Finanças
Correios buscam solução para custo elevado de juros e necessidade de garantias para obter empréstimos de R$ 20 bilhões
Operação financeira de socorro à estatal que vive crise financeira depende de aval do Tesouro, que vê dificuldades para aprovar iniciativa
Enfrentando uma crise financeira sem precedentes, os Correios vivem um impasse em torno do empréstimo de R$ 20 bilhões com aval da União que a empresa vê como essencial para fechar as contas em 2025 e 2026. Segundo técnicos da área econômica e de bancos envolvidos, as conversas enfrentam obstáculos como o custo elevado da taxa de juros ofertada pelos bancos privados e as garantias da estatal exigidas pelas instituições financeiras.
A empresa registrou um prejuízo acumulado de R$ 4,3 bilhões em 2025. Só no segundo trimestre, entre abril e junho, o resultado negativo atingiu R$ 2,6 bilhões, quase cinco vezes superior ao do período equivalente do ano anterior, de R$ 553,1 milhões. Procurada, a estatal não se manifestou.
Para sanar essa situação financeira, os Correios vêm desenhando uma operação de socorro que envolve um empréstimo de R$ 20 bilhões. O plano começou a ser cogitado em outubro, após a posse de Emmanoel Rondon na presidência dos Correios. As conversas envolvem os bancos BTG Pactual, Citibank e ABC Brasil, além da Caixa e do Banco do Brasil. Uma das alternativas discutidas é fatiar a transação entre as instituições financeiras — que têm pedido, em média, 136% do CDI para liberar os recursos. Procuradas, elas ainda não se manifestaram.
Diante da grave situação financeira, os Correios precisam da garantia da União para conseguir a liberação do dinheiro. Técnicos do Tesouro afirmam que o órgão só poderia garantir o empréstimo com uma avaliação da área de estatais sobre a solvência da empresa, algo difícil de ocorrer tecnicamente, já que a estatal está tendo dificuldades de pagar despesas correntes. Há um ceticismo de integrantes do governo e de agentes do mercado quanto à capacidade da empresa pública de executar um plano de reestruturação para cortar gastos e melhorar a eficiência.
A cúpula da Fazenda vem argumentando que, primeiro, é necessário ter estimativas mais concretas sobre o plano de reestruturação dos Correios. Nas negociações entre a estatal e os bancos, surgiu ainda um pleito para aval prévio do TCU à operação, segundo pessoas que acompanham as negociações. O pedido não chegou formalmente à Corte de Contas, mas três ministros ouvidos pelo GLOBO avaliam que dificilmente haveria o aval, diante do histórico de problemas da empresa pública.
Além disso, há duas representações em tramitação no TCU contra o empréstimo: do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e do procurador junto ao tribunal Marinus Marsico. Os pedidos devem ser apensados a uma auditoria em processo avançado, nas mãos do ministro Jorge Oliveira.
Situação se agrava
Enquanto o novo empréstimo aos Correios não é liberado, a situação financeira da estatal se agrava. Por conta de um descumprimento contratual em relação ao estoque de precatórios, os Correios tiveram de renegociar, em piores condições, o empréstimo de R$ 1,8 bilhão com o BTG, Citibank e Banco ABC Brasil. De partida, o aditivo prevê uma taxa extra ("waiver fee") de R$ 40,5 milhões para fazer os ajustes, cujo pagamento deve ser feito em duas parcelas, em 28 de novembro e 28 de dezembro. Os bancos, porém, podem reter os valores na conta garantia do contrato a partir do dia 15 de novembro.
O aditivo também antecipa a amortização do valor principal da dívida, de junho de 2026 para janeiro. Atualmente, a empresa só está quitando o montante relativo a juros. Esse custo aumentou a partir deste mês. Originalmente, a taxa cobrada era CDI (que se aproxima da Selic) + 3%. Em outubro, o adicional foi de 4% e, a partir de novembro, será de 5%, até que a empresa consiga um aporte da União ou um empréstimo com aval do Tesouro Nacional.
Programa de reestruturação
Segundo um interlocutor a par das discussões, o foco do plano de reestruturação é o fechamento de cerca de mil agências e unidades operacionais e programa de desligamento voluntário (PDV). O PDV tem meta de adesão de 6.348 funcionários e de movimentação se outros dez mil trabalhadores para áreas mais críticas. A meta é economizar R$ 830 milhões.
A nova gestão dos Correios faz a aposta na redução dos custos fixos da folha de pagamento composta por cerca de 80 mil empregados, dentre os quais 77 mil estão dedicados para manter as operações concorrenciais e a universalização do atendimento e da distribuição nos 5.570 municípios do país.
Segundo interlocutores do Ministério das Comunicações, já houve várias versões do plano de reestruturação e a final ainda não teria sido apresentada.
Outra possibilidade em avaliação de socorro à estatal seria um fundo imobiliário, desenhado pela Caixa, com os ativos dos Correios — são 2.366 imóveis avaliados em R$ 5,4 bilhões. Segundo técnicos do banco, no entanto, os dados exigidos para estruturar a operação estão demorando a chegar.
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