A Caixa Econômica Federal decidiu adiar o lançamento de sua plataforma própria de apostas para evitar novos desgastes políticos. O banco planejava anunciar o serviço ainda este ano, visando iniciar as operações em 2026, com expectativa de arrecadar R$ 2,5 bilhões. No entanto, o projeto passou a ser alvo de críticas de parlamentares da oposição.

A Secretaria de Comunicação Social (Secom) da Presidência da República orientou o banco a priorizar outras iniciativas, como o programa de reforma de moradias, que conta com R$ 40 bilhões e tem forte apelo eleitoral.

Novas prioridades

Outra medida em estudo é a criação de uma linha de crédito voltada para motoboys, desenvolvida em parceria com o Palácio do Planalto e o Ministério do Trabalho. "A bet não é prioridade neste momento. Há outras entregas, inclusive medidas voltadas para a área ambiental", afirmou um integrante do governo. A Caixa planeja divulgar novas ações durante a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 (COP30), que ocorre neste mês, em Belém.

Reação de Lula

Durante viagem à Ásia, no fim de outubro, o presidente Lula demonstrou irritação com as críticas da oposição ao governo e afirmou que cobraria esclarecimentos do banco público. Após retornar ao Brasil, Lula conversou com o presidente da Caixa, Carlos Vieira.

Procurada, a assessoria da Caixa informou que o banco não irá se manifestar sobre o tema.

Nos bastidores, a Caixa segue defendendo o projeto, argumentando que boa parte das apostas ocorre em sites estrangeiros, sem autorização para operar no país e sem recolher impostos.

Segundo técnicos do banco, o objetivo é ingressar nesse mercado. A proposta já recebeu aval do Ministério da Fazenda, embora a análise tenha se restringido a aspectos formais e técnicos, sem considerar o mérito político.

O banco alega ainda que a arrecadação das loterias caiu 50% após a popularização das bets, o que reduziu as receitas do governo, já que 48% da arrecadação bruta das loterias é repassada aos cofres públicos.

Histórico do projeto

A intenção da Caixa era lançar a plataforma de apostas no primeiro semestre de 2024, mas o plano foi adiado à espera da regulamentação do Ministério da Fazenda, que prevê medidas para combater apostas ilegais e garantir maior segurança aos apostadores.

Em entrevista concedida em 16 de outubro, o presidente da Caixa confirmou o plano e manifestou expectativa de lançar o serviço até o fim de novembro. "É um mercado novo, e a Caixa é um entrante. Queremos ser um player importante", afirmou, ao ser questionado sobre a concorrência das apostas eletrônicas com as loterias tradicionais do banco.

O presidente Lula, por sua vez, tem reforçado a necessidade de aumentar as alíquotas de impostos sobre as casas de apostas. O governo atua no Congresso para ampliar a taxação das bets e das fintechs.