Finanças

Após pressão de Lula, Caixa suspende lançamento de plataforma de apostas

Banco previa lançar serviço de apostas ainda este ano, mas presidente se irritou com repercussão e orientou foco em programas sociais

Agência O Globo - 05/11/2025
Após pressão de Lula, Caixa suspende lançamento de plataforma de apostas
- Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

A Caixa Econômica Federal decidiu adiar o lançamento de sua plataforma própria de apostas, atendendo a uma orientação do Palácio do Planalto para evitar desgastes ao governo. O banco pretendia anunciar o novo serviço ainda este ano, com expectativa de iniciar as operações em 2026 e arrecadar cerca de R$ 2,5 bilhões.

No entanto, o projeto passou a ser alvo de críticas de parlamentares da oposição. A Secretaria de Comunicação Social (Secom) da Presidência da República recomendou que a Caixa priorize outras iniciativas, como o programa de reforma de moradias, que conta com R$ 40 bilhões em recursos e tem forte apelo eleitoral.

Outra ação em estudo é a criação de uma linha de crédito para motoboys, em parceria com o Palácio do Planalto e o Ministério do Trabalho. “A bet não é prioridade neste momento, há outras entregas, inclusive medidas voltadas para a área ambiental”, afirmou um integrante do governo. O banco planeja divulgar novas ações durante a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2025 (COP30), que será realizada em Belém neste mês.

Irritação de Lula

Durante viagem à Ásia no fim de outubro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva demonstrou irritação com as críticas da oposição ao governo e afirmou que cobraria esclarecimentos da Caixa. Após retornar ao Brasil, Lula e o presidente do banco, Carlos Vieira, conversaram sobre o tema.

Procurada, a assessoria de imprensa da Caixa informou que o banco não irá se manifestar oficialmente sobre o assunto.

Apesar da suspensão, a Caixa segue defendendo o projeto internamente. Um dos argumentos é que grande parte das apostas no Brasil ocorre em sites estrangeiros, sem autorização para operar e sem pagamento de impostos no país.

Segundo técnicos do banco, o objetivo é disputar espaço nesse mercado. O projeto já foi aprovado pelo Ministério da Fazenda, mas a análise se restringiu aos aspectos formais e técnicos, sem considerar questões políticas.

A Caixa também destaca que a arrecadação das loterias caiu 50% após a popularização das bets. Com isso, o próprio governo perdeu receitas, já que 48% da arrecadação bruta das loterias é destinada aos cofres públicos.

Plano adiado desde 2024

A intenção inicial era lançar a plataforma de apostas no primeiro semestre de 2024, mas o plano foi postergado devido à necessidade de regulamentação pelo Ministério da Fazenda, que busca combater as bets ilegais e garantir segurança aos apostadores.

Em entrevista ao jornal O Globo, publicada em 16 de outubro, o presidente da Caixa confirmou o projeto e manifestou expectativa de lançá-lo até o fim de novembro. “É um mercado novo, e a Caixa é um entrante. Queremos ser um player importante”, declarou, ao comentar a concorrência das apostas eletrônicas com as loterias tradicionais do banco.

Lula, por sua vez, tem defendido o aumento das alíquotas de impostos sobre casas de apostas. O governo articula no Congresso Nacional para ampliar a taxação das bets e fintechs.