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Tarifaço dos EUA e declínio europeu estreitam ainda mais relações China-África, avalia analista

Em entrevista ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, especialista aponta que a África é parte importante do processo de internacionalização da China, e que o tarifaço dos EUA, somado ao "franco declínio euro-atlântico", consolida de vez a cooperação entre Pequim e o continente.
A China acumulou um superávit comercial de US$ 60 bilhões (cerca de R$ 321 bilhões) com a África até agora em 2025. O valor quase ultrapassa o total do ano passado, e é registrado à medida que empresas chinesas redirecionam o comércio para a região, enquanto as tarifas aplicadas pela administração do presidente estadunidense, Donald Trump, restringem o fluxo de mercadorias para os EUA.
A China há muito tempo é o maior parceiro comercial do continente africano, mas o fluxo de produtos fabricados pelo país para a região nunca foi tão importante, em razão da guerra comercial com os EUA e da desaceleração da economia chinesa. Em agosto, as exportações da China para os EUA caíram 33%, enquanto as exportações para a África cresceram 26%.
Ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, a professora de relações internacionais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e coordenadora do Centro Brasileiro de Estudos Africanos (Cebrafrica), da universidade, Analúcia Danilevicz Pereira, explica que a África tem ocupado um papel importante na estratégia de internacionalização da China.
"Um dos lugares com maior índice de crescimento econômico hoje é a África Subsaariana, e também de crescimento demográfico de uma população jovem em idade laboral, enquanto nós temos um espaço ocidental em declínio, envelhecido, e que mostra já claramente sinais de desgaste sob o ponto de vista, vamos dizer assim, do centro de poder internacional."
Danilevicz aponta que o eixo afro-asiático tem uma enorme capacidade de produzir uma mudança importante sob o ponto de vista internacional. Ela lembra que durante a Guerra Fria Pequim desempenhou um papel de liderança política em conferências de países africanos, contribuindo para a independência destes. Segundo ela, isso mostra a familiaridade das relações chinesas com o espaço africano.
"E eu diria mais, a África fez parte desse processo de internacionalização da economia chinesa." Ela lembra que, a partir da década de 1980, o Ocidente começa a se retirar de espaços na África, que passam a ser ocupados pela China, "que aproveita esse vácuo".
"Lá nos anos 1990, a China produzia muitos produtos muito baratos, de baixo custo, e ela foi ocupando esses mercados. Só que hoje a China não é mais aquela dos anos 1990. Hoje ela produz produtos de alta tecnologia, ela tem capacidade de implementar projetos de cooperação econômica, de benefícios mútuos", lembra.
A especialista afirma ver um "franco declínio euro-atlântico" nas relações econômicas e políticas, e nos padrões de cooperação ocidentais, "que, evidentemente, não são de interesse mútuo". Ela cita as mudanças de regime em países do Sahel, com rupturas na relação com a Europa, que resultaram no processo conhecido hoje como neodescolonização.
Danilevicz acrescenta que as tarifas impostas por Trump vêm acelerando esse processo de transição de relações porque a China consegue "fazer frente a isso sem grandes preocupações".
"Meses atrás, as tarifas chegaram a cento e tantos por cento, e os chineses bancaram até o final, sem maiores prejuízos. Agora, os americanos tiveram que recuar diante do nível de dependência [da China] que os EUA têm."
Por outro lado, as tarifas norte-americanas também levaram a um movimento de reconexão comercial no mundo, e cita como exemplo as sobretaxas aplicadas à Índia para tentar forçar o país a cessar a compra de petróleo russo.
"Os indianos, da mesma forma, reagiram e disseram: 'Não, nós vamos continuar comprando o petróleo da Rússia' […]. Então o que ocorreu? A Índia é fundadora do BRICS. Os americanos conseguiram empurrar os indianos em direção à Rússia e em direção à China, quando há contenciosos históricos entre Índia e China."
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