo de livre comércio com o Singapura, de também enxergarem novas possibilidades e buscarem algo análogo", avalia Simões.
Outros países como Indonésia e Vietnã também têm o Brasil como parceiro estratégico. Mas não apenas isso. Na América do Sul, por exemplo, a Argentina também figura como importante parceiro de Hanoi. As aproximações já presentes, indicam, segundo o especialista, que não só o Brasil, mas o "próprio Mercosul vem buscando se aproximar cada vez mais dos países do Sudeste Asiático", afirma.
Outro indicador importante é o fato de Brasil ser o segundo maior parceiro comercial da Malásia na América Latina.
E, em termos geopolíticos, "a Malásia apoia a inspiração do Brasil de se tornar membro permanente, no Conselho de Segurança da ONU. E, em reciprocidade, o Brasil é um dos principais advogados da Malásia na sua adesão aos BRICS", fator que contribui para o estreitamento de laços e pode ser crucial para novas parcerias entre ASEAN e Mercosul.
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