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Músicos do Recife e de países em guerra farão concerto para Papa

Turnê busca promover a música como instrumento de paz

Redação ANSA 26/09/2025
Músicos do Recife e de países em guerra farão concerto para Papa
Orquestra Criança Cidadã embarca para turnê pela paz - Foto: © ANSA/Augusto Cataldi

Uma orquestra liderada por jovens músicos da periferia do Recife (PE) e formada por artistas de países em guerra, como Ucrânia, Rússia, Palestina e Israel, se apresentará para o papa Leão XIV no próximo dia 8 de outubro, no âmbito de uma turnê internacional para promover a paz.

O projeto é capitaneado pela Orquestra Criança Cidadã, fundada na capital pernambucana em 2006 e que embarcou nesta sexta-feira (26) com destino a Seul, na Coreia do Sul, primeira etapa de uma viagem que também passará por Hiroshima e Osaka, no Japão, antes de seguir para Roma.

Ao todo, o conjunto é formado por 14 músicos brasileiros — alguns deles em sua primeira viagem internacional — e 14 de outras sete nacionalidades: Coreia do Norte, Coreia do Sul, Irã, Israel, Palestina, Rússia e Ucrânia, protagonistas dos principais conflitos da atualidade ou de hostilidades perenes, como no caso da Península Coreana.

"Nossa expectativa é a melhor possível, ainda mais porque o Papa tem preconizado por demais o tema da paz, e esses músicos formam um projeto com o lema 'Na arte não há guerra'", disse à ANSA João Targino, idealizador e coordenador da Orquestra Criança Cidadã, que já se apresentou para o finado papa Francisco em 2014 e 2023.

"Vamos mostrar que a música é uma linguagem universal.

Se na arte houvesse guerra, um iraniano não tocaria ao lado de um israelense, ou um sul-coreano ao lado de um norte-coreano. Quando a guerra é deflagrada, é a humanidade que fica de joelhos, é a humanidade revelando o que há de mais bestial dentro de si", acrescentou.

Um dos músicos brasileiros envolvidos na iniciativa é o violoncelista Davi Alves, que entrou para a orquestra quando tinha seis para sete anos e hoje, aos 26, é professor dos jovens alunos que seguem seus passos no projeto. Ele também estava entre os que se apresentaram para o papa Francisco em 2014.

Orquestra Criança Cidadã se tornou referência em qualidade musical

"Eu me sinto muito privilegiado, abençoado, porque quem consegue esse feito de tocar para dois papas diferentes? Vou levar o nome do Brasil, do Recife e de Pernambuco para o mundo", declarou o violoncelista, que ainda tem gravados na memória os aplausos dados para os músicos brasileiros no Vaticano há 11 anos.

"Aquilo foi um divisor de águas na minha vida. Fui o primeiro da família a entrar em um avião, a ir para fora, então acho que também pode ser um divisor de águas para os jovens que estão começando. A música pode te levar para lugares que você não imaginava", salientou Davi.

Além do concerto para o papa Leão XIV, a orquestra se apresentará em Seul (30/9), no marco zero da bomba atômica em Hiroshima (4/10) — um sonho antigo de Targino —, no pavilhão do Brasil na Expo Osaka 2025 (5/10) e na Basílica de Santa Cruz em Jerusalém, em Roma (7/10).

O repertório foi definido pelo maestro José Renato Accioly e é dividido em duas partes. A primeira, chamada "Comunhão dos Povos", tem duetos de violinos que exibirão frente a frente músicos de países adversários em conflitos: um russo e um ucraniano, um da Coreia do Sul e outro do Norte e um iraniano e um israelense.

"Também fizemos uma composição especialmente para o projeto, a Rapsódia das Nações, que toca temas de todos os países em conflito, finalizando com um tema do Brasil, já que é da nossa tradição trabalhar pela paz", explicou Accioly.

A segunda parte do programa é dedicada à música latino-americana, incluindo uma composição de Camargo Guarnieri, um tango de Astor Piazzolla e um pot-pourri de bossa nova, choro e frevo, totalizando cerca de 1h20 de concerto. Já o bis conta com as canções "Por una cabeza", popular tango de Carlos Gardel, e "Aquarela do Brasil", de Ary Barroso.

"A gente sabe que um concerto ou uma turnê não vai trazer paz, mas pode chamar atenção para essa possibilidade e reforçar que na arte não há conflito. A gente pode estar lado a lado e fazer coisas belas para emocionar as pessoas", disse o maestro.