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32º Festival Municipal de Bumba Meu Boi termina com cultura popular fortalecida

Festival reuniu grupos de vários bairros de Maceió, mobilizou a economia criativa e reafirmou o Bumba Meu Boi como patrimônio vivo da capital alagoana

26/10/2025
32º Festival Municipal de Bumba Meu Boi termina com cultura popular fortalecida
Jaraguá se transformou em palco da cultura popular no encerramento do 32º Festival Municipal de Bumba Meu Boi em Maceió. - Foto: Jonathan Lins/Secom Maceió

O Estacionamento de Jaraguá recebeu, neste sábado(25), o segundo e último dia de apresentações do 32º Festival Municipal de Bumba Meu Boi, realizado pela Prefeitura de Maceió, por meio da Fundação Municipal de Ação Cultural(FMAC), em parceria com a Liga Alagoana de Bumba Meu Boi. Com público estimado em cerca de 20 mil pessoas por noite, a celebração reafirmou a força da cultura popular como patrimônio vivo da cidade e promoveu o encontro de diferentes comunidades que fazem do boi uma expressão de identidade, fé, memória e pertencimento.

A programação começou com a apresentação do Boi Águia de Ouro, que fez a abertura simbólica do festival, cumprimentando o público antes do início das disputas oficiais. A partir dali, a arena se tornou palco de múltiplas narrativas, cada uma carregando consigo a história, o território e os afetos de quem mantém a tradição pulsando nos bairros de Maceió.

O primeiro a entrar em competição foi o Boi Escorpião, do bairro do Poço, que emocionou o público ao homenagear pessoas autistas, levando para a arena uma celebração da inclusão, do cuidado e do amor como ferramenta de acolhimento social e respeito. Em seguida, o Boi Jaguar, da Ponta da Terra, resgatou o mito original do Bumba Meu Boi, trazendo à cena a história de Catirina, Mateu e do Boi, reforçando a ancestralidade narrativa que fundamenta a tradição.

Logo depois, o Boi Rotteweiller, do Feitosa, exaltou a herança cultural alagoana ao unir o tradicional e o contemporâneo, integrando referências ao pastoril, ao fandango, ao coco de roda e ao guerreiro em uma mistura que honrou as matrizes da cultura popular. O Boi Safary, do Jacintinho, levou ao público a fé e a devoção sertaneja, retratando o clamor pela chuva no sertão e a espiritualidade que nasce da esperança de um povo resiliente.

Do início ao fim, a festa mostrou que a tradição do boi continua viva, pulsando nas ruas, nos bairros e no coração de Maceió. Foto: Jonathan Lins/Secom Maceió
Do início ao fim, a festa mostrou que a tradição do boi continua viva, pulsando nas ruas, nos bairros e no coração de Maceió. Foto: Jonathan Lins/Secom Maceió

Na sequência, o Boi Africano, de Cruz das Almas, homenageou o cotidiano da vida do interior, destacando o ciclo do plantio e da colheita, a devoção a São José e Nossa Senhora Aparecida e o vínculo sagrado entre a terra e a sobrevivência das comunidades rurais. O Boi Kimera, também do Poço, trouxe para a arena os folguedos alagoanos como ato de resistência, reforçando a importância da transmissão cultural entre gerações dentro dos próprios territórios.

Representando a Ponta da Terra, o Boi Pérola fez um tributo ao sururu, elemento identitário da gastronomia alagoana e base de sustento para tantas famílias maceioenses, destacando o elo entre cultura, trabalho e tradição. O encantamento continuou com o Boi Bumbá Alagoano, também da Ponta da Terra, que transformou a arena em uma grande fábrica de brinquedos, em uma proposta lúdica voltada à infância e à alegria como parte central da cultura popular.

Na sequência, o Boi Força Bruta, da região da Zona Sul de Maceió, enalteceu o orgulho nordestino, reforçando a força, a bravura e a identidade arre­tada do povo que constrói a história do país a partir da resistência. O Boi Cão de Raça, do Jacintinho, levou para o público uma reflexão sobre os povos originários e a preservação da natureza, destacando a ancestralidade indígena como base civilizatória do Brasil.

De volta à Ponta da Terra, o Boi Dragão celebrou seus 40 anos de trajetória, emocionando o público com uma homenagem à própria história e reforçando o vínculo profundo com a comunidade que o sustenta. O Boi Cobra Negra, da Jatiúca, homenageou o legado de Edecio Lopes, figura marcante para a cultura maceioense, lembrando sua trajetória como símbolo de dedicação e influência no cenário dos bois.

A arena se transformou em palco da memória e da ancestralidade, com cores, danças e narrativas que atravessam gerações. Foto: Jonathan Lins/Secom Maceió
A arena se transformou em palco da memória e da ancestralidade, com cores, danças e narrativas que atravessam gerações. Foto: Jonathan Lins/Secom Maceió

Também da Ponta da Terra, o Boi Vingador levou à arena uma narrativa de fé que uniu o sagrado católico ao afro-religioso, aproximando São Jorge e Ogun como expressões de proteção, força e luta. Em seguida, o Boi Diamante, da Ponta Grossa, apresentou o tema “A verdadeira tradição”, resgatando brincadeiras de rua e memórias afetivas dos antigos bois de carnaval, trazendo à superfície lembranças que atravessam gerações.

Encerrando a noite, o Boi Axé, da Jatiúca, apresentou uma releitura do clássico Alto da Compadecida, aproximando teatro e religiosidade com a poética popular do boi.

Ao refletir sobre a realização do festival, o presidente da FMAC, Myriel Neto, ressaltou o compromisso da gestão com a cultura que nasce nos bairros.


“Quando a Prefeitura investe e dá estrutura para o Bumba Meu Boi, ela não está apenas promovendo um evento, está fortalecendo o lugar onde a cultura é gerada, nas comunidades, nos quintais, nos terreiros, nas costuras e ensaios que acontecem o ano todo. É o povo que faz o boi acontecer, e é o poder público que precisa garantir que ele permaneça vivo e reconhecido como patrimônio”, afirmou.

O resultado do festival será divulgado ainda neste domingo (26) pela Liga Alagoana de Bumba Meu Boi através do canal do YouTube do Cultura.AL.