Geral
Monja Coen volta a Maceió após 6 anos para falar sobre ética, atenção e compaixão
Missionária do Zen no Brasil chega à capital para eventos no Atlantic Hotel e na Bienal
Atenção — coisa rara hoje em dia. Joia que entregamos de mão beijada aos donos das redes sociais. Muita gente pode até não passar deste 1º parágrafo. Mas podemos fazer diferente.
É o que vem ensinar a monja Coen Rōshi. “Precisamos estar presentes no presente”, diz.
Desse modo, ela tem um convite a nos fazer: no primeiro final de semana de novembro deste ano, a monja voltará para Maceió para dois encontros especiais com o público alagoano, depois de seis anos.
Seu primeiro compromisso será no sábado (01/11) no Hotel Atlantic, na Jatiúca, falando para a plateia a partir das 20h, no auditório do local.
O tema? “Ser Santo: é possível?”, em reverência ao Dia de Todos os Santos e à nossa plena capacidade de agir com ética e compaixão no dia a dia.
As vagas são limitadas para quem quer assistir à esta palestra. Então, garanta sua entrada via Sympla, havendo opção para ingresso social, com entrega de 1 kg de alimento não perecível (com destinação à ONG Moradia e Cidadania). Confira no QR Code ou neste link: https://www.sympla.com.br/even....
O segundo encontro será na 11ª Bienal Internacional do Livro de Alagoas, no domingo (02/11), às 14h, no Teatro Gustavo Leite, situado no Centro de Convenções de Maceió.
“O Dharma [ensinamentos do Buda] está sempre presente. E ele está nas letras também. Está na Bienal. Todos os meus livros são sobre os ensinamentos. Embora apareça em forma de romance e de pequenos contos, na verdade, eu estou contando de forma mais simples, mais popular, a maneira dos ensinamentos sagrados que nos libertam. Sim, a ideia é essa! Que, através do Dharma, eu possa levar um pouco de luz, clareza e discernimento correto. Não para transformar as pessoas em budistas, mas transformar os seres humanos em seres íntegros, em seres corretos, éticos e que vivam com plenitude, que apreciem a sua vida, que parem de reclamar, de resmungar, de brigar uns com os outros. Ajudar a serem mais gentis, mais amorosos e capazes de apreciar a vida”, ressalta.
FAZER A COISA CERTA
“Uma vez, eu estive em um convento católico, fazendo um retiro Zen, e na entrada da sala de clausura das monjas estava escrito em uma placa bem grande: “Não se esqueça que você também pode ser santa!” Você já pensou nisso? Que você também pode se tornar uma pessoa santa? ‘Santo’ não é bonzinho, não; é aquele que é adequado, que faz as coisas corretas, no momento correto. Sim, que é pleno e cheio de compaixão e sabedoria. Então, vamos desenvolver em nós a ética, a santidade?”, convida a monja Coen, assunto este a ser debatido no dia 1º de novembro, no Hotel Atlantic.
Segundo ela, todas as religiões possuem diferentes origens, mas com uma coisa em comum: uma família em comum.
“A nossa família é a espécie humana. Somos uma única família e nos cuidamos com respeito e dignidade”, pontua ela, que é missionária oficial da tradição budista Sōtō Shu Zen e fundadora da Comunidade Zendō Brasil.
A última vez que a monja Coen esteve em Alagoas foi para a Bienal do Livro, em 2019, onde fez palestra lotada nas escadarias da Associação Comercial de Maceió.
Agora, o público alagoano terá novamente a oportunidade de ouvir as palavras do Buda através da sua, nestes dias 1 e 2 de novembro. Confira entrevista para aquecer sua vinda:
* Parece que todo mundo está com a atenção prejudicada. E precisamos atentar para as futuras gerações. No meio desse caldeirão todo — com tantos hiperestímulos de WhatsApp, Instagram, Youtube, Netflix e tantas outras plataformas —, está também a nossa capacidade de cuidar dos outros. Como que uma mãe faz, por exemplo, para não se perder no caos do samsara e promover um ambiente materno que seja favorável? O mundo está cada vez mais desafiador para criar filhos.
O mundo está desafiador para todos e todas nós. Mas nós temos uma nova geração chegando — linda, maravilhosa e que ensina os pais a serem pais e as mães serem mães. Os filhos fazem os pais. Não são os pais que fazem os filhos. Os pais têm que ser modelos; têm que ter coerência com seus valores e princípios. Filhos aprendem muito mais vendo as costas dos pais do que discursos falados. Como é que nós, adultos, estamos nos comportando hoje em dia? Que exemplo estamos dando? Como você fez uma pergunta anterior. Se a pessoa fica o tempo todo no celular — zapeando, brincando e fazendo joguinhos — e não quer que o filho brinque no celular? Você está dando esse exemplo, esse modelo. Então, temos que ter pausas. A gente de vez em quando desliga o celular, desliga a televisão, para de conversar uns com os outros e fica presente para essa criança que está perto de você, dando atenção, dando o carinho que ela precisa, dando o apoio, dando o afago. Criança precisa de afago. Nós, adultos, precisamos. Às vezes, alguém chegar e pôr a mão em seu ombro… não é gostoso? Por que não fazemos isso com nossos filhos? Achamos que temos que educar, que temos que ser rigorosos… estamos brigando o tempo todo. Não, é preciso ser mais macio, mais acolhedor para termos uma geração mais macia e mais acolhedora. Ensiná-los a respeitar a vida, nas suas inúmeras formas, a brincar com o raio de sol, a brincar com uma flor — não precisa arrancar a flor, mas perceber a beleza que existe em suas pétalas.
* A Inteligência Artificial pode nos tornar “inúteis”, em certa medida. Algumas profissões deixarão de existir. É o vento da mudança já soprando. Parece ser essa a sina humana: ter receio de nos tornarmos inúteis e caminharmos para isso — afinal, estamos ajudando a aprimorar as IAs, ao passo que as usamos, num processo de retroalimentação de informação. O paradigma é que fomos condicionados a pensar que “ser inútil” nos anula e não é uma boa coisa. O ambientalista e filósofo indígena Ailton Krenak reforça que “a vida não é útil”, que estamos aqui para simplesmente apreciar as coisas ao nosso redor. Para que estamos aqui reunidos, afinal, monja Coen?
Para viver. Para ter essa experiência de vida humana. A gente poderia ser passarinho, podia ser minhoca (risos)… a gente é ser humano! Então, essa é a experiência do ser humano como ser humano. Isso talvez seja o mais essencial. E somos a vida da Terra. Somos feitos da matéria-prima que é feita toda a vida do planeta. E temos uma capacidade intelectual diferente das outras espécies. Tanto que nós construímos prédios, construímos IA, construímos naves interplanetárias, foguetes. Não é bonito isso? Por que é que não apreciamos mais a nós mesmos e apreciamos a nossa sensibilidade? Será que poesia serve para alguma coisa? Será que o Zen e a meditação servem para alguma coisa? Nós estamos em uma época muito “utilitária”, né? Eu tenho que ser útil, eu tenho que ter sucesso, eu tenho que ter dinheiro, tenho que ter visibilidade. Será que é para isso que nós vivemos? Ou será que podemos apreciar a nós e a nossa vida? Desenvolver a capacidade apreciativa da existência — talvez isso seja mais importante.
* O contato novamente com a natureza pode ser nossa nova saída de reconexão com a gente mesmo? Mais pé no chão e menos tela?
Nós temos que ter um equilíbrio entre as duas coisas. Nós não vamos abandonar as telas, não vamos abandonar os computadores, não vamos abandonar cidades e vamos todos viver no mato, descalços. (Existe até programa de televisão sobre isso, não é?) Nós não estamos preparados para isso mais. Nós nascemos numa era em que a gente usa calçados, a gente pode andar descalço na praia, pode andar descalço na areia, na grama, mas os nossos pés, atualmente, são mais suaves. A pele é mais sensível e vai ser machucada, vai ser ferida. Então, não é voltar ao que era antes. E é como é que nós vamos daqui para diante. Sem reclamar, mas em contato com a natureza, sim! No Japão, há uma coisa que se chama “banho de floresta”. Vamos andar pelas matas, pelas florestas, respirando conscientemente, sentindo o oxigênio e essa troca que nós fazemos com gás carbônico, que as árvores absorvem. Mas isso precisa ser de manhã, né? Porque no fim da tarde, é o contrário o que acontece. Então, conhecer a vida da Terra, ser a “vida da Terra” e respeitar a natureza, que é a nossa natureza verdadeira.
* O Zen carrega uma honestidade, singeleza e afiamento brutal. É a escola mais direta ao “pronto”. Qual motivo leva o ser humano a fazer coisas que o afastam da outra margem? Isto é, do seu real caminho?
O que nos impede de ver o que é assim como é? Nós queremos ser incluídos. Nós somos seres gregários. Nós queremos que as outras pessoas nos aprovem. Enquanto a gente não sair desse lugar, nós não vamos ser completamente completos, felizes, inteiros. Porque eu estou fazendo, até para coisas da minha infância — quero agradar meu pai, minha mãe, meu avô, minha avó e eu deixo de realizar as minhas capacitações. Quero obedecer meu pai, minha mãe. Por exemplo, eu gosto de jogar futebol. Minha mãe é contra futebol. Então eu não jogo bola para agradar mamãe. Mas vou passar o resto da minha vida pensando que eu adoraria jogar futebol. Será que isso está certo? Então a gente tem que prestar mais atenção em conhecer a si, em conhecer seu eu verdadeiro. Nós falamos: conhecer a sua “Natureza Buda”, a natureza desperta que habita cada um de nós, mas ela só se manifesta, se nós provocarmos a sua manifestação.
* Deixar ir parece uma afronta à nossa identidade, ao ego. Como a meditação pode nos ajudar a encarar essa parte que se vai?
Boa essa palavra: en-ca-rar. Às vezes, não queremos encarar. Quando o Buda teve sua experiência mística, a primeira coisa que ele disse foi: “Dukkha existe”. Dukkha seria “sofrimento”, “insatisfação”, né? Esse abandonar é exatamente isso. A tradução que se dá literalmente. Dukkha significa “não encarar”. Eu não quero encarar a tristeza. Não quero encarar a dor. Não quero encarar as dificuldades que eu atravesso. Não quero me desapegar de personagens que eu criei para mim. Mas eles não servem mais. Nós não estamos mais no berço. Nós crescemos. E precisamos nos tornar o nosso eu verdadeiro, que está sempre em reformulação. Não é fixo, nem permanente. E abrir mão é abrir possibilidades. Abrir novas portas de compreensão e conexão com o todo, com o cosmos, com a vida.
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