Finanças

Correios buscam solução para custo elevado de juros e necessidade de garantias para obter empréstimos de R$ 20 bilhões

Operação financeira de socorro à estatal que vive crise financeira depende de aval do Tesouro, que vê dificuldades para aprovar iniciativa

Agência O Globo - 13/11/2025
Correios buscam solução para custo elevado de juros e necessidade de garantias para obter empréstimos de R$ 20 bilhões
- Foto: Reprodução

Enfrentando uma crise financeira sem precedentes, os Correios vivem um impasse em torno do empréstimo de R$ 20 bilhões com aval da União que a empresa vê como essencial para fechar as contas em 2025 e 2026. Segundo técnicos da área econômica e de bancos envolvidos, as conversas enfrentam obstáculos como o custo elevado da taxa de juros ofertada pelos bancos privados e as garantias da estatal exigidas pelas instituições financeiras.

A empresa registrou um prejuízo acumulado de R$ 4,3 bilhões em 2025. Só no segundo trimestre, entre abril e junho, o resultado negativo atingiu R$ 2,6 bilhões, quase cinco vezes superior ao do período equivalente do ano anterior, de R$ 553,1 milhões. Procurada, a estatal não se manifestou.

Para sanar essa situação financeira, os Correios vêm desenhando uma operação de socorro que envolve um empréstimo de R$ 20 bilhões. O plano começou a ser cogitado em outubro, após a posse de Emmanoel Rondon na presidência dos Correios. As conversas envolvem os bancos BTG Pactual, Citibank e ABC Brasil, além da Caixa e do Banco do Brasil. Uma das alternativas discutidas é fatiar a transação entre as instituições financeiras — que têm pedido, em média, 136% do CDI para liberar os recursos. Procuradas, elas ainda não se manifestaram.

Diante da grave situação financeira, os Correios precisam da garantia da União para conseguir a liberação do dinheiro. Técnicos do Tesouro afirmam que o órgão só poderia garantir o empréstimo com uma avaliação da área de estatais sobre a solvência da empresa, algo difícil de ocorrer tecnicamente, já que a estatal está tendo dificuldades de pagar despesas correntes. Há um ceticismo de integrantes do governo e de agentes do mercado quanto à capacidade da empresa pública de executar um plano de reestruturação para cortar gastos e melhorar a eficiência.

A cúpula da Fazenda vem argumentando que, primeiro, é necessário ter estimativas mais concretas sobre o plano de reestruturação dos Correios. Nas negociações entre a estatal e os bancos, surgiu ainda um pleito para aval prévio do TCU à operação, segundo pessoas que acompanham as negociações. O pedido não chegou formalmente à Corte de Contas, mas três ministros ouvidos pelo GLOBO avaliam que dificilmente haveria o aval, diante do histórico de problemas da empresa pública.

Além disso, há duas representações em tramitação no TCU contra o empréstimo: do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e do procurador junto ao tribunal Marinus Marsico. Os pedidos devem ser apensados a uma auditoria em processo avançado, nas mãos do ministro Jorge Oliveira.

Situação se agrava

Enquanto o novo empréstimo aos Correios não é liberado, a situação financeira da estatal se agrava. Por conta de um descumprimento contratual em relação ao estoque de precatórios, os Correios tiveram de renegociar, em piores condições, o empréstimo de R$ 1,8 bilhão com o BTG, Citibank e Banco ABC Brasil. De partida, o aditivo prevê uma taxa extra ("waiver fee") de R$ 40,5 milhões para fazer os ajustes, cujo pagamento deve ser feito em duas parcelas, em 28 de novembro e 28 de dezembro. Os bancos, porém, podem reter os valores na conta garantia do contrato a partir do dia 15 de novembro.

O aditivo também antecipa a amortização do valor principal da dívida, de junho de 2026 para janeiro. Atualmente, a empresa só está quitando o montante relativo a juros. Esse custo aumentou a partir deste mês. Originalmente, a taxa cobrada era CDI (que se aproxima da Selic) + 3%. Em outubro, o adicional foi de 4% e, a partir de novembro, será de 5%, até que a empresa consiga um aporte da União ou um empréstimo com aval do Tesouro Nacional.

Programa de reestruturação

Segundo um interlocutor a par das discussões, o foco do plano de reestruturação é o fechamento de cerca de mil agências e unidades operacionais e programa de desligamento voluntário (PDV). O PDV tem meta de adesão de 6.348 funcionários e de movimentação se outros dez mil trabalhadores para áreas mais críticas. A meta é economizar R$ 830 milhões.

A nova gestão dos Correios faz a aposta na redução dos custos fixos da folha de pagamento composta por cerca de 80 mil empregados, dentre os quais 77 mil estão dedicados para manter as operações concorrenciais e a universalização do atendimento e da distribuição nos 5.570 municípios do país.

Segundo interlocutores do Ministério das Comunicações, já houve várias versões do plano de reestruturação e a final ainda não teria sido apresentada.

Outra possibilidade em avaliação de socorro à estatal seria um fundo imobiliário, desenhado pela Caixa, com os ativos dos Correios — são 2.366 imóveis avaliados em R$ 5,4 bilhões. Segundo técnicos do banco, no entanto, os dados exigidos para estruturar a operação estão demorando a chegar.